O que muda no exame do câncer que mata 7 mil mulheres por ano
Papanicolau foi, por décadas, a principal ferramenta contra o câncer de colo do útero e começa a ser trocado por teste molecular

O papanicolau, exame que há décadas é a principal ferramenta contra o câncer de colo do útero, começa a ser substituído no Brasil. O Ministério da Saúde está iniciando a oferta, pelo SUS, do teste de biologia molecular DNA-HPV.
O vírus HPV é a principal causa do câncer do colo do útero, terceiro tipo mais incidente em mulheres. São 17.010 casos novos estimados por ano no País, e cerca de 7 mil mortes.
Segundo a pasta, o teste molecular será oferecido, inicialmente, em 12 estados, que não incluem o Espírito Santo. A oferta será gradativa, com previsão de estar em todos os estados até o fim de 2026.
Produzido pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, ligado à Fiocruz, o teste molecular de DNA-HPV substituirá o exame citopatológico papanicolau, que passará a ser realizado apenas para confirmação de casos em que o teste DNA-HPV der positivo.
A nova tecnologia detecta 14 genótipos do papilomavírus humano (HPV), identificando a presença do vírus no organismo antes da ocorrência de lesões ou câncer em estágios iniciais.
A ginecologista Kariny Tófoli explicou que 99% dos casos de câncer de colo de útero são causados pelo vírus HPV. “Esse teste identifica o tipo do vírus. Alguns deles são considerados de alto risco oncogênico, o que significa que têm mais chances de gerar alteração na célula e levar a um câncer”.
A ginecologista e obstetra Anna Bimbato frisou que o papanicolau é um exame que verifica se as células estão saudáveis, inflamadas ou com mudanças suspeitas.
“Ele não identifica a presença do vírus, somente as alterações causadas pela infecção do HPV anos após o contágio”.
Já o teste molecular de DNA-HPV, ela destacou, serve para detectar a presença do vírus que pode causar o câncer. “Permite a identificação dos genótipos de alto risco, como HPV 16 e 18 – associados a cerca de 70% das lesões precursoras do câncer de colo do útero. A eficácia, por isso, é maior”.
A oncologista do Hospital Santa Rita Camila Cezana ressaltou que o teste molecular de DNA-HPV é mais sensível, pois detecta diretamente o DNA do HPV nos tecidos do colo uterino.
“O teste molecular é uma importante ferramenta para a detecção cada vez mais precoce desse tipo de tumor”.
Espírito Santo já faz teste que detecta 28 tipos de HPV

De forma paralela ao teste molecular, o Laboratório Central de Saúde Pública do Espírito Santo (Lacen-ES) já tem em andamento um projeto-piloto com tecnologia que detecta a presença de 28 tipos do papilomavírus humano (HPV).
O diretor-geral do Lacen-ES, Rodrigo Rodrigues, explicou que o teste molecular começou a ser estudado no Espírito Santo em 2023, após análise dos dados de mortalidade do câncer de colo de útero.
Ele explicou que o estado capixaba, apesar de ter a 7ª melhor cobertura de panicolau no País, tem a maior taxa de mortalidade do Sudeste, com média de 5,12 mortes em 100 mil habitantes – a taxa do Brasil é de 4,51.
“Temos uma cobertura ampla, e a maioria das nossas mulheres teve acesso e fez esse exame. Mas a taxa de mortalidade é abaixo da média nacional. Isso nos causou estranheza, principalmente ao ver que os números eram ainda mais preocupantes no Sul e Norte do Estado”.
Diante disso, o Lacen foi pioneiro, preparando não só um programa de educação continuada para treinar os laboratórios e revisando os protocolos, como também nos testes moleculares.
Em 2024, foi iniciado o projeto-piloto, que hoje realiza os testes moleculares por amostragem em exames coletados no Sul do Espírito Santo. “Estamos testando 15 mil mulheres. A diferença do nosso teste para o do Ministério da Saúde é que hoje fazemos a identificação de 28 genótipos nesse rastreio primário”.
Rodrigo disse que, até o final do ano, os resultados do projeto-piloto serão apresentados para avaliar de que forma isso poderá ser aplicado no ES em outras regiões.
Entenda
Coleta pode ser feita a cada cinco anos
Teste molecular
O Ministério da Saúde anunciou o início da oferta de teste de biologia molecular DNA-HPV, indicado para o rastreamento do câncer de colo do útero.
A tecnologia detecta 14 genótipos do papilomavírus humano (HPV), identificando a presença do vírus no organismo antes da ocorrência de lesões ou de câncer em estágios iniciais, mesmo em mulheres assintomáticas.
Benefícios do teste
Segundo o Ministério da Saúde, o teste molecular tem maior sensibilidade diagnóstica.
Além disso, o teste reduz a necessidade de exames e intervenções desnecessárias, com intervalos maiores entre as coletas quando o resultado for negativo.
Nesses casos, o teste é realizado a cada cinco anos.
Outra vantagem é que o teste permite alcançar mulheres em áreas remotas ou onde há menor oferta de serviços em saúde.
Como é a coleta
No teste de DNA, a coleta é similar à do papanicolau e envolve a secreção do colo do útero. Portanto, a mulher ainda precisa passar por um exame ginecológico.
No entanto, em vez de colocar a secreção em uma lâmina, ela é colocada em um tubo com líquido conservante, que vai para o laboratório, onde é feita a pesquisa do DNA do vírus.
Diferença do papanicolau
O exame citopatológico – popularmente conhecido como papanicolau – é o principal método de rastreamento utilizado há décadas.
Ele tem o objetivo de identificar lesões iniciais (pré-malignas), mostrando as alterações nas células geradas pelo vírus. Dessa forma, não identifica a presença do vírus que pode levar ao câncer, mas a presença já de lesões pré-malignas.
Nas pacientes em que o teste molecular será feito, a tecnologia vai substituir o papanicolau.
O papanicolau, nesse caso, passará a ser realizado apenas para confirmação de casos em que o teste molecular der positivo.
Implementação
A tecnologia – 100% nacional – será ofertada inicialmente nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Bahia, Pará, Rondônia, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco e no Distrito Federal.
A implementação começa com um município em cada estado e será ampliada conforme a finalização da substituição do método.
A meta é que, até dezembro de 2026, o rastreio esteja presente na rede pública em todo o território nacional.
HPV
O vírus é a principal causa do câncer do colo do útero, terceiro tipo de câncer mais incidente em mulheres, com 17 mil novos casos estimados por ano entre 2023 e 2025.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam 15 casos da doença para cada 100 mil mulheres no Brasil.
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