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Saúde

Uso de fentanil em festas, baladas e raves tem aumentado

Médicos alertam para riscos da droga, que pode ser 50 vezes mais viciante que a heroína


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Imagem ilustrativa da imagem Uso de fentanil em festas, baladas e raves tem aumentado
Ampolas de Fentanil apreendidas pela polícia no ano passado. Droga já está presente em festas e raves no Estado |  Foto: Douglas Schneider / AT - 23/02/2023

Uma realidade preocupante, como alertam médicos ouvidos pela reportagem: tem aumentado a presença do fentanil em festas, baladas e raves.

Janine Andrade Moscon, médica psiquiatra, por exemplo, disse que a tendência é de aumentar devido aos efeitos rápidos e intensos: euforia e prazer intenso, seguido de sedação importante.

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“Esse aumento do uso de fentanil como droga de abuso é muito grave devido à sua capacidade de causar dependência de forma rápida gerando quadros graves e potencialmente fatais”.

Ela diz que o fentanil pode ser usado sozinho ou misturado a outras substâncias como a cocaína e benzodiazepínicos que são os calmantes usados habitualmente.

“O speedball ou powerball é uma mistura de algum opioide (no caso o fentanil) com cocaína e às vezes também com os benzodiazepínicos. Trata-se de uma bomba para o cérebro, pois mistura substâncias que reduzem o funcionamento cerebral com outras que aumentam esse funcionamento”.

Ela comparou: “É como se apertássemos o interruptor para acender e apagar a luz ao mesmo tempo. Dá um curto circuito no cérebro e as reações em cada pessoa são imprevisíveis e potencialmente fatais”.

Pablo Braga Gusman, anestesiologista e clínico da dor, também lembra que se misturado com outras drogas sintéticas, o fentanil pode ser 50 vezes mais viciante que a heroína e 100 vezes mais forte do que a morfina.

“Assim há maior vício e necessidade de uso contínuo. Em contrapartida, aumenta o risco de intoxicação e morte por overdose”.

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"É importante destacar que, quando bem indicado, o uso do fentanil tem excelente resultado no tratamento da dor aguda e crônica em pacientes hospilizados”, afirma Pablo Braga Gusman, anestesiologista e clínico da dor |  Foto: Fábio Nunes / AT

Sobre a apreensão da última terça-feira (27), a maior do Estado, o tenente Everton Moraes Concha, do 1º Batalhão da Polícia Militar, explicou que não é possível afirmar qual era o destino do fentanil, mas ele deduz que seriam transportados para um local de embalo, ou seja, seriam misturados com outras drogas, como a cocaína.

A médica Letícia Mameri, membro da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo, afirma que o fentanil potencializa outras drogas.

Quatro mortes confirmadas no Estado

Do ano passado até agora, quatro mortes foram confirmadas no Estado com a presença do fentanil no organismo das vítimas.

Todas são de profissionais de saúde. Junto com o fentanil, foram encontradas outras substâncias, como antidepressivos.

No dia 23 de setembro do ano passado, a reportagem de A Tribuna já havia publicado uma reportagem confirmando duas dessas mortes.

Já no dia 31 de janeiro deste ano, outra reportagem trazia a informação de que três mortes de profissionais de saúde estavam sendo investigadas.

Nesta quarta-feira (28), a diretora do Instituto de Laboratórios de Análises Forenses, Caline Destefani, que é perita oficial criminal da Polícia Científica, atualizou os dados, sendo duas em 2023 e duas neste ano.

Ela explicou que as análises feitas mostram a presença do fentanil no organismo dessas pessoas. No entanto, não dá para garantir que somente ela foi a causadora da morte, pois havia a presença de outras substâncias nas amostras.

Paralelo a isso, a direção do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) informou que no ano passado foram registrados dois casos de abuso por uso de fentanil no Espírito Santo.

Este ano, até o momento, foi registrada apenas uma notificação de intoxicação pela substância por uso terapêutico. Não há registros de óbitos na Ciatox.

Furto

Ainda em janeiro deste ano, ampolas de opioide sintético fentanil foram furtadas do Hospital da Associação dos Funcionários Públicos do Espírito Santo, em Vitória.

A denúncia foi feita pelo próprio hospital, que identificou a falta de mais de 400 ampolas do seu estoque, sem prescrição de retirada.

O caso foi investigado pela Polícia Federal. Um técnico de enfermagem de 29 anos foi preso.

Estados Unidos e Canadá têm epidemia do vício

O uso do fentanil tem se transformado em um problema mundial, desencadeando uma crise conhecida como “epidemia dos opioides”.

Nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, o uso tem sido tão frequente que ultrapassa mais de 500 mil mortos nos últimos 20 anos.

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de doenças dos EUA (CDC), somente em 2021, foram cerca de 106 mil mortes por overdose em geral no país. Destas, aproximadamente 71 mil (67%) foram associadas ao fentanil.

Em 2022, o número subiu e o país bateu recorde de óbitos por uso excessivo de drogas, totalizando 109.680, número que não para de crescer.

Em fevereiro deste ano, as autoridades de Portland, a maior cidade do estado do Oregon (EUA), declararam estado de emergência por 90 dias, em uma tentativa de conter o impacto do fentanil na cidade.

No México, o consumo atual de fentanil é mais prevalente ao longo das rotas de transporte com destino aos EUA, especialmente nas regiões de fronteira. Isso ocorre porque os cartéis mexicanos frequentemente deixam pequenas quantidades de drogas pelo caminho para criar mercados locais, cobrem custos operacionais e pagam relatórios em espécie.

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