Exposição mostra influência africana nas palavras
Instalações sonoras, símbolos e produções audiovisuais são alguns dos elementos que podem ser vistos na mostra em Vitória

O Brasil é um país multicultural, com uma mistura de costumes e tradições originárias de várias nacionalidades, e na língua não seria diferente.
A mostra “Línguas africanas que fazem o Brasil” destaca a influência de idiomas africanos no português falado no Brasil. A exposição, gratuita, pode ser visitada até o dia 14 de dezembro, no Palácio Anchieta.
“A palavra caçula, por exemplo. Se fosse traduzido do português de Portugal seria Benjamin. Mas a gente usa caçula por causa dessa origem africana. Outra que eu adoro é cochilar. Em Portugal seria ‘dormitar’. Aqui, graças à influência africana, virou cochilar, que é muito mais gostoso de falar”, comenta a diretora do Instituto Cultural Vale, Luciana Gondim.
Ela acrescenta que o público pode esperar muito mais do vocabulário e expressões para ressaltar a africanidade presente no Brasil.
“Essa exposição fala da presença africana, da ancestralidade da nossa cultura. E aí a gente fala da língua para além do verbal. Tem sim o vocabulário, as maneiras como a gente se expressa, mas também tem muito do não verbal, do que vem dos tambores, dos búzios. É uma exposição muito simbólica”.
Na exposição, produções audiovisuais, instalações sonoras, símbolos e búzios são alguns dos elementos que se encontram em um espaço de memória e celebração, conectando passado e presente, oralidade e escrita. “Assim, o resultado é uma experiência imersiva que reconhece e valoriza as heranças afrodiaspóricas em constante transformação”.
Recorde de público do Museu da Língua Portuguesa desde sua reabertura, com mais de 240 mil visitantes em São Paulo, ela chega a Vitória como uma iniciativa do Instituto Cultural Vale, do Museu Vale, com curadoria do músico e filósofo Tiganá Santana.
“Quem visita a exposição tem a sensação de estar inserido num dicionário muito mais próximo do nosso dia a dia do que a gente imagina. A ideia é que o público seja recebido por esse reconhecimento de que faz parte dessas presenças africanas no Brasil”.
A configuração do português falado no Brasil, seu vocabulário e a maneira de pronunciar as palavras têm influência profunda das línguas presentes na África Subsaariana, como o iorubá, eve-fon e as do grupo bantu. “Também mergulhamos nos Adinkras e nas suas presenças, inclusive na arquitetura brasileira”.
Práticas Religiosas
Cosmogramas

Nesta edição da exposição, o olhar se volta para o território capixaba, com a participação de três artistas: Castiel Vitorino (foto), Natan Dias e Jaíne Muniz, reforçando a identidade enraizada no Estado.
A artista, escritora e psicóloga Castiel Vitorino apresenta “Me basta mirarte para enamorarme otra vez”, um estudo sobre abstração caligráfica ligada a práticas religiosas de matriz africana.
“É uma série de desenhos que têm relação com os pontos riscados de umbanda, que são cosmogramas”, explicou.
Vocabulário
Palavras
Canjica: Do quimbundo kanjika, iguaria à base de milho comumente servida nos óbitos em Angola.
Cochilar: Do quimbundo koxila/kukoxila, “dormitar”.
Dendê: Do quimbundo ndende, “fruto da palmeira”.
Xingar: Do quimbundo xinga/ kuxinga, “insultar”.
Caçula: Do quimbundo kasula, “o último filho, o mais novo”.
Bunda: Do quimbundo mbunda, “glúteos, nádegas”.
Quitanda: Do quimbundo kitanda, “feira”.
Moleque: Do quimbundo muleke, “garoto”.
Maribondo: Do quimbundo madimbondo, “vespas”. Apesar de ser singular em português, em sua língua original é plural.
Quilombo: Do quimbundo kilombo, “acampamento, exército” e, em quicongo, significa “agrupamento de pessoas”.
Senzala: Do quimbundo sanzala, “aldeia”. No Brasil, foi o espaço onde os escravizados eram confinados.
Minhoca: Do quimbundo minyoka, “vermes, anelídeos”. Esta é mais uma palavra que, apesar de, em português, ser entendida como singular, em sua língua original é plural.
Cambada do quimbundo kamba (“amigo/amiga”) + sufixo português -ada (grupo), ou seja, grupo de amigos/amigas.
Serviço
Línguas africanas que fazem o Brasil - Itinerância Espírito Santo
- Quando: A exposição já está aberta e fica em cartaz até 14 de dezembro.
- Horário: Pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 8 horas às 18 horas, e sábados, domingos e feriados, das 9 horas às 16 horas.
- Local: No Palácio Anchieta, no centro de Vitória.
- Acessibilidade: Conta com recursos de acessibilidade como audiodescrição, Libras e acessibilidade motora.
- A mostra é aberta ao público.
Escolas
- As visitas educativas para escolas podem ser agendadas nos telefones: (27) 3636-1031 e (27) 3636-1032 ou pelo e-mail [email protected].
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