Piloto que ficou sem andar passa por tratamento inédito: “Voltei a ter esperança”
Capixaba que perdeu movimentos após sofrer acidente de moto faz tratamento inédito e diz já sentir formigamento nos pés
Certo de que teve uma segunda chance de vida, o piloto capixaba Luiz Fernando do Nascimento Mozer, de 37 anos, que perdeu os movimentos das pernas em um grave acidente de motocross, encara agora a recuperação com fé e esperança.
Luiz Fernando – que teve uma lesão medular completa, considerada grave e irreversível, após um acidente no dia 7 de dezembro, em Vargem Alta – conseguiu na Justiça o direito de receber um tratamento inédito: a polilaminina, substância aplicada no último sábado.
Proteína extraída da placenta humana, o medicamento ainda é experimental, fruto de 25 anos de pesquisa liderada por Tatiana Coelho de Sampaio, professora doutora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório Cristália.
Em casa desde a última segunda-feira (15), em Iconha, no Sul do Estado, ele se recupera de uma cirurgia de grande porte na coluna, realizada no último dia 11.
Apesar do cansaço e das dores, ele relata estar confiante com o tratamento experimental que recebeu. “Estou bem esperançoso. Vou fazer de tudo para dar certo. Acredito que não tem erro”.
Luiz Fernando explica que a medicação não atua diretamente no alívio da dor, mas na possibilidade de recuperação de movimentos e sensações.
Desde a aplicação, ele relata que passou a perceber sinais sutis, porém animadores. Entre eles, impulsos semelhantes a choques elétricos, sensação de frio nas pernas, formigamento mais intenso ao toque e até dores nos pés — algo que não sentia antes.
Segundo ele, essas sensações ocorrem inclusive quando alguém toca seus pés sem que ele esteja olhando, o que reforça sua confiança de que o corpo começa a responder ao estímulo.
Apesar da evolução inicial, o processo de recuperação é considerado gradual. “Não existe um momento certo. A equipe que me acompanha acha que eu estou até bem adiantado. A minha esperança é que isso não demore e que, logo, logo, eu volte a recuperar os movimentos e volte a andar”.
Na próxima segunda-feira (22), ele começa uma nova fase no Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (Crefes), em Vila Velha.
Luiz Fernando do Nascimento Mozer, piloto
“Espero dar entrevista de pé”
A Tribuna - Você se lembra do acidente?
Luiz Fernando do Nascimento Mozer - Lembro de tudo. Fui para a corrida, larguei em primeiro lugar e liderei boa parte da prova. Depois fui ultrapassado e fiquei em segundo, mantendo a posição. Quando recebi a placa da última volta, fiz um salto e vi a sombra de uma moto no ar à minha frente.
O que aconteceu em seguida?
Senti uma pancada muito forte nas costas. Acredito que, se perdi a consciência, foi por poucos segundos. Logo acordei já sendo socorrido, colocado na maca, sentindo muita dor nas costas e sem sentir as pernas. Lembro da ambulância, do pessoal pedindo para eu não dormir, da retirada do capacete, do corte da roupa para tirar os equipamentos.
Já tinha sofrido algum acidente grave antes?
Nunca. Pratico motocross há mais de 10 anos e nunca quebrei nem um dedo.
O motocross fazia parte da sua rotina?
Era um hobby de fim de semana, com amigos de longa data. A gente se reunia para se divertir, conversar e viajar.
Pensa em voltar a pilotar?
Não. Foi um trauma muito grande, não só para mim, mas para a minha família. Não quero ver ninguém passar pelo que a gente está passando. Tenho moto de rua também e nunca tinha me acidentado, mas agora não pretendo mais usar moto, nem para trabalhar.
Acredita que sobreviveu por um milagre?
Com certeza. A lesão foi tão grave que ficou próxima de romper a artéria aorta. Se no socorro tivesse qualquer movimento a mais, eu teria ficado ali mesmo.
Como será a partir de agora?
Na segunda-feira, vou continuar o tratamento, porém no Crefes (Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo).
Em algum momento achou que tivesse perdido a batalha?
Em nenhum momento. A minha irmã (a enfermeira Carla do Nascimento Mozer) nunca deixou de me dar esperança e batalhou muito para conseguir esse tratamento (polilaminina).
A minha noiva Patrícia Rosa, que mora em Alfredo Chaves, não saiu do meu lado desde o acidente. Ela vai me acompanhar em mais esta etapa (Crefes). Ainda não sei por quanto tempo ficarei lá.
Vocês pensam em casamento?
Sim, quero oficializar a nossa união. Eu falei para Patrícia que, se Deus quiser, eu carrego ela no colo no casamento.
Como imagina o futuro?
Sei que tenho um longo processo pela frente, mas espero que possa voltar a andar o quanto antes, dar uma entrevista de pé. Sei que, para Deus, nada é impossível.
Saiba mais
O que é a polilaminina?
É um medicamento inédito e inovador desenvolvido no Brasil a partir da proteína laminina, extraída da placenta humana.
O fármaco é resultado de 25 anos de pesquisa liderada pela professora doutora Tatiana Coelho de Sampaio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório Cristália.
Os primeiros testes foram realizados em animais e mostraram efeitos animadores.
Em ratos, os primeiros sinais começaram a aparecer em 24 horas e a recuperação em cerca de oito semanas; em cães houve diferentes níveis de recuperação do movimento das patas.
Nos estudos clínicos iniciais em humanos, oito voluntários receberam a medicação até três dias após a lesão. O efeito foi visto como muito promissor.
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