Estresse pode ser contagioso? Veja o que dizem especialistas
Estudos mostram que ambientes tensos podem influenciar quem está ao redor, criando um ciclo de ansiedade compartilhada
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Quem nunca ficou estressado que atire a primeira pedra! Cada vez mais comum, o estresse tem se tornado rotina para muitos brasileiros. Não à toa, o Brasil é o quarto país mais estressado do mundo, de acordo com o relatório global “World Mental Health Day 2024“, divulgado pelo Instituto Ipsos.
O estresse, muitas vezes visto como uma experiência individual, pode ser “contagiante”. Estudos mostram que ambientes tensos ou pessoas estressadas podem influenciar emocionalmente aqueles ao seu redor, criando um ciclo de ansiedade compartilhada.
E existe explicação para tal fenômeno: os neurônios-espelho.
“Eles são ativados quando fazemos algo e quando observamos alguém tendo algumas atitudes como se fôssemos nós mesmos executando a ação. Esses neurônios nos permitem aprender por imitação de outros seres humanos”, explica a médica psiquiatra Janine Moscon.
“A ação dos neurônios-espelho nos leva a interpretar o estado emocional de outra pessoa e imitá-la. Uma pessoa muito estressada dá sinais: olhos mais arregalados, pupilas dilatadas, apreensão na face, respiração ruidosa, tremores e agitação psicomotora. As pessoas à sua volta farão uma leitura desses sinais e o cérebro vai entender que há alguma ameaça no ambiente. Assim, as pessoas, que antes não estavam em estado de alerta, passam a ficar assim”, explica.
A psiquiatra Letícia Mameri Trés destaca que o estresse pode ser transferido, principalmente em meios onde o contato entre as pessoas é maior, como no ambiente familiar e laboral.
Letícia Mameri explica ainda que o ambiente de trabalho pode ser um importante gatilho para quadros de intenso estresse.
A psicóloga Sátina Pimenta, colunista de A Tribuna, cita, por exemplo, que em locais de trabalho onde há competitividade entre as partes, conflito de funções, cobranças por meta e hierarquias com assédios, são ambientes onde podem ocorrer essa “transferência” de estresse.
Mas, até mesmo as crianças podem ser afetadas por esse fenômeno, alerta a especialista. “Com pai e mãe extremamente estressados, a criança vai aprender a ficar estressada. Normalmente, teremos essa reação com pessoas que mais temos uma relação estreita”.
Especialistas ensinam a manter controle emocional
Respirar fundo nem sempre ajuda a controlar o estresse. Mas como ter domínio próprio sobre situações que podem desafiar o controle emocional?
“O controle do estresse vem de tarefas que são simples de serem listadas, mas que são muito difíceis de serem colocadas na prática diária”, destaca a médica psiquiatra Janine Moscon.
Horários para dormir, acordar, se alimentar, ter uma prática regular de atividade física na semana (ao menos 150 minutos), uma alimentação balanceada – evitando açúcares, gorduras em excesso e alimentos ultraprocessados –, momentos de contato com a natureza, com os amigos, e até mesmo o ócio são alguns dos hábitos que ajudam nesse controle, de acordo com a médica.
“Hoje sempre fazemos mais de uma coisa ao mesmo tempo: vemos televisão com o celular na mão, comemos em frente às telas, almoçamos fazendo reuniões de trabalho, assistimos aulas presos às informações que vêm dos eletrônicos. Quantas pessoas você conhece que conseguem manter esse estilo de vida saudável? Por isso, está tão difícil frear o avanço do estresse”, alerta a psiquiatra.
Mas, nem sempre será possível lidar com o estresse sem ajuda. Uma pessoa com alta carga de estresse, por exemplo, pode ser necessário, segundo a psiquiatra Letícia Mameri, se afastar do ambiente.
“Os tratamentos, nessa situação onde já existem sofrimento e disfunção, devem ser multidisciplinares e o uso de medicamentos, provavelmente, será indicado”, explica a médica.
“Chave” ligada do bom humor
Gente falsa, coisas que insistem em dar errado, pessoas sendo injustas com as outras e falta de empatia estão na lista de situações que estressam a esteticista Josiane Dutra, de 41 anos. Mas o que mais incomoda Josiane são pessoas que reclamam da vida.
“Pessoas que estão sempre insatisfeitas ou estressadas com tudo e com todos, as evito e o ambiente em que estão. Eu não gosto de dar continuidade a conversas negativas”.
E ela tem uma “fórmula” para controlar o estresse. “Desvio a mente do foco do problema, buscando uma solução ou vendo o lado bom, porque eu gosto de alegria, de sorrir e de fazer os outros sorrirem. Normalmente, o que me estressa não me tira do sério rápido, porque eu já vivo com a 'chavinha' ligada do bom humor”.
SAIBA MAIS
Estresse
Reação natural do organismo que ocorre quando vivenciamos situações de perigo ou ameaça. Esse mecanismo nos coloca em estado de alerta ou alarme, provocando alterações físicas e emocionais.
A reação ao estresse é uma atitude biológica necessária para a adaptação às situações novas.
Fase de Alerta
Ocorre quando o indivíduo entra em contato com o agente estressor.
Sintomas da fase de alerta: mãos e/ou pés frios; boca seca; dor no estômago; suor; tensão e dor muscular, por exemplo, na região dos ombros; aperto na mandíbula/ranger os dentes ou roer unhas/ponta da caneta; diarreia passageira; insônia; batimentos cardíacos acelerados; respiração ofegante; aumento súbito e passageiro da pressão sanguínea; agitação.
Fase de Resistência
O corpo tenta voltar ao seu equilíbrio. O organismo pode se adaptar ao problema ou eliminá-lo.
Sintomas da fase de resistência: problemas com a memória; mal-estar generalizado; formigamento nas extremidades (mãos e/ou pés); sensação de desgaste físico constante; mudança no apetite; aparecimento de problemas de pele; hipertensão arterial; cansaço constante; gastrite prolongada; tontura; sensibilidade emotiva excessiva; obsessão com o agente estressor; irritabilidade excessiva; desejo sexual diminuído.
Fase de Exaustão
Nessa fase podem surgir diversos comprometimentos físicos em forma de doença.
Sintomas da fase de exaustão: diarreias frequentes; dificuldades sexuais; formigamento nas extremidades; insônia; tiques nervosos; hipertensão arterial confirmada; problemas de pele prolongados; mudança extrema de apetite; batimentos cardíacos acelerados; tontura frequente; úlcera; impossibilidade de trabalhar; pesadelos; apatia; cansaço excessivo; irritabilidade; angústia; hipersensibilidade emotiva; perda do senso de humor.
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