Traficantes do ES usam até armas austríacas contra a polícia
Secretário de Estado da Segurança Pública afirma que há ainda armamentos tchecos, israelenses e americanos apreendidos
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No meio da guerra do tráfico, inocentes perdem a vida, a exemplo do aposentado Daniel Ribeiro Campos da Silva de 68 anos, que morreu vítima de uma bala perdida no domingo, em uma clínica de longa permanência, em Gurigica, Vitória.
Perícia realizada apontou que o tiro fatal na cabeça saiu de uma pistola calibre .40, descartando a possibilidade de o disparo ter sido por uma arma da Polícia Militar.
Secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Alexandre Ramalho acredita que casos parecidos com o do aposentado, em que inocentes são mortos, ocorrem devido à entrada de armas austríacas, israelenses, tchecas e americanas no Estado, todas com um alto poder de fogo.
“Foram 1.646 armas de fogo apreendidas nos cinco primeiros meses do ano. Estamos falando de pistolas austríacas, israelenses, tchecas e americanas, além de fuzis. Só na região, conjunto de bairros como Bairro da Penha, São Benedito, Gurigica e Jaburu, neste ano, foram apreendidas 29 armas de fogo, destas, 26 eram pistolas”.
Mas como essas armas entram no Estado? “Nós não temos empresa de arma de fogo. A cobrança recai sobre o aparato policial, mas precisamos discutir, porque quando a gente prende o cara com a pistola, entrega o suspeito na delegacia, ele paga uma fiança e vai embora”, diz o secretário.
A maioria dessas armas, segundo Ramalho, que vem de fora do País, via de regra pela fronteira seca (rodovias) do Brasil, é usada por traficantes para defender seus territórios, atacando não só bandidos rivais, mas também as polícias.
Ele destaca que esses armamentos, quando apreendidos, são encontrados com menores de idade e jovens, entre 14 e 29 anos, que portam até fuzis.
“O problema está relacionado a essa criminalidade juvenil, que tem acesso a armas e drogas. Não temos autonomia para prendê-los, para isso eu preciso de um mandado de busca e de prisão. Enquanto isso, a sociedade está subjugada por um jovem, portando fuzil lá no alto do morro, atirando e atingindo um senhor que estava no hospital internado”.
Pedindo respostas, amigos e familiares se despediram nesta segunda do aposentado. O sepultamento foi no Cemitério de Maruípe, em Vitória.
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Entenda
Bandidos atiraram contra militares
Tiroteio
No último domingo, por volta das 3 horas, traficantes do Morro do Jaburu, em Vitória, atiraram contra militares, colocaram fogo em um carro no bairro e tentaram impedir a chegada de viaturas no morro, colocando pregos nas principais entradas que dão acesso à região.
Morte
Uma bala perdida atravessou a parede do quarto onde estava o aposentado Daniel Ribeiro Campos da Silva, 68 anos, e atingiu sua cabeça.
O aposentado tratava um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico na clínica particular há dois anos. Ele estava no quinto andar.
Destruição
Além do disparo que atingiu o paciente na clínica, outros locais da região amanheceram com marcas da troca de tiros entre criminosos.
A vidraça da loja de um comerciante, de 60 anos, também foi atingida por um tiro.
Um outro tiro perfurou o vidro de um carro estacionado na rua e atravessou o veículo, saindo pela lataria da porta do passageiro.
Localizado na avenida Reta da Penha, na Praia do Canto, um consultório odontólogico também foi atingido por uma bala perdida.
Depoimento
“Daniel era muito alegre e vaidoso”
“Foi uma tragédia o que aconteceu. Eu trabalhei tantos e tantos anos na polícia técnica, sou perita aposentada, e já participei de muitas situações graves, mas nunca pensamos que vai acontecer com a gente.
O Daniel era muito alegre. Mesmo internado, era vaidoso, gostava de fazer a barba. No sábado, a minha nora passou o dia todo com ele. Tem um vídeo lindo dos dois se beijando. Foi uma despedida.
Ele tinha cuidador durante a semana. À noite, ficava aos cuidados da clínica. E o que aconteceu? Ela foi embora e 4 horas recebeu ligação do diretor da clínica, para que ela fosse para o hospital urgente. Ele estava bem. Ele não verbalizava, tinha dificuldade no falar, mas ele era lúcido”.
Jerusa Durr Aguiar Giovanini, 72 anos, sogra de uma das filhas do aposentado morto na clínica
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