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Setembro Amarelo e as conversas que salvam

Companhia precisa ir além da conscientização e reforçar acolhimento contínuo para prevenir o suicídio

Joseana Sousa | 26/09/2025, 12:47 h | Atualizado em 26/09/2025, 12:47

Imagem ilustrativa da imagem Setembro Amarelo e as conversas que salvam
Joseana Sousa é psicanalista e especialista em comportamento humano. |  Foto: Divulgação

Setembro Amarelo é mais do que um mês de alerta. É um convite coletivo para olharmos mais de perto as histórias que muitas vezes passam despercebidas. Aquelas que se formam no silêncio, na dor escondida, nos pequenos gestos que gritam, mas sem voz. Recentemente, um estudo do INPD/CISM apontou que, desde a adoção da campanha Setembro Amarelo no Brasil, as taxas de suicídio têm crescido, não como culpa da campanha, mas como sinal de que só falar pode não estar sendo suficiente.

O estudo do INPD/CISM detectou ainda que, a partir de 2015, com o início das ações de conscientização, houve uma aceleração na curva de suicídios. Ou seja: os casos não caíram; aumentaram. Uns podem argumentar que é efeito de maior notificação, mas não basta. Porque vidas estão em risco.

Falar é essencial, mas precisamos ir além: questionar como estamos falando, para quem e com que suporte emocional. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano no mundo. No Brasil, são cerca de 14 mil casos anuais, uma média de 38 vidas perdidas por dia, e a taxa entre homens chega a 12,6% por 100 mil, mais que o dobro da registrada entre mulheres (5,4% por 100 mil). Esses números, que continuam a subir mesmo após anos de mobilização, mostram que a mensagem ainda não alcançou a profundidade necessária.

O suicídio é quase sempre um processo. Ele se constrói com momentos de desamparo, de vergonha, de isolamento. Fatores como dívidas, traições, alcoolismo e comparação social – que vem sendo intensificada pela tecnologia - tornam-se agravantes. A sensação de não ser levado a sério, de não ter saída, de não ser visto em sua dor pesa mais do que se imagina. E para muitos, há uma crença de que pedir ajuda sinaliza fraqueza. Isso impede diálogos necessários.

O papel de quem trabalha com saúde mental, e de cada pessoa que convive com alguém vulnerável, é reparar em certos sinais como mudanças de humor abruptas, fala recorrente sobre morte ou sensação de vazio, isolamento, abandonos de hábitos, descuido com a higiene, insônia, apetite alterados, fatores genéticos e sociais. Ver um gesto, uma mudança, perguntar sem medo. Escutar sem julgamento. Acolher sem pressa.

É preciso que as campanhas de conscientização se transformem: falem menos em medo e mais em sobrevivência; menos em estatísticas e mais em histórias que inspirem esperança; menos em alertas genéricos e mais em redes de apoio acessíveis, verdadeiras, humanas.

Setembro Amarelo precisa ser muito mais que conscientização limitada a um mês. Deve ser ponto de partida para uma cultura de cuidado contínuo. Para que cada ato de compaixão se torne rotina: perguntar “como vai?” sem pressa e sem superficialidade, oferecer escuta, mostrar que não há vergonha em se sentir mal, mas há força em ser vulnerável.

Porque se vidas importam, o cuidado não pode esperar. Se quisermos realmente mudar a tendência, precisamos agir. Com acolhimento, honestidade e presença.

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