Novas drogas contra Alzheimer são avanço no tratamento, dizem especialistas
Outra promessa dos últimos anos que vem se concretizando é o exame de biomarcadores para detecção de Alzheimer
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A aprovação de novos fármacos para o tratamento do Alzheimer pela FDA (Food and Drugs Administration), agência que regulamenta drogas e alimentos nos Estados Unidos, é um sinal de que as drogas antiamilóides podem ser uma esperança para quem tem o diagnóstico da doença e seus familiares.
Consideradas no ano passado como um banho de água fria, as primeiras drogas antiamilóides, nome dado à classe de fármacos que retira o acúmulo da proteína beta amilóide, principal responsável pelo declínio cognitivo, chegaram ao mercado ainda em 2021, com a aprovação do aducanumab, da farmacêutica Biogen. As apostas dos especialistas eram altas: acreditava-se que a remoção da proteína beta amilóide no cérebro de pacientes seria capaz de reverter os sintomas da doença.
Entretanto, não foi isso que os estudos clínicos mostraram na prática. Mesmo com a remoção da proteína, os medicamentos não reverteram as perdas cognitivas de quem já sofria com o Alzheimer.
Mas agora, com as expectativas moderadas, os médicos reconhecem a utilidade desses fármacos como forma de conter a progressão da doença e evitar a perda de cognição. No estudo clínico de fase 3 do lecanemab, outra droga também da Biogen, os resultados, que foram publicados na revista científica Nejm (The New England Journal of Medicine), mostraram a capacidade da substância em reduzir a progressão da doença de forma significativa.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores recrutaram cerca de 2.000 pacientes com diagnóstico de Alzheimer e acúmulo de beta amilóide no cérebro confirmadas por exames de imagem. Os participantes receberam a droga a cada 15 dias, e os efeitos do tratamento se tornaram evidentes após 18 meses.
O lecanemab (comercializado pelo nome Leqembi) recebeu aprovação parcial pela FDA em janeiro deste ano, e teve o registro definitivo em julho após apresentar os novos dados mais sólidos.
Já o donanemab, da farmacêutica Eli Lilly, ainda aguarda uma decisão do órgão, prevista para 2024. A empresa divulgou em julho deste ano os resultados das pesquisas que comprovam a eficácia da droga.
No estudo, 2.000 pessoas com Alzheimer receberam via intravenosa doses mensais contendo a droga ou uma substância placebo. Os resultados, publicados na revista científica Jama (Journal of American Medical Association), mostraram que o medicamento foi capaz de desacelerar a progressão da doença dentro do período estudado de 76 semanas com diferenças significativas.
Para Breno Barbosa, neurologista e professor da UFPE (Universidade Federal do Pernambuco), a aprovação das duas novas drogas é um sinal dos avanços das pesquisas sobre medicamentos. "Várias medicações da mesma classe têm sido testadas, algumas delas com efeito negativo. Estas, de forma pioneira, conseguiram não apenas a remoção da proteína, mas um leve retardo na velocidade da perda cognitiva do paciente", disse.
A aprovação de novos medicamentos nos últimos anos representa um grande avanço depois de um período de quase 20 anos sem novidades para o tratamento do Alzheimer. Ainda assim, o donanemab e o lecanemab ainda estão aquém do esperado pela comunidade médica.
Embora concedam neuroproteção relevante à nível de pesquisa científica para os pacientes, até agora os ganhos no cotidiano são muito pequenos e não justificam seu uso em grande escala. "Os resultados não representam uma mudança muito relevante nas escalas de funcionalidade no dia-a-dia", afirma o especialista.
Outro tema muito debatido sobre a aprovação dessas drogas são os custos, chegando a quase R$ 130 mil por mês (cerca de US$ 26 mil). Segundo Barbosa, o preço elevado é um entre vários motivos pelos quais os novos medicamentos ainda não foram aprovados no Brasil ou na Europa.
O tratamento recomendado hoje inclui combinação de medicamentos e terapias não farmacológicas, com uma equipe multidisciplinar capaz de promover reabilitação, prática de atividade física e suporte médico.
Pessoas com demência leve podem fazer uso de inibidores da acetilcolinesterase como forma de proteger o cérebro de novos danos. A partir da fase moderada da doença, podem ser introduzidas drogas com efeito antiglutamato e psicotrópicos com papel de regular o sono e reduzir os distúrbios de comportamento que aparecem, sobretudo em indivíduos mais avançados.
Katia Omura, terapeuta ocupacional e professora da Universidade Federal do Pará, ressalta que o estilo de vida tem um papel importante na melhora da doença, associado também com o acúmulo das proteínas beta amilóide e tau no cérebro. Ela é criadora do aplicativo MemoryLife, que ajuda na cognição em pessoas idosas, e destaca o papel do sono, da alimentação e da vida social como fatores para manter a boa saúde cerebral.
Outra promessa dos últimos anos que vem se concretizando é o exame de biomarcadores para detecção de Alzheimer. A análise de liquor vem se popularizando no Brasil, e está disponível hoje na maioria dos grandes centros do país. Também cresce a demanda e disponibilidade de testes de sangue na busca de proteínas como indícios da doença.
Com o avanço das pesquisas, o conhecimento sobre moléculas específicas produzidas no corpo dos pacientes da doença tem crescido, possibilitando um aperfeiçoamento cada vez maior dessas técnicas.
Apesar das novidades, as recomendações oficiais são limitadas aos estudos científicos. Embora possam cumprir função importante para o diagnóstico do Alzheimer, esses exames ainda são apenas complementares. Omura acrescenta ainda que faltam informações sobre o perfil metabólico da população latino-americana, tendo sido a maior parte dos estudos conduzidos na Europa e nos Estados Unidos.
A principal ferramenta hoje para identificar a demência segue sendo o teste de cognição feito por médicos e especialistas. As análises laboratoriais são usadas sobretudo para afastar outras possíveis causas da perda de memória.
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