Talentos agora são alvo de disputa internacional no mercado de trabalho
A escassez de mão de obra no Estado tem levado empresas a contratar estrangeiros e buscar alternativas como refugiados e detentos

A escassez de mão de obra já tem criado cenários de disputa internacional por profissionais. No Estado, há empresas que, por não encontrarem brasileiros, estão contratando estrangeiros para as funções.
Nacionalmente, o Brasil teve, em 2024, saldo positivo de 71 mil vagas ocupadas por estrangeiros, mostrando que o País começa a seguir uma tendência global encabeçada por China e Rússia. Esses países têm estreitado relações com outros de alta natalidade para preencher vagas de emprego de menor qualificação.
Além disso, a China também tem ampliado esforços para atrair mão de obra qualificada ao criar o visto K, que facilita a entrada de jovens estrangeiros formados em Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas & Logística no Estado (Transcares), Luiz Alberto Teixeira, explica que o Brasil está inserido em uma disputa pela mão de obra de países menores da América Latina, mas que a concorrência também ocorre entre os estados brasileiros.
“Estamos avaliando até pagar passagem aérea para trazer estrangeiros porque muitos venezuelanos, bolivianos e colombianos acabam se concentrando nos estados do norte do País”, disse.
A venezuelana Imiry Del Valle Lemus Marin veio ao Espírito Santo buscar melhores condições de vida. Há seis anos no Brasil, ela trabalha como assistente financeiro da Kora Saúde/Rede Meridional, em Vitória. “Muitos venezuelanos estão buscando uma vida melhor no Brasil, que tem nos acolhido muito bem”.
Outro caso recente é do italiano Antonio Ferraro. Casado com uma brasileira que conheceu em Milão, ele atua como consultor de vinhos no Extrabom. “Quando cheguei, o mercado estava engatinhando. Hoje, já há um público mais exigente e o cargo que ocupo está valorizado”, contou.
Em Aracruz, a Recanto Construtora contratou seis venezuelanos. Três deles – Stefany Árias, Michele Naveira Gonzales e Alberto Enrique Aria Sánches – falaram positivamente sobre a vinda ao Estado e sobre a cidade.
“O objetivo da contratação dos imigrantes é suprir a demanda crescente por profissionais qualificados e comprometidos, diante da escassez de mão de obra local”, afirma o diretor de obra da empresa, Fernando Barcelos Júnior.
Para o supermercadista José Henrique Neffa, adotar programas voltados à contratação de refugiados e imigrantes deve virar tendência, como na Europa e nos EUA.
Imigrantes e detentos viram alternativa
Para driblar a escassez de mão de obra, empresas no Estado tem focado cada vez mais em imigrantes e até mesmo em detentos.
No caso dos imigrantes, estudo do Instituto Jones dos Santos Neves (ISJN) mostrou que 102.402 pessoas saíram de outros estados brasileiros para morar no Espírito Santo.
O Espírito Santo, inclusive, é o sétimo estado que mais recebeu pessoas de outros entes da União nos últimos anos, conforme dados do IBGE. A maior parte dos trabalhadores que migraram recentemente para o Estado é oriunda de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo.
Para suprir a falta de mão de obra no mercado de trabalho, em setores a exemplo do comércio varejista, presidiários do regime semiaberto são qualificados para ganharem oportunidades de trabalho.
O Programa de Ressocialização da Secretaria da Justiça (Sejus) inclui a oferta da educação formal, qualificação profissional e trabalho.
Atualmente, 5.423 detentos exercem atividade laborativa dentro e fora das unidades prisionais, direcionados para diversas áreas. São cerca de 300 instituições conveniadas à Sejus para oferta de mão de obra. Uma das instituições que atuam com oferta de qualificação é o Senac.
Os detentos trabalham por meio de convênios com as redes supermercadistas, em funções como ajudante de açougueiro, repositor, embalador, auxiliar de depósito, carga e descarga, e ajudante de padaria.
Uma das empresas participantes é o Extrabom. Segundo o diretor-presidente do Grupo Coutinho, Luiz Coutinho, a parceria com a Sejus representa um caminho possível para suprir a demanda por mão de obra, além de ter impacto social.
Além disso, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) firmou uma parceria com o Exército Brasileiro, com o objetivo de recrutar jovens que concluíram o serviço militar obrigatório.
A proposta inclui o mapeamento de perfis e a oferta de oportunidades com possibilidade de desenvolvimento profissional.
O setor também aposta na diversificação da força de trabalho, buscando pessoas com mais de 60 anos.
Análise: “Legislação precisa acompanhar mudanças”

“Até pouco tempo, o vínculo celetista era a forma mais comum de contratação e ter a carteira assinada era um desejo geral.
Porém, a sociedade mudou, os meios de produção evoluíram, a tecnologia avançou significativamente, impactando todas as áreas da sociedade, inclusive as relações de trabalho.
É necessário que a legislação acompanhe esse movimento. A reforma trabalhista de 2017 trouxe avanços, mas, ao que parece, a sociedade anseia por regras mais flexíveis.
O ideal é que as partes envolvidas avaliem, entre os modelos legalmente previstos, aquele que melhor se encaixa à sua realidade. O profissional deve avaliar o que faz mais sentido para sua realidade atual.
O importante é que as partes conheçam bem seus direitos e deveres, para que possam avaliar com consciência suas oportunidades.
Trazer segurança jurídica para esse cenário é imprescindível. É preciso ter em mente que modernizar não é sinônimo de perder direitos, mas de adaptação, de acompanhar os desejos da sociedade, privilegiando a autonomia da vontade e permitindo que todas as partes colham os frutos das inovações e do crescimento econômico e social.
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