Fala, doutora: Como identificar os sinais e tratar a “alergia emocional”
A imunologista Milena Pandolfi afirma, em entrevista, que muitas doenças alérgicas têm como gatilho o estado psicológico
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Dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) indicam que as alergias afetam cerca de 30% da população brasileira, aproximadamente 61 milhões de pessoas. Os agentes que causam as alergias podem ser vários, desde alimentos até poeiras e animais.
Mas, além das substâncias externas, estímulos emocionais intensos podem desencadear a “alergia emocional”. Milena Pandolfi, alergista e imunologista, esteve no Estúdio Tribuna Online e explicou como identificar os sinais e o tratamento para a doença.
A Tribuna- A alergia emocional existe?
Milena Pandolfi- Não existe um diagnóstico específico com nome de “alergia emocional”. Muitas doenças alérgicas têm como gatilho o estado emocional, o estresse ou outras doenças que podem ter alterações no comportamento.
Assim como doenças alérgicas levam também a uma alteração desse estado emocional, causando ansiedade e até quadros de depressão. Então, existe uma íntima ligação das doenças alérgicas, não só as de pele, com o nosso estado emocional, seja ele pelo estresse ou qual for. Mas não existe o nome “alergia emocional”.
Os principais fatores que podem desencadear seriam as emoções?
Quando vamos fazer a avaliação do paciente, temos de ver se é uma doença crônica ou se ele tem sintomas ao longo de dias, semanas ou meses ou se são mais pontuais, naqueles períodos onde ele está mais estressado ou a doença, seja ela depressão ou ansiedade, está numa fase mais ativa. Isso é importante para a gente poder ligar o gatilho da doença ou não.
O que significa a alergia? É quando a gente tem uma reação exagerada a um alérgeno, que é um componente externo. Para dar nome de alergia precisa ter esse componente externo envolvido, por isso que a gente não fala em alergia emocional.
Mas o estresse pode entrar como gatilho de muitas doenças. Não vai ter esse alérgeno, por isso não vamos conseguir fazer um exame e o teste para poder chegar nesse ponto.
Quais sintomas podem ser apresentados nesse período?
Quando vamos avaliar o paciente temos doenças como dermatite, urticária e até as doenças que não são alérgicas, por exemplo, uma disidrose, psoríase, eles têm uma relação muito importante de piora dos sintomas durante os períodos de estresse.
Mas também podemos ter rinite, asma, quadros de tosse, que chamamos de tosse psicogênica, que pode ter um padrão envolvido. Enfim, muitos sintomas podem ter uma alteração da sua função por conta do nosso estresse.
Crianças e adolescentes podem ser afetados pela alergia emocional?
Sim, na minha prática clínica eu vejo muitos pacientes com dermatite atópico, urticária, tendo uma piora ou uma dificuldade no tratamento por conta da ansiedade envolvida. Não é comum as crianças terem o mesmo estresse do adulto. São fatores diferentes.
Geralmente, o paciente adulto tem o estresse do trabalho e da vida conjugal. A criança tem o estresse muito da escola, da mudança de rotina. Os fatores são diferentes, mas a criança pode, sim, ser afetada pelo estresse.
Como diferenciar a alergia emocional de uma alergia de contato, por exemplo?
Os exames me ajudam a entender a causa dessa alergia. Agora, se a gente pesquisa e não acha nada, e o paciente tem essa pontuação de que é sempre quando ele está em períodos de estresse, começamos a pensar de que o gatilho inicial é realmente pelo estresse e não uma doença de base.
Como lidar com essas manifestações quando elas aparecem?
Nesses casos a gente precisa dividir a doença em doença aguda e doença crônica. Se esse paciente tem sintomas muito pontuais, eu posso tratar só a crise. Mas, se ele tem uma doença crônica e esses sintomas, como urticária ou dermatite, impactam na qualidade de vida, mesmo quando o paciente não está estressado, eu preciso tratar a doença de base. Preciso fazer um conjunto de medicações e de tratamentos para pensar no que vai ser melhor para esse paciente.
Tem como se curar de uma alergia crônica?
O nome cura na alergia é muito complexo. O paciente pode, sim, deixar de ter sintomas. Existem várias formas de tratamento de acordo com a doença. Inclusive, a gente já vem falando, por exemplo, sobre vacinas para alergia. Certas doenças como rinite, asma e conjuntivite alérgica a gente consegue fazer vacina. É tratar esse sistema imunológico a ponto dele deixar de reagir àquilo que ele tem a alergia. Não falamos em cura, mas controle.
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