O corpo fala
Ignorar os sinais do corpo pode silenciar sintomas — mas cobra um preço alto no equilíbrio entre mente, saúde e bem-estar
O corpo fala, mais que isso, ele grita, discute, tem horas que a gente não aguenta mais, não encontra mais argumento, tem que dar um jeito de mandá-lo calar a boca. Mas calar o corpo precisa do comando certo e tem um preço. Um analgésico para calar a dor, um tranquilizante pode calar o medo e o hipnótico certo para calar a insônia. Aí o corpo fica mudo e não comunica suas aflições. A dor de cabeça pode virar um AVC, a ansiedade acaba em pânico, e a insônia, como todos os problemas crônicos, termina em dependência química.
Anos seguidos de Valium, Rivotril e Zolpidem deprimem o humor, aumentam a ansiedade e agravam terrivelmente a insônia que pretendiam tratar.
O que fazer? Na teoria a solução é simples, basta conseguir controlar os próprios pensamentos. Nossa mente é soberana, se o conteúdo do pensamento é tranquilo, é fácil pegar no sono, lembrar de pequenos detalhes e lidar com imprevistos.
Valter Franco já tinha resumido isso na belíssima canção “Coração Tranquilo”:
“Tudo é uma questão de manter / A mente quieta / A espinha ereta / E o coração tranquilo.”
Mas como manter a mente quieta? É diferente para cada um, a linguagem do corpo dá uma pista de onde a gente tem que procurar as rédeas da nossa mente.
Nem sempre é fácil ouvir, quando se ouve não é fácil entender, e, quando se consegue ouvir e entender, também não é fácil decidir qual a melhor forma de agir a partir dessas novas informações.
O corpo fala, nem sempre vale a pena mandá-lo se calar. O corpo fala, você pode ouvir e ficar desesperado com as demandas dele, uma dor no peito logo parece um infarto.
O corpo fala, você pode fingir que nem está ouvindo e continuar fazendo tudo do mesmo jeito, a conta vai acabar chegando mais cedo.
O corpo fala pelos cotovelos e pelos joelhos, na envelhescência o corpo é um tagarela que não para de falar.
Quando a gente descobre a linguagem do corpo, o melhor é tentar dialogar com ele.
Hoje eu acordei e antes de ir dar uma corrida na praia, perguntei à minha panturrilha se estava tudo bem com ela.
“Tudo bem”, ela respondeu. “Estou numa boa”.
“Mas você não vai a lugar nenhum!”. Interviu a coluna lombar, se metendo na conversa.
Eu permaneci calmo, melhor levantar e tomar um café, depois fica mais fácil negociar com a turma toda de uma vez só. Hoje eles acabaram permitindo um mergulho e uma nadada no mar, mas eu tive que prometer que não iria fazer nada que causasse muito impacto.
Amanhã tem outra negociação.
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