Insônia já é epidemia e 291 mil no ES só dormem com remédios
Estimativa é feita com base em dados do IBGE. Segundo especialistas, a insônia está entre os principais distúrbios do sono, afetando 72% da população

Há quase 30 anos, a agente de combate às endemias, Odineia Curcio, 66, sofre de insônia. Na época, com o fim de seu casamento, ela passou a ter problemas para dormir. Desde então, busca ter uma longa noite de sono – com qualidade. Até agora, o máximo que a agente consegue dormir são cinco horas por noite, com ajuda de medicamentos.
Odineia faz parte dos 46% dos brasileiros que têm queixa de insônia. O problema já é visto pelos médicos como uma “nova epidemia” de saúde. Por ser tão grave, a estimativa, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é que 291 mil pessoas no Espírito Santo recorrem a medicamentos para conseguir adormecer.
“Os distúrbios do sono são considerados uma epidemia silenciosa, e a insônia é uma das grandes responsáveis por essa situação. A porcentagem de pessoas com transtorno do sono é muito alta, chega a 72% da população brasileira, segundo dados recentes da Fiocruz”, destaca a pneumologista e médica do sono Roberta Couto.
A médica analisa ainda que é muito comum que as pessoas se automediquem, como também há colegas que receitam medicamentos sem trabalhar o motivo da insônia. “Não é a medicação o melhor tratamento para insônia. Em alguns casos, a medicação tem espaço, mas nunca deve ser usada sem mudança de comportamento”.
“Em todos os guidelines (diretrizes) do mundo – americano, europeu e brasileiro – o melhor tratamento para insônia crônica é a terapia cognitiva-comportamental, que vai justamente trabalhar situações, hábitos e mentalidade que estão fazendo com que a pessoa não consiga dormir”, destaca Roberta.
O psiquiatra e médico do sono João Victor Valinho de Moraes salienta que pessoas com depressão ou ansiedade podem ter como sintoma a insônia, além de terem um risco muito maior de desenvolver um transtorno de insônia crônica.
“E, inversamente, quem tem insônia persistente ou transtorno de insônia crônica tem risco duas a três vezes maior de desenvolver depressão ou ansiedade no futuro”, alerta.
“É muito importante fazer o diagnóstico correto, pois várias pessoas que acreditam ter insônia podem ter uma qualidade de sono ruim por outros motivos, por exemplo, por privação de sono ou síndrome da apneia obstrutiva do sono”, esclarece João Victor.
Rotina de trabalho
Há sete anos a técnica de enfermagem Geni Souza Santos, de 43 anos, trabalha à noite e viu seu sono, com a rotina de trabalho, ser comprometido.
Com plantões de 24 horas, Geni conta que dorme, em média, quando trabalha à noite, apenas três horas de sono.
“Quando chego em casa ainda fico elétrica. Deito, mas o sono demora a chegar, e acordo várias vezes. Já fiz tratamento com medicação, mas estou tentando desmamar desse remédio, só que, às vezes, preciso tomá-lo. Fica insuportável, e acabo tendo de recorrer à medicação, porque, mesmo estando cansada de trabalhar, não consigo dormir bem”, conta.
Fique por dentro
Quem tem insônia?
46% da população se queixa de insônia. Considerando a população do Espírito Santo acima dos 18 anos, seriam 1.352.163 pessoas com queixa de insônia no Estado.
32% da população têm insônia diagnosticada.
Uso de remédios
291.009 é a estimativa de pessoas que usam remédio para dormir no Estado, com base no percentual do IBGE de 2013, considerando a população do Censo de 2022.
Naquele ano, a pesquisa revelou que, nas duas últimas semanas anteriores à entrevista, 9,9% da população acima dos 18 anos do Estado (269.332 na época) havia feito uso de medicamentos para dormir.
No Brasil, o percentual era de 7,6%, cerca de 11 milhões de pessoas.
Distúrbio no sono
Conheça os sinais
Insônia
Consiste na dificuldade em adormecer ou despertar várias vezes durante a noite, ou ainda acordar e não conseguir mais dormir, associado a prejuízos na funcionalidade diurna, isto é, dificuldade de memória, concentração, aumento da irritabilidade, fadiga, prejuízos sociais e laborais, sonolência diurna.
Pode se apresentar de forma passageira, durante apenas alguns dias, denominada de insônia aguda, associada a sintomas de estresse, ansiedade e mudanças de hábitos. Porém, se os sintomas ocorrem na frequência igual ou superior a três vezes por semana e durarem mais de três meses, considera-se um problema crônico, com impacto significativo na saúde.
O transtorno é mais comum em mulheres por influências hormonais, culturais e cotidianas, como quando é submetida ao excesso de multitarefas, o que a sobrecarrega física e emocionalmente e dificulta o relaxamento para uma boa noite de sono.
Principais causas da insônia
- Preocupação para dormir e depressão.
- Envelhecimento.
- Horários irregulares para dormir e acordar.
- Sexo, principalmente mulheres pós-menopausa.
- Má higiene do sono, como uso de telas a noite.
Quais as consequências para a saúde?
Psicológica
- Baixo raciocínio;
- Reação lenta;
- Depressão;
- Transtornos psiquiátricos;
- Problemas de memória.
Física
- Mau funcionamento do sistema imunológico;
- Aumento da obesidade;
- Hipertensão arterial;
- Risco de doenças do coração;
- Risco de diabetes.
Recomendações para quem tem dificuldade em iniciar e manter o sono
1. Não fique na cama se você não está sonolento.
2. Saia do quarto se estiver acordado na cama mais tempo do que gostaria.
3. Encontre um lugar silencioso para relaxar fora do dormitório e só retorne para a cama com sono.
4. Um banho morno, duas a três horas antes da hora de deitar, pode ser benéfico.
5. Identifique seu melhor ambiente e posição para dormir, investigando como você se sente mais confortável na cama. Exemplo: tente diferentes posições e travesseiros.
6. Evite cochilos prolongados durante o dia. Caso você tenha que descansar, limite o tempo em cerca de 30 minutos após o almoço.
7. Não permaneça muito tempo na cama acordado. Limitando seu tempo na cama, pode melhorar a qualidade do sono. Por exemplo, se você estiver dormindo sete horas, permaneça na cama sete horas e meia, e não nove, dez horas.
8. Se você tiver pés frios, use meias para dormir. Também evite discussões e argumentações no início da noite.
9. Se você se preocupa e fica com muitos pensamentos na hora que vai se deitar, use um bloco de notas para escrever seus compromissos e preocupações para desacelerar o cérebro na hora de dormir.
10. Tente terapias de relaxamento, como respiração profunda e meditação, técnicas essas que auxiliam muitas pessoas a iniciar e manter o sono.
Consulte seu médico caso sua vida esteja sendo prejudicada por falta de sono.
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