Ampliação do comércio: como vencer o desafio de contratar?
Obstáculos apontados pelo estudo incluem a comunicação interna e a saúde mental dos colaboradores
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Com a abertura de 6 mil empregos nos próximos 12 meses, as cerca de 1.500 novas lojas que serão abertas no Espírito Santo enfrentarão o desafio de preencher vagas em um cenário de escassez de mão de obra qualificada.
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O Relatório de Tendências em Gestão de Pessoas, produzido pelo Ecossistema Great People & Great Place to Work (GPTW), indica que a contratação de profissionais com alguma qualificação será um dos maiores desafios das empresas capixabas neste ano.
Outros obstáculos apontados pelo estudo incluem a comunicação interna e a saúde mental dos colaboradores. O Espírito Santo foi o único estado brasileiro a registrar dificuldade para encontrar mão de obra qualificada entre os três quesitos avaliados pelo relatório.
Cerca de 70% das empresas que adotam o regime presencial relataram dificuldades para preencher vagas em aberto, percentual superior aos 53% das que trabalham no modelo híbrido e 38% das que operam remotamente.
Diante dessa realidade, as empresas devem buscar oferecer diferenciais para atrair profissionais, segundo a diretora da Center RH, Eliana Machado.
“É fundamental focar em benefícios como carga horária flexível, bônus salariais e ações que promovam qualidade de vida aos colaboradores”, afirmou.
O mentor de carreiras Elias Gomes ressalta que o maior desafio é atrair candidatos qualificados em um mercado de trabalho que está em transformação.
“Muitos profissionais, especialmente das novas gerações, valorizam mais do que estabilidade: buscam propósito, um ambiente saudável e oportunidades de desenvolvimento. Isso exige do comércio uma mudança na forma de contratar, capacitar e engajar talentos”, destacou.
Além disso, Gomes lembra que a rotatividade no varejo é historicamente elevada.
“O baixo investimento em treinamento, planos de carreira e cultura organizacional pode levar ao rápido esvaziamento das equipes, mesmo após grandes processos de contratação”.
Estratégias
No setor comercial, a maioria das vagas exige trabalho presencial, o que limita o modelo remoto. Contudo, as empresas podem adotar estratégias para aumentar a flexibilidade, como escalas equilibradas, jornadas parciais, folgas alternadas e a promoção de ambientes de trabalho mais acolhedores.
Crescimento das vendas
Com base nos resultados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), espera-se que a movimentação financeira do varejo no Espírito Santo, em junho, se aproxime de R$ 6,98 bilhões.
Esse resultado previsto representa um crescimento de 8,23% em comparação ao mesmo mês de 2024. A estimativa do Connect Fecomércio-ES (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo) é que as vendas, em março, tenham chegado a R$ 7,2 bilhões, uma alta de 7,44% em relação ao mesmo período do ano passado.
Já em abril e maio, a movimentação estimada foi na faixa de R$ 7 bilhões, ambos os meses com crescimento em relação a 2024.
O comércio varejista capixaba tem se destacado, neste ano, frente às atividades de 2024, e registrou o maior crescimento entre os estados do Sudeste – seguido por Minas Gerais (1,8%), São Paulo (0,2%) e Rio de Janeiro (-2,7%) –, superando ainda a média brasileira nas atividades do setor, no primeiro semestre deste ano.
De janeiro a março, as vendas do varejo aumentaram 3,9% em comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto a média do Sudeste ficou em 0,8% e a do Brasil, em 1,2%. Ao analisar só o mês de março de 2025 e 2024, o Estado teve alta de 1,2% no volume de vendas, enquanto o País e a região Sudeste apresentaram quedas (1% e 1,8%, respectivamente).
O coordenador de pesquisa do Observatório do Comércio, o Connect Fecomércio-ES, André Spalenza, ressaltou que, quando comparado o crescimento acumulado dos últimos 12 meses, a partir de março, o Espírito Santo apresentou um crescimento de 2%, o Brasil, de 3,1%, e o Sudeste, 1,65%.
Empresários mais confiantes no setor

O Índice de Confiança dos Empresários do Comércio (Icec) no Estado registrou alta de 2% em maio, na comparação com o mês anterior. O indicador revelou boas expectativas para os próximos meses, como a elevação na intenção de investir nos negócios, nos estoques e em contratações.
O nível de confiança no Espírito Santo (99,1 pontos) está próximo da linha do otimismo (acima de 100 pontos). Além disso, o índice é um dos maiores registrados entre os estados da região Sudeste, ficando acima da média regional.
Rio de Janeiro alcançou 93,9 pontos, enquanto Minas Gerais chegou a 99 e São Paulo, 99,4 pontos. Já a média brasileira ficou em 100,8 pontos.
As análises são de levantamento do Connect Fecomércio-ES (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo), com informações da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Para o coordenador de pesquisa do Connect Fecomércio-ES, André Spalenza, o avanço na comparação mensal sinaliza uma reversão de tendência frente aos desafios do cenário econômico.
“Esse movimento de alta revela que os empresários capixabas estão mais confiantes para os próximos meses, reagindo a expectativas de melhora no consumo e maior estabilidade nas condições de crédito”, ressaltou Spalenza.
Para o coordenador, o empresário capixaba tem demonstrado capacidade de adaptação e resiliência frente aos desafios econômicos.
SAIBA MAIS
Dificuldade com mão de obra
As empresas no Estado enfrentam desafios para a contratação de profissionais qualificados, conforme o Relatório de Tendências em Gestão de Pessoas, produzido pelo Ecossistema Great People & GPTW.
O cenário exige que as empresas adotem estratégias de atração e retenção de talentos. Isso inclui a oferta de experiências diferenciadas, promoção da diversidade e inclusão, e criação de estratégias que vão além dos salários competitivos.
Remuneração atrativa
O salário é um dos principais itens utilizados pelas organizações para atrair e reter bons profissionais. Por isso, os empregadores devem se esforçar para oferecer à sua força de trabalho valores, no mínimo, compatíveis com o praticado pelo mercado.
as empresas podem ser criativas ao oferecer flexibilidade dentro do possível, seja por meio de escalas mais equilibradas, jornadas parciais ou folgas alternadas.
Desenvolver a liderança
Investir no desenvolvimento de liderança é crucial para o crescimento contínuo da empresa. Identificar e cultivar líderes eficazes é desafiador, especialmente em um ambiente em constante mudança.
Plano de carreira
Certamente, elaborar e tornar explícito o plano de crescimento dentro da empresa é um diferencial estratégico. Ao mostrar caminhos claros de progressão, com metas factíveis e apoio contínuo, o contratante transmite seriedade e visão de longo prazo, algo que valoriza o colaborador como parte do futuro da empresa.
Muitas vezes, o varejo é visto como um “bico” ou uma “porta de entrada”. Reverter essa visão passa por criar experiências consistentes de crescimento, que comecem já no processo seletivo e se estendam por toda a jornada do colaborador.
Fonte: Eliana Machado e Elias Gomes.
ANÁLISE
“Reflexo de um cenário favorável”

“A expectativa de abertura de mais 1.500 novas lojas no Espírito Santo, nos próximos 12 meses, reflete um cenário econômico favorável e um aumento da confiança do empresariado.
O Estado apresenta um dos menores índices de desemprego do País – cerca de 4,1% –, com aumento real da renda e expansão do consumo das famílias.
Além disso, indicadores como o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) e a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) têm mostrado resultados acima da média nacional. O acesso ao crédito, a estabilidade no emprego e datas sazonais com forte apelo comercial contribuem para esse ambiente positivo.
Além disso, há incentivos fiscais e segurança jurídica local, que atraem grandes redes e estimulam investimentos. O Estado hoje reúne fundamentos sólidos que justificam esse novo ciclo de expansão do varejo.”
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