Menina capixaba entre as vítimas de crimes cibernéticos
Uma adolescente de 16 anos, da região de montanhas do Estado, está entre as vítimas de criminosos
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Com marcas da violência que sofreu pelo corpo, uma adolescente de 16 anos, da região de montanhas do Estado, está entre as vítimas de criminosos que agem em plataformas de conversas usadas durante jogos on-line.
O chefe da delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos da Polícia Federal no Estado, delegado Gustavo Buaiz, explicou que a adolescente foi identificada a partir de investigações iniciadas pela Polícia Federal no Rio Grande do Sul.
Segundo ele, com a identificação de autores na região, foi possível identificar também quem eram algumas de suas vítimas.
“Eles encaminharam as informações dessa adolescente e fomos na última semana até a casa dela, juntamente com uma psicóloga. Conversamos com os pais, que não sabiam do que estava acontecendo, mas já tinham notado na filha um comportamento diferente”, explicou.
O delegado afirmou ainda que as investigações apontam que a adolescente estava sendo ameaçada e obrigada a se automutilar há alguns meses, pelo menos.
“Ela está muito retraída, mas seguimos acompanhando o caso. Já tinha marcas de automutilação pelo corpo”.
O delegado explicou ainda que as vítimas não denunciam por medo e pelas ameaças e chantagens que sofrem por parte desses criminosos. “Não temos ainda a identificação de outras vítimas no Espírito Santo, mas é possível que existam, pois esses criminosos atuam em todo o País”.
Para ele, o que está sendo visto nesses casos parece algo de “filme de terror”.
“São criminosos sádicos, misóginos e que nutrem um ódio por mulheres. Têm prazer em causar dor e eles crescem entre o grupo pela crueldade, ganhando status e reconhecimento. Eles usam o Discord por reunir jovens e por achar que estão anônimos em uma plataforma fechada. Mas na internet nada fica em sigilo”.
Pais devem ampliar vigilância
Estejam mais por perto, supervisionando o uso dos smartphones e computadores, participando das atividades que estão acontecendo dentro do quarto dos filhos e no seu dia a dia.
São atitudes que parecem simples, mas são apontadas como fundamentais por especialistas para evitar surpresa e sofrimento.
Além do alerta, especialistas também dão dicas aos pais e responsáveis sobre como identificar se os filhos já foram vítimas desses criminosos.
Letícia Mameri, médica psiquiatra, cita exemplos como isolamento, mudança de comportamento, agressividade e irritabilidade.
Ela aproveitou para mandar um recado a crianças, adolescentes e jovens para que não escondam nada dos seus pais.
“São eles, os seus pais, que podem te ajudar a sair de qualquer situação delicada, mas se não souberem o que está acontecendo, não poderão ajudar. Além disso, saiba que o relacionamento presencial é sempre mais saudável do que o virtual”, orientou.
Eduardo Pinheiro, especialista em Tecnologia da Informação, cita mais sinais de que algo está fugindo da normalidade, entre os quais alteração no apetite e queda no rendimento escolar.
Ele também deixou uma mensagem para os jovens. “Sejam sinceros com os pais, respeitem as idades indicativas de aplicativos. Não é só isso: se, em qualquer tipo de assunto, desconfiar que não seja apropriado, mostre para os seus pais. Eles precisam te proteger”.
Em paralelo, ele também volta a sua fala para os pais e alerta sobre a omissão: “Os pais que deixam os filhos desassistidos no mundo virtual estão criando um menor abandonado digital”.
Ele destaca ainda que internet é uma espécie de rua virtual e todo o cuidado é pouco.
“O primeiro é diálogo, informação e orientação. Isso está acima de qualquer coisa”.
Se houver necessidade, como ele observa, vem o segundo passo, que é o monitoramento. “Instalar um programa de controle parental para a criança é fundamental porque vai fazer com que o pai estabeleça, por exemplo, os limites de horário, ou seja, quanto tempo o filho pode acessar determinado aplicativo”.
Por fim, Eduardo Pinheiro complementa que abandono de incapaz configura crime, cuja pena é de detenção de seis meses a três anos, podendo ainda perder a guarda dos filhos em casos mais extremos.
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Alguns crimes
Artigo 241
Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão de 4 a 8 anos.
Artigo 241-A
Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão de 3 a 6 anos.
Artigo 241-B
Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão de 1 a 4 anos.
Artigo 122
Induzir ou instigar alguém a se suicidar ou a praticar automutilação ou lhe prestar auxílio material para que o faça:
Pena - reclusão de 6 meses a 2 anos. Se resultar em lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena passa a ser de reclusão de 1 a 3 anos. Se resultar em morte, a pena é de reclusão de 2 a 6 anos.
Artigo 147 (Ameaça)
Ameaçar alguém por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico de causar-lhe mal:
Pena - detenção de 1 a 6 meses.
Artigo 217-A (estupro de vulnerável)
Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos:
Pena - reclusão de 8 a 15 anos.
Fonte: Código Penal e Estatuto da Criança e do Adolescente.
Sinais
O que ficar atento
- Isolamento social.
- Irritabilidade, ansiedade e angústia.
- Diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer.
- Desinteresse, falta de motivação e apatia.
- Alteração no sono, tanto para mais quanto para menos.
- Queda no rendimento escolar.
- Mudanças no apetite e no peso.
- Automutilação, que pode ser observada pelo hábito de vestir calças e blusas de manga compridas mesmo durante o calor e o aparecimento de lesões e cicatrizes sem causa aparente.
Como se proteger
Os Pais devem manter a atenção e o diálogo com os filhos.
Aplicativos de controle parental também ajudam no monitoramento.
Fonte: Especialistas consultados.
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