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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

O acordo de paz no Oriente Médio

Acordo entre Israel e Hamas gera esperança, mas desafios políticos e logísticos ainda exigem cautela

José Vicente de Sá Pimentel, Colunista de A Tribuna | 13/10/2025, 12:51 h | Atualizado em 13/10/2025, 12:51

Imagem ilustrativa da imagem O acordo de paz no Oriente Médio
José Vicente de Sá Pimentel, nascido em Vitória, é embaixador aposentado |  Foto: Divulgação

As relações internacionais festejam o acordo de paz entre Israel e o Hamas, que deverá permitir a troca de reféns e o retorno dos palestinos à faixa de Gaza. Foi, sem dúvida, um golaço da diplomacia americana, e de Donald Trump, em particular. Não se pode minimizar a relevância da interrupção do morticínio que nos revolta o estômago e a consciência dia após dia, há meses.

Não se trata, pelo menos ainda, de uma paz total. Até por isso, certos líderes mundiais deveriam ser mais parcimoniosos nas exclamações e elogios ao presidente americano. De tão exagerados, os louvores de Starmer, Macron e Merz fazem lembrar a Geni, de Chico Buarque, recebendo o prefeito de joelhos, o bispo de olhos vermelhos e o banqueiro com um milhão. Fez melhor o Itamaraty, ao saudar, na quinta-feira última, o anúncio do acordo e reconhecer, com sobriedade e justeza, “o importante papel dos EUA e dos demais países mediadores, Catar, Egito e Turquia”.

Na substância, o plano atual não difere tanto do negociado por Joe Biden. Os esforços atuais foram beneficiados por um elemento fundamental dos jogos políticos, qual seja uma conjunção de forças favorável. Pelo menos quatro fatores, talvez cinco, favoreceram um cessar-fogo agora:

1) Nos EUA, a oposição à desumanidade das forças armadas israelenses alcança uma intensidade nunca vista, o que contagia a opinião pública no interior de Israel e provoca manifestações cada vez mais intensas em Tel Aviv. Nesse contexto, a volta dos reféns capturados pelo Hamas pode gerar um fato político auspicioso para Netanyahu, inclusive com vista às eleições de outubro de 2026.

2) O ataque israelense ao Catar, em 9 de setembro, foi uma dessas lambanças que embaraçam um governo, sobretudo o de Netanyahu, que faz da eficiência militar a sua raison d'être. O ataque da inteligência israelense destinado a matar dirigentes do Hamas em Doha foi malsucedido e causou protestos unânimes dos países do Golfo Árabe e das Nações Unidas. Recentemente presenteado pelo Emir Thamin Al-Thani com um avião de 400 milhões de dólares, Trump acabou censurando Netanyahu, embora tivesse dado o sinal verde para a operação, segundo alguns.

3) O Egito obteve o apoio dos demais países árabes para o seu plano de reconstrução, orçado em mais de 50 bilhões de dólares, que evitaria deslocar os palestinos de Gaza, em contraste com a mirabolante “Riviera do Oriente Médio” de Trump.

4) O presidente turco Recep Tayyip Erdogan também tem interesse em participar das negociações de paz e da reconstrução de Gaza, e utilizou sua influência junto à liderança do Hamas para assegurar a viabilidade da primeira fase do plano de paz.

Um quinto fator que teria facilitado o comprometimento dos EUA com o acordo seria a veleidade de Trump de ser galardoado com o Prêmio Nobel da Paz. Por essa razão, o acordo foi fechado em 9 de outubro, véspera do anúncio do prêmio, pelo Comitê Nobel Norueguês.

As negociações prosseguirão amanhã, no balneário egípcio de Sharm El Sheikh, à margem da assinatura do tratado de paz, com a anunciada participação de Trump. O mundo torce para que as partes em conflito encontrem suficientes incentivos para cumprir as etapas do novo plano, ainda que os melhores analistas internacionais apontem pelo menos quatro áreas perigosas, que demandarão cuidado extra:

1) A logística das trocas de reféns e prisioneiros precisará ser impecável, para não degenerar num estouro da boiada.

2) A deposição das armas pelo Hamas é outro movimento de gestão complicadíssima.

3) A retirada do exército israelense será por fases. A supervisão desses movimentos será uma tarefa logística e politicamente hercúlea, dados os previsíveis choques entre Netanyahu e os generais da ultradireita israelense.

4) Quem cuidará da gestão administrativa e financeira? A Autoridade Palestina e o Hamas acomodarão a sua rivalidade?

O certo é que respeitar o calendário exigirá determinação, paciência, flexibilidade e alguma sorte. Por isso, cumpre acrescentar um quinto fator de vulnerabilidade do acordo. Um dia, apenas um dia depois do anúncio, Trump teve um piti e aumentou em 100 por cento as tarifas para importações da China. Como um homem de tal forma imprevisível poderá levar a bom termo a presidência da “Junta da Paz”, responsável pela supervisão do acordo?

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