“Não imaginava que seria o último abraço”, diz filha de idosa morta atropelada
Motorista atropela aposentada na Serra e é perseguido por motociclistas até ser preso. Homem tinha sinais de embriaguez
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Era tarde da última quarta-feira (18), por volta das 17h30, quando a aposentada Mariza Valone Paulino, de 71 anos, saiu de casa em Morada de Laranjeiras e seguia para a academia em Laranjeiras, na Serra.
Só que ela não conseguiu chegar ao seu destino, pois foi atropelada na faixa de pedestres, na avenida Eldes Scherrer de Souza, no bairro Parque Residencial Laranjeiras.
Consta no Boletim Unificado (BU) da Polícia Militar que o condutor, de 39 anos, avançou o sinal vermelho e fugiu sem prestar socorro. O Samu foi acionado e a equipe realizou os primeiros socorros, sem êxito.
Revoltados, vários motociclistas foram atrás e conseguiram abordar o motorista a cerca de 500 metros do local do acidente. Quando os policiais militares chegaram, ele recusou-se a realizar o teste do etilômetro (bafômetro).
Segundo a Polícia Civil, ele foi conduzido à Delegacia Regional da Serra e autuado em flagrante por omissão de socorro, homicídio e por conduzir veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência.
Ele foi encaminhado ao Centro de Triagem de Viana (CTV), onde encontrava-se até esta quinta (19), segundo a Secretaria de Estado da Justiça.
O veículo conduzido pelo acusado, um Fiat Punto, foi removido para o pátio do Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran-ES) com o licenciamento atrasado.
Em um misto de tristeza e revoltada, a empresária Julia Fischer, 27 anos, filha de Mariza, conversou com a reportagem. Ela contou que a mãe tinha voltado a fazer atividades física há dois meses e era acompanhada pelo genro, o personal Miguel de Padua Fischer, 29 anos.
“Ela estava muito feliz, indo para a academia. O meu esposo era o personal dela. Nós estamos sem chão e clamamos por justiça”.
Julia Fischer, filha da vítima: “Não imaginava que seria o último abraço”
No último sábado (14), a aposentada Mariza Valone Paulino completava 71 anos, data que foi comemorada ao lado da família. Foi neste momento que a empresária Julia Fischer, de 27 anos, deu um abraço na sua mãe, abraço que ela não imaginava que seria o último.
À reportagem, a empresária falou do legado que a mãe deixou, da saudade, bem como saiu em defesa de leis mais duras para quem assume a direção e mata no trânsito.
A Tribuna - Quem foi a sua mãe?
Julia Fischer - "Ela era uma pessoa muito alegre, se doava para ajudar os outros. Era uma batalhadora, muito guerreira. Criou duas filhas sem pai, nos ensinou a seguir o caminho certo. Eu e a minha irmã somos formadas, trabalhamos e construímos a nossa família e isso a deixava muito orgulhosa."
Ela tinha uma profissão?
"Ela foi doméstica praticamente a vida inteira, se aposentou e agora estava curtindo a vida. Enfrentou uma depressão, o que trouxe outros problemas de saúde, como hipertensão e pré-diabetes e, por conta desse quadro, a gente resolveu trazê-la para fazer atividade física. Ela estava se sentindo muito bem e estava melhorando expressivamente. Ela mudou muito por conta dessa situação."
Quando foi a última vez que falou com ela?
"A gente se falava todo dia pelo telefone, várias vezes ao dia, até por videochamada. No último sábado, foi o aniversário dela de 71 anos e celebramos juntas. Não imaginava que seria o último abraço que daria na minha mãe.
Ela foi tirada do nosso meio de uma forma tão cruel, por um motorista irresponsável, que avançou o sinal vermelho, pegou a minha mãe na faixa de pedestre e, como se não bastasse, estava sob efeito de álcool."
O que deseja que aconteça neste caso?
"Queremos que a justiça seja feita. É preciso mudar a legislação para crimes de trânsito. Não pode ter brechas na lei para que os condutores saiam impunes. Infelizmente é mais uma vida perdida, a minha mãe virou estatística.
Defendo pena máxima cumprida em regime fechado para quem mata no trânsito. Chega de sensação de impunidade."
98 multados todo dia por avançar sinal
De janeiro a agosto deste ano, 24.003 motoristas foram multados por avançar sinal vermelho, o que dá quase 98 por dia. A infração é gravíssima (R$ 293,47) e prevê perda de 7 pontos na carteira de habilitação, diz Jederson Lobato, gerente de Fiscalização de Trânsito do Detran-ES.
No mês passado, mãe e filha foram atropeladas em uma faixa de pedestre na avenida Carlos Lindenberg na Glória, Vila Velha. A pequena Laura Beatriz, de 5 anos, não resistiu. A mãe Mara Núbia Borges ficou ferida. O motorista estava em alta velocidade e fugiu sem prestar socorro. Dias depois, foi preso.
“A minha esposa estava em recuperação em casa, só que começou a sair muito pus em um dos pontos e ela foi encaminhada novamente para o hospital, sendo liberada para não correr o risco de pegar infecção. Mas na segunda ela vai fazer uma nova cirurgia para ver o que está causando a infecção”, contou o esposo Heidson Fantoni.
O capitão Anthony Moraes Costa, chefe do setor de comunicação do Batalhão da Polícia de Trânsito, ressalta que o avanço de semáforo na fase vermelha remete a uma conduta de elevado risco.
“No caso do pedestre é ainda mais grave devido à sua fragilidade. Ele poderá iniciar a travessia de uma rua, acreditando estar seguro por ser sua vez de exercer o direito de circular, mas fatalmente poderá ser atingido por quem, de forma irresponsável, não sabe respeitar a norma”.
Saiba mais
Avanço de sinal
- 24.003 condutores foram flagrados cometendo avanço de sinal vermelho, o que equivale a uma média de 98 por dia no Estado, de janeiro a agosto deste ano.
- Em todo o ano passado foram 41.970 flagrantes no trânsito pelo mesmo motivo.
Flagrantes neste ano
Avançar o sinal vermelho do semáforo, exceto onde houver sinalização permita livre conversão a direita (fiscalização eletrônica): 17.203 casos.
Avançar o sinal vermelho, exceto onde houver sinalização que permita livre conversão a direita: 5.845 casos.
Avançar o sinal de parada obrigatória: 955 casos.
Penalidade
A infração é de natureza gravíssima, com multa de R$ 293,47 e sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação.
Ranking das principais infrações
Dados mais atualizados, de janeiro a 07 de setembro deste ano, mostram as infrações mais cometidas no Estado.
Transitar em velocidade superior à máxima permitida da via em até 20% (flagrante por meio eletrônico): 290.657
Flagrado em velocidade superior à máxima permitida da via em até 50% (flagrante por meio eletrônico): 54.357
Conduzir o veículo registrado sem licenciamento: 26.856
Não indicação de condutor infrator: 26.564
Estacionar o veículo em estacionamento rotativo (sem pagar): 22.211
Estacionar o veículo em locais e horários proibidos, ou seja, desrespeitando a sinalização de proibido estacionar: 20.994
Condutor sem cinto de segurança: 17.737
Avanço de sinal vermelho do semáforo: 24.003
Dirigir veículo manuseando telefone celular: 10.807
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