A lista de Epstein, parte 1
Trajetória de Jeffrey Epstein mistura luxo, crimes sexuais e poder político, mantendo atenção sobre Trump
A trajetória de Jeffrey Epstein reúne os ingredientes de um blockbuster hollywoodiano: ambientes luxuosos, mulheres bonitas, crimes sexuais, intrigas políticas, mortes a granel e dinheiro, muito dinheiro. Não à toa, o caso permanece em evidência desde a prisão e morte do personagem, em 2019. Nos últimos meses, a pressão se voltou contra Trump, que parece aturdido. Por mais que despache a Guarda Nacional para as ruas de Washington DC e improvise uma reunião com Putin, não consegue desviar o foco da opinião pública.
Epstein era um desses sujeitos de sorte que, talvez por conseguirem tudo tão fácil, acabam se dando mal. Nascido em 1953, de família modesta, abandona a universidade aos 20 anos. Logo é contratado por Donald Barr, diretor da Dalton School de Nova York, para dar aulas de matemática. Pouco depois, o pai de um dos alunos o leva ao banco de investimentos Bear Stearns, onde alcança status de diretor-associado, posição que perde em 1981, devido a irregularidades em empréstimo concedido a um membro de seu crescente círculo de amizades.
Nessa altura, Epstein conhece Steven Jude Hoffenberg, também corretor de investimentos. Os dois se tornam inseparáveis. Hoffenberg abre um escritório na Madison Avenue, em 1987, onde passa a funcionar a Epstein & Co, dedicada à “gestão das fortunas individual e familiar de clientes com mais de 1 bilhão de dólares”. Epstein começa então a amealhar uma fabulosa fortuna, processo interrompido em 1993, quando a polícia novaiorquina descobre que a empresa de Hoffenberg não passava de um esquema de Ponzi, ou pirâmide, e tudo vem abaixo.
O sócio se dá mal, mas Epstein continua bafejado pela sorte. Em 1991, conhece a filha do magnata da imprensa britânica Robert Maxwell, Ghislaine, com quem terá um longo e apimentado relacionamento. No mesmo ano, conhece também o dono da marca Victoria's Secret, Leslie Wexner, do qual se torna representante legal, com poderes para gerir suas empresas e fundações.
Em 1997, o bilionário Leon Black o nomeia administrador de uma associação filantrópica. Epstein compra sua própria ilha no paraíso fiscal das Ilhas Virgens, além de um Boeing 727, que empresta a personalidades como Bill Clinton e o ator Kevin Spacey. Mantém um perfil discreto, que cai bem na alta sociedade novaiorquina. Segundo a revista Vanity Fair, em dezembro daquele ano “toda Wall Street já ouviu falar dele, mas ninguém sabe o que faz”.
Ainda em 1997, Ghislaine Maxwell lhe apresenta o francês Jean-Luc Brunel, proprietário de uma agência de top models. Mais tarde, Epstein transferirá um milhão de dólares para Brunel abrir a agência de modelos MC2, na Florida.
A imprensa começa a se interessar por Ghislaine e pelas festas que promove, em que manequins e jovens russas passeiam entre celebridades, como o Príncipe Andrews e o empresário Donald Trump. Este declara ao New York Magazine, em fins de 2002: “conheço Jeff há 15 anos. É um tipo formidável, é muito agradável passar tempo com ele. Dizem que ele ama as belas mulheres tanto quanto eu, e várias delas são bastante jovens”.
Em 2008, a mãe de uma garota de 14 anos denuncia que a filha havia sido agredida sexualmente na residência que Epstein mantinha em Palm Beach, Florida. Denuncia também Haley Robson, estudante universitária local, acusada de aliciar jovens para fazer massagens em Epstein, complementadas com sexo. Um processo é instaurado, e o promotor Alexander Acosta aceita que Epstein se safe com uma sentença de 18 meses em regime semiaberto. Epstein é liberado em 2009.
Entretanto, como sói acontecer nesses casos, outras vítimas começam a entrar na justiça contra ele. Nesse enredo não falta a figura de um mordomo, de nome Alfredo Rodriguez, que fornece informações detalhadas sobre dezenas de meninas violentadas. Epstein reage com uma ofensiva de charme e filantropia, e doa mais de 20 milhões de dólares a instituições de caridade.
Em 2014, contudo, duas mulheres testemunham que Epstein e Ghislaine promoviam bacanais de que também participavam outros ricos clientes. Uma das denunciadoras, Virginia Giuffre, teria sido forçada a manter relações com um advogado de Epstein e com o Príncipe Andrew. Em abril de 2016, Katie Johnson declara em juízo que, aos 13 anos, fora molestada sexualmente por Donald Trump na mansão de Epstein. Johnson é uma de cerca de 25 mulheres que vão acusar Trump de avanços sexuais.
(Continua domingo que vem)
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