Anabolizante transforma coração em “bomba-relógio”. Especialistas explicam
Médicos alertam que substância favorece o crescimento anormal do músculo cardíaco, causando insuficiência e arritmias graves
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Na busca por mais disposição e músculos “trincados”, o uso de anabolizantes tem crescido e preocupado. Médicos alertam para os riscos do uso indiscriminado das substâncias, que podem transformar o coração em uma “bomba-relógio”.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre 2018 e 2023, a venda de anabolizante no Brasil saltou 670%.
A cardiologista e responsável pela rotina da Unidade Coronariana do Hospital Santa Rita, Alessandra de Magalhães Cardoso, explicou que anabolizantes são substâncias sintéticas derivadas da testosterona – hormônio sexual masculino –, capazes de reproduzir efeitos anabólicos, como o aumento de massa muscular.
Entre os compostos mais utilizados estão a testosterona sintética, a nandrolona, o estanozolol e a oxandrolona. “Além de elevação da pressão arterial, aumento do colesterol e progressão de doenças ateroscleróticas - condições que podem culminar em infarto -, os anabolizantes favorecem o crescimento anormal do músculo cardíaco, predispondo à insuficiência cardíaca e a arritmias graves”, afirmou Alessandra.
O cardiologista, mestre, doutor e professor universitário Paulo Bernardes enfatizou que, apesar dos efeitos iniciais parecerem benéficos – como aumento da disposição e hipertrofia muscular – é preciso ficar atento aos efeitos secundários do uso de anabolizantes sem indicação.
“Quando há uma hiperestimulação com essas medicações, a pessoa tem uma desregulação do eixo hormonal. Isso pode levar até à alteração na função de testículos e ovários”.

O cardiologista e coordenador do serviço de Cardiologia do Hospital Evangélico de Vila Velha, Diogo Barreto, explicou que desde 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução proibindo a prescrição de testosterona para fins estéticos.
“Só há orientação para uso quando o paciente tem baixa produção do hormônio – o que não é comum – ou quando o paciente tem alguma doença que leva à sarcopenia (perda da massa muscular) e que ele precisa tomar”.
Ele destacou que o crescimento do uso preocupa. “São substâncias que levam o coração a se tornar uma bomba-relógio, já que predispõe a arritmias e a infarto”.
Saiba Mais
O que são anabolizantes
Os anabolizantes, ou esteroides anabolizantes androgênicos, são substâncias sintéticas derivadas da testosterona, o principal hormônio sexual masculino.
Foram Criados, inicialmente, para tratar condições médicas, como deficiência na produção do hormônio ou a perda de massa muscular causada por doenças crônicas. Eles estimulam o crescimento dos músculos e aumentam a força física.
Outros fins
Nos últimos anos, o uso indiscriminado e em doses elevadas tem se tornado comum no meio esportivo e estético, já que trazem efeitos iniciais como aumento da massa muscular, mais disposição e até correção de problemas de libido.
Anabolizantes x reposição hormonal
Embora ambos envolvam hormônios, a finalidade e o controle médico são diferentes.
A Reposição hormonal é indicada para homens ou mulheres com níveis hormonais comprovadamente baixos, visando restabelecer valores normais para a idade. É feita com acompanhamento médico e exames regulares.
Já o Uso de anabolizantes geralmente envolve doses acima do necessário, com objetivo estético ou de desempenho esportivo.
O uso recreativo costuma ignorar protocolos médicos, aumentando os riscos de efeitos colaterais graves.
O que o uso de anabolizantes pode causar
1 a 4 semanas
Pessoas podem ter ganho de massa muscular e perda de gordura, além de mais força e disposição.
Aumenta autoconfiança e libido.
Aumento do colesterol ruim (LDL) e queda do bom (HDL).
É possível ter queda da produção natural de testosterona.
1 a 2 meses
Pele oleosa e acne, queda de cabelo.
Na mulher, pode ter início da virilização: voz grossa, aumento de pelos e clitóris aumentado. Já nos homens, aumento das mamas.
Início da atrofia testicular em homens, com possível infertilidade temporária.
2 a 4 meses
Há possibilidade de impacto no fígado, aumento da pressão arterial, espessamento do sangue e risco de formação de coágulos. Paciente pode ter alteração no ritmo do coração.
4 a 6 meses
Perda da eficiência cardíaca e aumento no tamanho do órgão. É possível ter danos ao fígado e risco de tumores.
Comportamentos agressivos e impulsivos.
Após 6 meses
Risco de infarto, AVC e morte súbita. Há risco também de queda da produção hormonal natural. Aumenta chance de desenvolver diabetes tipo 2.
O que eles dizem
Sem fins estéticos

“As diretrizes médicas são categóricas: não existe justificativa segura para uso com fins estéticos ou recreativos. Entretanto, a reposição de testosterona, quando criteriosamente indicada, pode ser segura. Há benefícios comprovados em homens com hipogonadismo - deficiência funcional das gônadas que pode acarretar retardamento do desenvolvimento sexual - devidamente diagnosticado”.
Efeitos prejudiciais

“Temos observado que muitas pessoas têm usado substâncias anabolizantes para fins estéticos. Essa tendência se deve a efeitos iniciais benéficos, como aumento da disposição, correção de queda de libido, além da hipertrofia muscular. O problema é que há efeitos secundários – prejudiciais –, como desregulação do eixo hormonal, além da hipertrofia de órgãos internos, como coração e fígado”.
Alerta grave

“Apesar de existirem situações de uso médico, o grande problema atual é a popularização do consumo indiscriminado de anabolizantes por quem busca rápida alteração corporal, o que traz riscos sérios para a saúde. O abuso pode elevar em até 3 vezes o risco de infarto, aumentar em 9 vezes a chance de cardiomiopatia e mais que triplicar o risco de insuficiência cardíaca e arritmias. O aumento nas vendas é sinal de alerta grave”.
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