Estresse pode desencadear arritmia, afirma médico
Doença que altera o ritmo cardíaco fazendo o coração bater muito devagar, rápido demais ou de forma irregular, tem crescido

Entre 1,5% a 5% da população pode ter arritmia – doença que altera o ritmo cardíaco, fazendo o coração bater muito devagar, rápido demais ou de forma irregular. A doença, mais comum em pessoas mais idosas, tem crescido, fator que pode estar relacionado com o aumento da expectativa de vida.
Além disso, o estresse pode ser um fator que aumenta a liberação de substâncias que aceleram a frequência cardíaca, alerta o médico arritmologista Fabricio Vassallo, responsável pelo Centro Avançado de Arritmias Cardíacas do Hospital Santa Rita.
“Também pode levar a agravamento de doenças cardiovasculares e alteração do sono”.
Estudo realizado no Brasil apontou ainda que entre 2014 e 2024, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 728 mil internações relacionadas a arritmias, com mortalidade em torno de 11,6%. A fibrilação atrial, a mais frequente delas, cresce de forma exponencial com a idade, alcançando até 14% da população acima dos 80 anos.
No Espírito Santo, dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) mostram que de 2019 a junho deste ano foram 1.142 mortes por arritmia e 1.046 internações pela doença.
A Tribuna - O que são arritmias cardíacas?
Fabricio Vassallo - São alterações na formação ou condução do impulso elétrico do coração, que resultam em batimentos muito rápidos, muito lentos ou irregulares. Em condições normais, o coração bate de 60 a 100 vezes por minuto em ritmo regular. Quando há falhas no sistema elétrico cardíaco, o ritmo pode se tornar irregular, comprometendo a função de bombeamento de sangue.
Pode citar alguns tipos de arritmias cardíacas?
Entre as taquiarritmias – com batimentos acelerados maior do que 110 –, temos a fibrilação atrial (FA), que desorganiza o ritmo nos átrios e é a arritmia mais comum e aumenta o risco de AVC em até cinco vezes.
Temos a taquicardia supraventricular (TSV), que se origina nos ventrículos e pode causar palpitações súbitas. Neste grupo, há ainda a fibrilação ventricular (FV), que se apresenta pela atividade elétrica caótica nos ventrículos, situação de emergência que leva à morte súbita se não tratada. Entre as bradiarritmias – batimento lento, menor do que 60 –, temos a sinusal, com ritmo mais lento que o normal; e os bloqueios atrioventriculares (BAV), que levam ao atraso ou interrupção na condução elétrica entre átrios e ventrículos, podendo causar desmaios.
Quando elas acontecem?
Elas ocorrem por múltiplos fatores, entre eles doenças cardíacas estruturais, como infarto prévio, insuficiência cardíaca, cardiomiopatias, valvopatias. Por condições sistêmicas, como hipertensão, diabetes, doenças da tireoide, apneia do sono. Nesse cenário de gatilhos, entram o consumo excessivo de álcool, cafeína, drogas ilícitas e alguns medicamentos.
Há síndromes genéticas que também podem desencadear as arritmias. Vale ressaltar que, em muitos casos, especialmente em jovens saudáveis, arritmias benignas podem aparecer sem doença estrutural associada.
Como podemos identificá-las?
Os sintomas variam de palpitações, tontura, desmaio, fadiga, falta de ar, dor no peito e até parada cardíaca súbita. Exames como eletrocardiograma, holter 24h, teste ergométrico e estudo eletrofisiológico são alternativas para diagnosticar a doença. Dos casos atendidos no setor de hemodinâmica do Hospital Santa Rita, os de arritmia cardíaca chegam a totalizar até 40% da demanda.
No caso de arritmias benignas, quais seriam os sinais e como diferenciá-las das arritmias graves?
Temos que ter cuidado ao designar uma arritmia como benigna. Eventualmente, arritmias que são ditas como benignas podem levar a alterações cardíacas. A diferenciação pode ser por sintomas como aceleramento anormal dos batimentos ou desmaios que podem indicar uma arritmia que necessita de avaliação. Quem deve diagnosticar é o especialista.
Ela pode aparecer de forma silenciosa e só ser descoberta em exames de rotina?
Alguns tipos de arritmias podem passar de forma despercebida e, muitas vezes, o primeiro diagnóstico pode ser em um exame físico durante consulta de rotina.
É normal com a idade desenvolver a doença? Como evitá-la?
Sim. Com a idade, algumas arritmias ficam mais comuns. Principalmente, a fibrilação atrial, que é a arritmia sustentada, aquela arritmia que começa e permanece, mais comum. A forma de evitar é manter bons hábitos de vida. Atividade física, evitar tabagismo e álcool e manter boa alimentação. Além disso, a rotina de exames é importante, principalmente, para evitar complicações dessas doenças.
Fique por dentro
As arritmias cardíacas são alterações no ritmo do coração que podem ser benignas ou fatais.
O tratamento depende do tipo de arritmia, da gravidade e da presença de doença cardíaca associada. Medidas como controle de peso, da hipertensão, da apneia do sono, redução do consumo de bebidas alcoólicas e de drogas estimulantes ajudam na prevenção e no tratamento.
Há situações em que é recomendado o uso de medicamentos e outros em que se torna necessária a intervenção cirúrgica, como a cardioversão elétrica, ablação por cateter, implante de marca-passo e de cardiodesfibrilador.
Quando a doença se apresenta de forma ainda mais grave, o tratamento imediato é a ressuscitação cardiopulmonar com desfibrilação elétrica.
Susto
Arritmia após excesso de energético e álcool

No começo do ano, o ator e modelo Rafael Zulu, 42, revelou que desenvolveu fibrilação atrial, uma arritmia cardíaca, após ingerir mais de dois litros de energético misturado com álcool. O ator contou que ao final daquele dia sentiu palpitações.
“Fiquei internado quatro dias, tomando medicação e sendo monitorado por causa dessa fibrilação atrial. Foi um susto! Mas agora tô bem!”, contou nas redes sociais.
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