Mulheres adiam gravidez e clínicas têm óvulos congelados há 27 anos
Segundo especialistas, número de mulheres que buscam ajuda da medicina para adiar a gravidez cresce a cada dia
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Seja por escolha pessoal, por falta de tempo, por ausência de um parceiro ou simplesmente por não saberem se querem ser mães, é crescente o número de mulheres que optam por congelar seus óvulos ou embriões.
Em clínicas de fertilização no Estado, há casos de óvulos preservados por até 27 anos.
Um caso que chamou a atenção do mundo, nesta semana, foi de um bebê que nasceu no dia 26 de julho, a partir de um embrião gerado em 1994 e congelado até então. O caso aconteceu em Ohio, nos Estados Unidos.
A vice-diretora da Clínica Jules White, Vickie White, e a ginecologista especialista em reprodução assistida Cindy White revelaram que não há um limite de tempo para que óvulos, embriões ou sêmen sejam armazenados até que possam ser usados pelos pacientes.
“Na clínica, por exemplo, há óvulo congelado há 27 anos, mas nunca foi implantado”, revelou Vickie.
Ela destacou, no entanto, que já foram realizados outros procedimentos com embriões criopreservados na mesma ocasião, mas cujas crianças nasceram com 10 anos de diferença.
“Era um casal que tinha mais de um embrião congelado. Na primeira transferência, tiveram sucesso. O outro ficou congelado por anos. Depois de muito tempo, o casal resolveu transferir o outro”.

Cindy também revela que, nos últimos anos, as técnicas de congelamento de óvulos e embriões evoluíram muito, aumentando as chances de sobrevivência e de sucesso significativamente.
“Hoje usamos a técnica de vitrificação — método de congelamento ultrarrápido, que chega em dois segundos à temperatura de -196°C. Isso permite uma taxa de sobrevivência de embriões de até 99%”.
“Muitas mulheres têm congelados os óvulo por chegar aos 35 anos sem saber se querem ser mães Vickie White, vice-diretora da Clínica Jules White
O ginecologista Ronney Vianna Guimarães revelou que, na Unifert, há óvulos congelados desde 2001, ou seja, há 24 anos.
“Não sabemos se essa paciente vai voltar para usar esses óvulos, mas eles podem ser usados assim ela quiser”.
Ele ressaltou que o ideal é que a mulher realize a coleta e o congelamento de óvulos entre 20 e 30 anos de idade, que é o melhor momento da fertilidade. “Aos 40 anos, a fertilidade da mulher cai pela metade. Quanto mais jovem melhor”.
Opinião

Entrou para a história
Bebê mais velho
Um bebê nascido no último 26 de julho, nos Estados Unidos, entrou para a história ao ter sido gerado a partir de um embrião congelado em 1994 — portanto, há 31 anos.
O embrião havia sido criado por Linda Archerd durante um tratamento de fertilização in vitro. Após o nascimento de uma filha, ela manteve os embriões restantes congelados e, anos depois, optou pela doação.
O casal Lindsey e Tim Pierce, que tentavam ter filhos há sete anos, foram os receptores. Dois embriões foram implantados em novembro de 2024. Um deles se desenvolveu e resultou no nascimento do bebê. “Não entramos pensando que quebraríamos recordes. Só queríamos ter um bebê”, contou Lindsey.
Tire suas dúvidas
1 Como é feito o congelamento de óvulos ou de embriões?
Podem ser congelados hoje não só óvulos e embriões, como também sêmen. Eles são armazenados em nitrogênio líquido, a -196 °C.
O objetivo das técnicas é preservar a fertilidade e aumentar a probabilidade de uma gravidez futura.
2 Quem pode congelar?
Qualquer mulher em idade fértil pode congelar seus óvulos. Quanto mais jovem, maior a probabilidade de óvulos em maior quantidade e qualidade para fazer o congelamento.
Casais ou pessoas que desejam produção independente podem congelar embriões (óvulo + espermatozoide fecundados).
3 Qual a idade ideal para congelar?
De forma geral, o ideal para mulheres que querem adiar a gravidez ou que ainda não decidiram se querem ter filhos no futuro é congelar antes dos 35 anos, quando os óvulos têm maior quantidade e qualidade.
A partir dos 35 anos, há queda acentuada da fertilidade, mais importante ainda a partir dos 38 anos.

4 Quanto custa?
o Procedimento de coleta e congelamento de óvulos custa entre R$ 20 mil e R$ 22 mil. Além disso, existe um custo para manutenção do material congelado, pago anualmente. Para congelar embriões é, em média,
R$ 30 mil, sem análise genética.
5 Qual a diferença entre congelar óvulo e embrião?
O Óvulo congelado pertence somente à mulher, já que se trata de uma célula feminina.
Ela pode usar futuramente com esperma de um parceiro ou doador. Nesse caso, a taxa de sobrevivência varia entre 70% e 80%.
Já o Embrião congelado por um casal já foi fecundado. Qualquer decisão futura precisa do consentimento dos dois. Nesse caso, o embrião congelado tem uma taxa de sobrevivência de mais de 95%, já que ele já passou por algumas etapas, se desenvolveu entre 5 a 7 dias e tem entre 100 e 125 células.
6 Como é a coleta de óvulos?
A mulher passa por estimulação hormonal para estimular crescimento dos folículos. Após alguns dias, os óvulos são retirados por punção, em procedimento cirúrgico rápido e com sedação.
7 Quais são as técnicas de congelamento?
As técnicas de congelamento melhoraram ultimamente. Antes, era usada uma técnica de congelamento lento. Hoje, a técnica é chamada de vitrificação, feita com congelamento ultrarrápido em nitrogênio líquido (em 2 segundos chega a -196°C). Isso aumenta a chance de sobrevivência dos óvulos e embriões.
8 Por que as mulheres congelam óvulos?
A técnica é buscada tanto por mulheres que optam por adiar a maternidade por motivos profissionais, por não terem encontrado ainda um parceiro ou ainda por não terem a certeza se querem ser mães, mas desejam preservar a opção.
Há casos também de pessoas em tratamento oncológico ou antes de cirurgias de endometriose.
9 Por quanto tempo o material pode ficar congelado?
Não há um limite legal. Tecnicamente, pode durar décadas. Já há bebês nascidos a partir de embriões congelados há mais de 30 anos. Em algumas clínicas, há material preservado há quase três décadas.
10 E se a mulher ou o casal não quiser mais usar o material?
O óvulo pode ser descartado com autorização da mulher. O embrião exige autorização do casal. Em caso de abandono (sem pagamento e sem retorno), a clínica não pode descartar sem decisão legal.
Uma outra possibilidade é a doação. No caso do óvulo, pode ser doado para familiar de até 4º grau. Já o embrião pode ser doado de forma anônima, de forma voluntária e sem fins lucrativos.
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