Novo limite para hipertensão exige mudança de hábitos
Restringir o consumo de sal e de álcool, aumentar o consumo de potássio, além de fazer atividade física estão entre eles

Ter pressão 12 por 8 já não é mais sinônimo de saúde plena. Segundo a nova diretriz divulgada esta semana no 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, esse valor passa a ser classificado como pré-hipertensão, um estágio inicial que exige atenção redobrada.
O documento foi elaborado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH). Médicos ouvidos pela reportagem explicaram que essa alteração vai exigir mudanças de hábitos.
Entre essas mudanças estão restringir o consumo de sal e de álcool, aumentar o consumo de potássio (frutas, verduras, hortaliças, oleaginosas, leguminosas e laticínios pobres em gordura), além de atividade física.
A mudança já havia sido adotada pela Europa, em outubro do ano passado, conforme A Tribuna já havia divulgado. Na época, médicos consultados pela reportagem esperavam por novas diretrizes também no Brasil.
Segundo a cardiologista Natália Patez, a mudança ocorre com o objetivo de prevenção. “A classificação está mais rigorosa para identificarmos de forma precoce os pacientes com maior risco cardiológico e sermos mais proativos na intervenção”.
“A pressão alta é o principal fator de risco para as doenças cardíacas. Os estudos mostram que manter a pressão elevada aumenta risco cardiológico a longo prazo, com maior incidência de infarto, AVC, insuficiência cardíaca, doença renal e também de mortalidade”, alerta Natália.
Mas os pré-hipertensos deverão ser medicados? Na prática, segundo a cardiologista Tatiane Emerich, a maioria das pessoas nesse grupo (de pressão 12 por 8), que são consideradas pré-hipertensas, deverão adotar mudanças de estilo de vida.
“Só em casos específicos, quando houver outros fatores de risco importantes como diabetes, doença renal, risco pelo prevent score (ferramenta que estima o risco de eventos cardiovasculares) >20% , pode ser necessário iniciar tratamento com remédios mais cedo”.
O cardiologista Leandro Rua Ribeiro destaca que estudos recentes mostram que ser um pouco mais “agressivo” no controle da pressão reduziu a mortalidade.
“Pacientes que têm a pressão menor que 12 por 8 vivem mais, têm menos complicações no cérebro, no coração e no rim, que são os órgãos mais afetados por esse aumento de pressão. O que motivou essa mudança é tentar alertar a população de que é importante o controle da pressão a longo prazo”.
Histórico familiar
Atividade física

A universitária Steffany Cristyne de Almeida Dias, 21 anos, tem histórico de hipertensão na família e sabe da importância de cuidar da saúde, reduzindo o consumo de sal e praticando atividade física, apesar de sua pressão, segundo afirma, estar dentro da normalidade.
Bárbara Gomes, profissional de Educação Física, destaca que a prática regular de exercícios físicos pode minimizar efeitos da pressão arterial.
“A prática de exercícios aeróbicos (esteiras, aulas de circuito funcional, spinnig) reduz a pressão arterial sistólica e diastólica em uma media de 5 a 3 mmHg, respectivamente”, apontou.
Entenda
Pressão alta
A hipertensão arterial ou pressão alta é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias. Ela acontece quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (ou 14 por 9).
O que muda?
Agora, quem apresenta pressão entre 12 por 8 e 13 por 9 já entra na faixa chamada de pré-hipertensão.
Essa classificação não significa doença, mas um alerta de risco: a ideia é identificar mais cedo quem pode desenvolver hipertensão e incentivar mudanças de hábitos – como alimentação saudável, exercícios físicos e redução do sal – para evitar que o problema avance.
A hipertensão arterial passa a ser confirmada quando a pressão medida no consultório for igual ou superior a 14 por 9, em pelo menos duas consultas diferentes. Dependendo do valor encontrado, o quadro é classificado em três estágios (do mais leve ao mais grave).
Mudanças no estilo de vida
As orientações destacam que todos que têm pressão a partir de 12 por 8 devem adotar medidas de vida saudável
Reduzir o sal da comida e preferir temperos naturais.
Ter uma alimentação rica em frutas, verduras, fibras e potássio (como banana e abacate).
Perder peso, se houver sobrepeso ou obesidade.
Praticar atividade física regular.
Dormir bem e reduzir o estresse.
Medicamentos
O uso de medicamentos, segundo a diretriz, é recomendado em casos mais graves, quando a pressão ultrapassa 13 por 8 em pessoas de alto risco cardiovascular ou 14 por 9 de forma persistente.
Mas, em casos específicos, quando houver outros fatores de risco importantes como diabetes, doença renal, risco pelo prevent score >20% , pode ser necessário iniciar tratamento com remédios mais cedo.
Situação no Brasil
A hipertensão já atinge quase 28% dos adultos brasileiros, segundo o Vigitel 2023. Antes da pandemia, esse índice era de cerca de 24%.
Outro dado preocupa: no Brasil e no mundo, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, e a hipertensão arterial é o principal fator de risco responsável por elas.
Fatores de risco
Obesidade e sobrepeso: Quanto maior o índice de massa corporal (IMC), maior o risco.
Sedentarismo: Além da hipertensão, aumenta as chances de diabetes, infarto e AVC.
Consumo excessivo de sal: Especialmente em alimentos ultraprocessados.
Estresse e fatores emocionais: Depressão, ansiedade, isolamento social e discriminação estão ligados ao aumento da pressão.
Má qualidade do sono e apneia do sono: Alteram mecanismos de controle do organismo e favorecem o aumento da pressão.
Anticoncepcionais
A diretriz recomenda medir a pressão arterial em mulheres jovens antes de começar a usar anticoncepcionais e também depois que iniciarem o uso.
Fonte: Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial e pesquisa AT.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários