Instagramização e cashback a clientes: o que pode mudar no comércio no futuro
Lojas apostam em experiências e integração digital para atrair clientes

Diante do avanço do comércio eletrônico e das mudanças no comportamento de consumo, as lojas físicas estão sendo obrigadas a se reinventar para continuar atraindo clientes.
O ambiente que antes se limitava à exposição e venda de produtos agora precisa oferecer experiências diferenciadas que estimulem a visita presencial e criem vínculos mais fortes com o público.
Em bares e restaurantes, ambientes e drinques “instagramáveis” estão entre os atrativos.

“É preciso acompanhar o mercado e suas transformações, antecipando-se às novidades. Buscar referências fora do Estado e do País, e adaptá-las à realidade e à cultura do público local”, destacou Pedro Paulo Moyses empresário e sócio do Grupo 21Vinte7, que administra diferentes empreendimentos na Grande Vitória.
Ele disse também que é essencial acompanhar as tendências, incorporando a alta coquetelaria e a alta gastronomia, com um toque de sofisticação e requinte, para que o público perceba o valor do que é oferecido. Isso envolve também a atenção à arquitetura, à decoração e à criação de ambientes modernos e de qualidade.
A presença digital, seja através de bebidas e ambientes que incentivem o compartilhamento de fotos, ou de outras formas de interação, tornou-se crucial, avaliou o presidente do Sindicato dos Restaurantes Bares do Estado (Sindbares-ES), Rodrigo Vervloet.
“Os clientes apreciam novidades e tendências, o que impulsiona o uso estratégico das redes sociais para fortalecer as campanhas de marketing. As empresas têm reconhecido essa importância e direcionado seus esforços para otimizar sua presença on-line”, disse.
As lojas têm utilizado estratégias como pequenos eventos e lançamentos de coleções, além de programas de cashback, para atrair e fidelizar o consumidor a loja física, segundo Glenda Amaral, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio (Sindilojas) de Vila Velha.
Os programas de cashback, que devolvem parte do valor gasto ao consumidor funcionam como incentivo para novas compras.
Além disso, lojistas têm investido em pequenos eventos temáticos, como workshops, desfiles, palestras e encontros exclusivos, transformando o espaço físico em um ponto de convivência e interação.
O superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), Hélio Schneider, avaliou que no setor supermercadista tem hoje em torno de 13 modelos de negócios, como os tradicionais, atacarejos, hipermercados, minimercados, mercearias, express, delivery, entre outros, visando atender cada perfil de público em cada região das cidades.
“O principal é procurarmos atender todos os consumidores, cada um com suas particularidades”, afirmou.
Ambiente instagramável
Espaços projetados para ser visualmente atraente e, assim, incentivar os consumidores a tirar fotos e compartilhá-las nas redes sociais, funcionando como uma forma de marketing espontâneo e orgânico para o negócio.
Para criar um, é preciso apostar em design criativo, cores vibrantes, iluminação adequada, detalhes encantadores, murais artísticos, balanços e outros elementos interativos que promovam uma experiência única e compartilhável.
Em bares, o conceito visual de drinks pode ser feito para que incentivem os consumidores a fotografá-los e publicar nas redes sociais.
Eventos e promoções
Organização de eventos na loja física e oferta de promoções especiais para novos clientes ou clientes fiéis, criando um senso de exclusividade.
Integração de canais
Atendimento on-line e retirada na loja (Click and Collect), ou integração da experiência física com canais digitais, como o site e redes sociais da loja.
Personalização
Oferta de produtos e recomendações que se adequem às compras anteriores do cliente, conseguindo criar uma conexão que seja cada vez mais forte e também valiosa.
Programas de recompensa
Utilização de sistemas de pontos, de cashback, descontos exclusivos ou vouchers para incentivar compras recorrentes e aumentar fidelidade e frequência.
Fidelização
Para fidelizar o consumidor em lojas físicas, crie uma experiência de compra memorável focada em um bom atendimento, um ambiente acolhedor e estratégias como programas de recompensa e personalização de produtos. Adotar uma estratégia que integre o físico e o digital também é essencial para atender às expectativas do cliente moderno.
Entre as principais estratégias adotadas estão os programas de cashback, investimento em pequenos eventos temáticos, como workshops, desfiles, palestras e encontros exclusivos, transformando o espaço físico em um ponto de convivência e interação.
E-commerce é o laboratório da inovação digital
O comércio eletrônico brasileiro tornou-se um verdadeiro laboratório de inovação em experiência do cliente, por ser um ambiente dinâmico que permite a experimentação e o rápido lançamento de novas tecnologias e modelos de negócio para aprimorar a experiência do cliente, aumentar a eficiência e impulsionar o crescimento das empresas.
As micro e pequenas empresas, por exemplo, viram suas vendas pela internet crescerem cerca de 1.200% entre 2019 e 2024, saltando de R$ 5 bilhões para R$ 67 bilhões em faturamento. Além disso, o e-commerce no Brasil movimentou R$ 225 bilhões ao todo em 2024, um aumento de 14,6 % sobre o ano, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento.
“O varejo segue se transformando numa aceleração sem precedentes. Não se trata mais de escolher entre digital ou físico, mas de criar ecossistemas integrados que coloquem o cliente no centro de cada decisão”, avaliou o especialista Kenneth Corrêa.
Vendedores treinam IA para atendimento
Diversas empresas vêm usando seus melhores vendedores para treinar a IA generativa no WhatsApp a fim de aumentar suas vendas e diminuir custos.
Os “vendedores virtuais” têm a capacidade de atender inúmeros clientes ao mesmo tempo, respondem em segundos, estão integrados ao estoque da companhia, trazem o histórico de compras do consumidor e não recebem comissão. Custam entre um quinto e um décimo do custo de um vendedor real.
Mas agora todo o processo começa a ser feito por robôs treinados para interagirem com clientes até a conclusão do processo, o que envolve apresentação de fotos, vídeos, indicação de modelos, sugestões de consumo, descrição de tamanhos, preços e condições de pagamento.
Análise
“As lojas físicas precisam se reinventar”

“O avanço do comércio eletrônico deixou de ser mera alternativa de consumo e tornou-se símbolo de uma nova etapa do capitalismo, onde a chamada 'destruição criativa', descrita por Joseph Schumpeter, remodela o espaço de circulação das mercadorias.
As lojas físicas, pressionadas por custos fixos e margens cada vez mais estreitas, precisam reinventar-se: integrar canais digitais, oferecer experiências únicas e, em alguns casos, usar o e-commerce como porta de entrada para atrair clientes ao espaço físico.
A redução da margem de lucro pode ser um recurso tático, mas não é solução estrutural. O desafio central é sobreviver num ambiente em que a concorrência deixou de ser apenas local para se tornar global, exigindo não só eficiência, mas também uma redefinição do papel do ponto de venda na dinâmica do capital contemporâneo”.
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