“É melhor medicar do que dormir mal”, afirma médica
Apesar de a terapia ser o padrão-ouro, há casos em que a medicação se torna necessária

Usar ou não remédio para dormir? Quando ele passa a ser fundamental? A pneumologista e médica do sono Jessica Polese explica que, apesar de o padrão-ouro para o tratamento da insônia ser a terapia cognitivo-comportamental (TCC), há casos em que o remédio deve ser utilizado.
“O importante é o bem-estar. Se temos um paciente que não consegue fazer a terapia, mudar hábitos ou fazer a reprogramação que deveria, medicamos. Porque é melhor medicar do que deixá-lo dormir mal”, destaca Jessica, que é a vice-presidente da Academia Brasileira do Sono - Regional Espírito Santo.
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A médica destaca que não dormir, além do sofrimento que causa, pode desencadear outros problemas, como obesidade, distúrbio psiquiátrico e aumento da pressão arterial.
“Há perda de saúde quando a pessoa dorme mal, não é só mau humor. Por isso é melhor que ele durma, mesmo sob efeito da medicação”.
Ainda assim, a especialista destaca que o intuito é que a medicação possa ser retirada do paciente. “Quando vemos que não será possível retirar, o que acontece frequentemente, tentamos substituir as drogas Z (zolpidem, por exemplo) por categorias mais seguras, como antidepressivos sedativos”.
A otorrinolaringologista Zuleika Barbosa, especialista em Medicina do Sono, chama atenção ainda para o fato de que, apesar das medicações para insônia exigirem prescrição em receituários especiais, com retenção pelas farmácias, a automedicação é uma prática frequente.
“Pacientes usam medicamentos indicados por amigos e familiares, sem uma correta avaliação médica especializada, com desejo de voltar a dormir, sem se darem conta dos riscos para a saúde que essa prática pode causar”, alerta.
Jessica Polese destaca, no entanto, que o sono é um comportamento que deve ser aprendido e, com a terapia cognitivo-comportamental (TCC), seria possível reajustá-lo, com medidas de higiene de sono.
“A ideia, com a TCC, é que a pessoa volte a dormir bem. Porém, isso ainda é bem difícil, porque o paciente tem de estar disposto a mudar hábitos, como largar as telas e organizar o ambiente”, explica a médica.
“Só Deus sabe o que passo vendo o dia raiar”, diz comerciante

Difusores, barulho de chuva no celular e até leitura da Bíblia são alguns dos recursos que a comerciante Miriele Griffo, de 47 anos, adota todos os dias para tentar dormir. Ela conta que desde a infância enfrenta a insônia e utiliza produtos naturais, mas há quatro anos precisou entrar com medicação. “Quando eu era alcoólatra, mesmo bêbada, precisava do remédio para dormir”.
No ano passado, ela infartou e passou dois dias sem conseguir dormir. “Eu chorava pedindo ao médico para receitar o clonazepam. Só Deus sabe o que passo vendo o dia raiar, porque até com o remédio estou dormindo mal. Quero fazer terapia para ver se melhoro”, afirma.
Renda afeta noites de sono
Apesar de a insônia, segundo especialistas, não escolher classe social, pessoas com pouca renda podem ter o sono comprometido.
Fatores ambientais como baixo nível sócio-econômico e baixa escolaridade estão associados a uma maior prevalência de insônia, esclarece a otorrinolaringologista Zuleika Barbosa, especialista em Medicina do Sono.
“Percepções constantes de insegurança e preocupações financeiras ativam um estado de alerta crônico, aumentando doenças como ansiedade e depressão, fortemente correlacionadas à insônia”.
O psiquiatra e médico do sono João Victor Valinho de Moraes destaca ainda que o ambiente – morar em áreas mais barulhentas (trânsito, vizinhança densa) ou com violência urbana – influencia nos despertares noturnos.
“Além disso, a sensação de insegurança pode gerar vigilância noturna e insônia. Condições de trabalho, como múltiplos empregos, turnos noturnos e jornadas longas, mais comuns em populações de baixa renda, também prejudicam a qualidade do sono”.
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