“Que o culpado pague pelo que fez”, diz mãe de cinegrafista assassinado
Segundo a polícia, Leonardo Vieira foi morto por briga política
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A reportagem de A Tribuna conversou com a mãe do cinegrafista Leonardo Vieira, 34 anos, assassinado a tiros em 2022, mas pediu para não ser identificada. A Polícia Civil concluiu as investigações da morte do cinegrafista, que foi morto dois dias antes do segundo turno das eleições presidenciais. Segundo a polícia, a vítima foi morta por conta de uma discussão política.
- A Tribuna – Com as novas informações divulgadas pela Polícia Civil, como fica o coração?
Mãe de Leonardo – Eu moro em Conselheiro Pena, Minas Gerais, e fiquei sabendo da notícia por uma amiga. Tudo o que eu quero é que a justiça seja feita. Quero que o culpado pague pelo que fez.
- A polícia disse que ele foi morto por intolerância política. É isso mesmo?
A única coisa que eu sei é que mataram meu filho... não sei o motivo.
- Faz tempo que o seu filho veio morar no Estado?
Ele foi morar no Espírito Santo há cerca de 15 anos. Ele era um menino que só sabia trabalhar.
- Como vai ser daqui para frente?
Tem sido uma luta diária. Todo dia eu me sinto doente. Estou adoecendo.
Cinegrafista foi morto por briga política, diz polícia
Dez meses após a morte do cinegrafista Leonardo Vieira, 34 anos, assassinado dentro de uma distribuidora de bebidas em Novo Horizonte, na Serra, a Polícia Civil em parceria com a superintendência da Polícia Federal em Salvador, na Bahia, prendeu o suspeito de assassinar a vítima com quatro disparos de arma de fogo.
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Segundo a polícia, Leonardo foi morto por intolerância política. “Foi em razão da polarização política durante a disputa presidencial do ano passado. Poucos dias antes do crime, o suspeito e a vítima discutiram no bairro Novo Horizonte por desavenças políticas”, afirmou o chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa de (DHPP) da Serra, delegado Rodrigo Sandi Mori.
Segundo o delegado, em 28 de outubro de 2022, dois dias antes das eleições presidenciais, o suspeito do crime, ao perceber que a vítima chegava à distribuidora de bebidas, foi até sua casa e buscou uma arma de fogo.
Em seguida, ele entrou no local e efetuou quatro disparos que acertaram Leonardo na cabeça e na face.
“A vítima tinha um jeito peculiar de discutir. Ela falava um pouco alto e não aceitava opiniões contrárias, fato que fez com que ela entrasse em uma discussão com o suspeito do crime poucos dias antes”, disse.
No dia depois do crime, a polícia descobriu que o suspeito havia fugido para a Bahia, após comprar uma passagem de ônibus com destino a Salvador.
“A partir daí, nós fizemos uma série de diligências no intuito de prendê-lo, o que foi feito no dia 12 de agosto, após trocarmos informações com a superintendência da Polícia Federal do estado da Bahia”.
O suspeito vai responder pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil.
Imagens
Câmeras de videomonitoramento da distribuidora registraram o momento do crime. Nas imagens, é possível ver que o acusado passa perto da vítima e vai até o banheiro do local.
Em seguida, ele se aproxima de Leonardo e efetua quatro tiros. O primeiro foi um tiro na nuca do homem. Com Leonardo já caído ao chão, o assassino ainda dispara mais três vezes no rosto dele.
Especialistas explicam intolerância
A violência utilizada no assassinato do cinegrafista Leonardo Vieira, 34 anos, assassinado a tiros, motivada pela intolerância não era vista na política em outras eleições. É o que explica o professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Maurício Abdalla.
“Em outras eleições presidenciais, não víamos esse tipo de intolerância política. Em 2014, eu já falava, nos meus artigos científicos, que o sentimento contrário à esquerda e antipetismo estava gerando um sentimento de intolerância”.
Maurício disse ainda que o movimento trouxe para o cenário político pessoas que não estavam habituadas a discutir política.
“O objetivo desses novos atores era o de destruir uma visão política. No meio disso, entram em cena pessoas dizendo que 'tem de exterminar a oposição', com discursos de ódio que não se tinha na política brasileira”.
O professor do curso de mestrado de Segurança Pública da Universidade Vila Velha (UVV) Henrique Herkenhoff ressalta que as pessoas estão, cada vez mais, vivendo em bolhas sociais, interagindo pela internet e sendo intermediados por um algoritmo.
“Esse indivíduo conversa com quem quer debater e só ouve o que quer ouvir. As pessoas estão se desacostumando a receber opiniões contrárias. Quando a vida real coloca essas pessoas em contato, elas estão sem habilidades sociais e um repertório que permita que essas possam conviver com a diferença”.
Maria Vitória Rodrigues, cientista social da empresa Persona, ressaltou que a política é algo que mexe com os sentimentos.
“As discussões sobre política entram na tríade de assuntos que são mais emotivos para nós, que é religião, política e futebol. As pessoas levam muito a sério, é quase como se fosse algo da essência do indivíduo. Quando uma pessoa não concorda com a opinião, principalmente se essa não concordância impacta na existência do outro ou na forma como ele vê a vida, é muito levado para o lado emocional”.
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