Inteligência Artificial acelera descoberta de novos remédios
Processo tradicional para medicamento chegar ao mercado leva de 10 a 15 anos. Com o uso da IA, tempo pode ser reduzido em 70%

Mais de uma década: esse é o tempo médio que um medicamento leva para ser produzido, desde a descoberta de um princípio ativo até a aprovação para uso e comercialização.
Antes de começar a ser testado, porém, todo medicamento passa por um longo – e caro – processo de pesquisa e desenvolvimento, até que uma molécula possa ser considerada promissora para ser um novo fármaco. E para que esse processo seja mais rápido, pesquisadores vêm apostando na Inteligência Artificial (IA).
No Brasil, por exemplo, pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) estão usando IA para identificar moléculas promissoras para tratar diabetes tipo 2, reduzindo custos e tempo de desenvolvimento.
Outro exemplo que tem deixado médicos e estudantes de Medicina animados é o Rentosertib, que segundo o gastroenterologista e coordenador do curso de Medicina da UVV, Pedro Onofre, está em fase de testes para tratar a fibrose pulmonar idiopática, uma doença rara e grave dos pulmões, sem tratamento curativo eficaz já estabelecido.
“Nesse caso, tanto o alvo da doença quanto o fármaco foram identificados com ajuda da Inteligência Artificial, e os resultados iniciais em pacientes têm sido animadores”, afirmou, ao lado das alunas Izabela Zan de Souza e Leandra Krause de Carle.
Já a Recursion Pharmaceuticals, dos Estados Unidos, está desenvolvendo, com apoio da IA, a medicação REC-1245 para cânceres avançados. Segundo a empresa, a plataforma baseada em IA levou apenas um ano e meio para levar uma molécula a testes clínicos.
“A IA não substitui os ensaios clínicos, mas funciona como um reforço poderoso para os pesquisadores, aumentando muito as chances de sucesso”, destaca Pedro Onofre.
Tradicionalmente, segundo a pós-doutora Débora Dummer Meira, professora e pesquisadora do Núcleo de Genética Humana e Molecular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o processo entre a descoberta de uma molécula promissora e a chegada de um medicamento ao mercado pode levar de 10 a 15 anos. Com o uso da IA, esse tempo pode ser reduzido em até 70%.
“Em vez de levar anos para descobrir e testar milhares de moléculas, agora é possível realizar essas etapas em semanas ou meses, graças à automação e à análise preditiva”.
A médica pesquisadora Priscilla de Aquino Martins, do Centro de Avaliação de Medicamentos e Especialidades de Pesquisa (Cenders), destaca ainda que a IA também está auxiliando na pesquisa clínica. “Ela ajuda a analisar, prever riscos e até indica o número ideal de participantes”.
Alguns medicamentos em desenvolvimento
Inteligência Artificial funciona como um reforço para os pesquisadores
Baricitinibe
Originalmente usado para artrite reumatoide, o Baricitinibe foi apontado pela IA da BenevolentAI como possível tratamento para a covid-19. Testes clínicos confirmaram que ele ajudava a reduzir mortes em pacientes hospitalizados. Em 2022, o remédio passou a ser usado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar a covid.
Rentosertib
O Rentosertib é um novo medicamento experimental (código anterior ISM001-055, INS018_055) desenvolvido com ajuda de Inteligência Artificial pela Insilico Medicine. Ele foi criado para tratar a fibrose pulmonar idiopática, doença grave que deixa os pulmões rígidos e dificulta a respiração. A IA ajudou a identificar a proteína envolvida na doença e a desenhar a própria molécula do medicamento, acelerando muito o desenvolvimento. Em testes iniciais com pacientes, o Rentosertib mostrou melhora na função pulmonar.
BEN-2293
É um inibidor tópico, desenvolvido pela BenevolentAI com o uso de sua plataforma de IA (“Benevolent Platform”). O objetivo da medicação era tratar coceira e inflamação na dermatite atópica. Em 2023, os resultados iniciais mostraram que o medicamento foi seguro e bem tolerado. Porém, não alcançou todos os objetivos de eficácia, embora tenha mostrado benefícios em alguns grupos de pacientes, como aqueles com áreas de pele mais afetadas. O BEN-2293 ficou marcado como um dos primeiros medicamentos totalmente descobertos por meio de Inteligência Artificial a chegar à etapa de testes clínicos em seres humanos.
REC-1245
É um novo medicamento experimental que age degradando a proteína RBM39, envolvida no crescimento de certos tipos de câncer. Ele foi desenvolvido com apoio da Inteligência Artificial da Recursion, que usa grandes bancos de dados biológicos e aprendizado de máquina para acelerar a descoberta de compostos promissores. Segundo a empresa, a plataforma baseada em IA levou apenas um ano e meio para levar uma molécula a testes clínicos como candidata a medicamento contra o câncer, tempo muito menor do que a média, que é de três anos e meio. Em outubro de 2024, a FDA (agência regulatória dos Estados Unidos) autorizou o início dos testes clínicos em humanos.
Diabetes
Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) estão usando Inteligência Artificial para acelerar a busca por novos remédios contra o diabetes tipo 2. A tecnologia analisou mais de 1 milhão de moléculas e selecionou as mais promissoras. Agora, essas moléculas estão sendo testadas em laboratório (in vitro) para verificar se realmente funcionam. A pesquisa ainda não chegou à fase de testes em animais ou humanos.
Inibidor de TYK2
A AtomNet é a plataforma de IA da Atomwise usada para descoberta de pequenas moléculas. Em outubro de 2023, a empresa anunciou o desenvolvimento de seu primeiro medicamento criado com apoio da Inteligência Artificial: um inibidor de TYK2 em comprimido, ainda em fase clínica de testes.
O TYK2 é uma proteína que participa de processos de inflamação no organismo. Ao bloqueá-la, esse novo remédio tem potencial para ajudar no tratamento de várias doenças autoimunes e inflamatórias, como lúpus, psoríase, artrite psoriática e doença inflamatória intestinal.
RTR242
É um medicamento experimental da Retro Biosciences, desenvolvido com o auxílio de Inteligência Artificial, e tem apoio de Sam Altman, CEO da OpenAI.
Ele foi criado para reverter efeitos do Alzheimer ao estimular a autofagia, um processo natural que remove proteínas danificadas das células. Com a idade, essa limpeza celular diminui, contribuindo para o declínio cognitivo. O RTR242 deve começar seu ensaios clínicos na Austrália.
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