Idosa cai em golpe e fica com dívida de R$ 33 mil
Aposentada de 66 anos é enganada por pessoa que dizia ser do Cras de Cariacica. Golpistas entram em contato por telefone e na residência
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O sentimento de revolta e a preocupação têm tirado o sono da aposentada Elzina Soares Dias, de 66 anos. Ela foi alvo de um golpe que resultou em uma dívida de R$ 33 mil em empréstimo em seu nome.
A aposentada contou que, no último dia 25, recebeu uma ligação de uma pessoa que dizia ser do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Mucuri, Cariacica. A pessoa informava que ela estaria apta a receber uma cesta básica, já que seu rendimento é abaixo de dois salários mínimos.
Na ligação, a pessoa disse que a entrega da cesta seria feita no mesmo dia. Eles tinham todos os meus dados, tanto que não passei endereço. Mais tarde, duas mulheres chegaram em minha casa, com um uniforme e a cesta básica”.
Elzina revelou que as mulheres disseram que ela precisava assinar o recibo da cesta. As mulheres também pediram para tirar uma foto dela e dos documentos, comprovando que tinha recebido.
“A noite nem consegui dormir, porque comecei a achar estranho a história de tirar a foto e pedir os documentos. Então, liguei para minha filha e, no dia seguinte, fomos ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Lá, descobrimos o empréstimo de R$ 17 mil em um banco virtual”.
A foto pedida pelas golpistas, na verdade, era um mecanismo de reconhecimento facial para acessar a conta da aposentada do celular das golpistas. De lá, elas conseguiram não só solicitar o empréstimo, como também transferir R$ 7.500 via Pix para a conta dos criminosos.
A filha de Elzina, Carla Fabrícia Soares Dias, de 36 anos, relatou que as golpistas não conseguiram transferir o restante do valor – R$ 9.500 – já que havia limite diário. “Vimos que o total da dívida está em R$ 33 mil, referente aos juros. Eles só não transferiram o resto porque no dia seguinte já bloqueamos”.
O advogado da vítima, Sergio Araújo Nielsen, revelou que vai ingressar com ação contra a instituição bancária. “Vou pedir de volta os valores que foram descontados dela, assim como indenização por danos morais, já que o golpe demonstra uma fragilidade no sistema. Ela também quer devolver o valor que os criminosos não retiraram. Ela não pediu por aquele empréstimo”.
“Parecia que o mundo tinha caído”
Como forma de alertar outras pessoas sobre golpes e de buscar justiça, a aposentada Elzina Soares Dias, de 66 anos, resolveu contar como criminosos conseguiram realizar um empréstimo em seu nome.
A Tribuna - Como foi o contato com a senhora?
Elzina Soares Dias - Me ligaram falando que eu tinha direito a receber uma cesta básica por causa do valor que recebo. Eu tenho realmente um cadastro no Cras, que fiz para ter direito a viajar para fora do Estado. Mas era difícil de não acreditar, pois eles tinham todos os meus dados. Tudo certinho, bem detalhado.
Tinham seu endereço?
Sim. Tanto que as duas mulheres apareceram, sem eu ter que passar o local. Elas eram meninas simpáticas, estavam uniformizadas, por volta dos 30 anos.
Entregaram a cesta?
Isso. Chegaram com a cesta e nem vi o que tinha. Logo entreguei para uma pessoa que precisava mais que eu. Vi a cesta como uma oportunidade de ajudar uma pessoa. As mulheres logo pediram para eu assinar o recibo. Eu estava inocente e fazia o que elas pediam, entreguei os documentos que seriam do cadastro e elas me pediram para fazer foto, comprovando que eu tinha recebido, para ficar no registro.
E qual o sentimento após descobrir tudo?
Senti o mundo caindo na minha cabeça. Elas aplicaram o golpe dentro da minha casa, na minha área de serviço. Isso é revoltante demais. Elas ficaram na minha frente, mexendo no celular. Só penso como elas têm coragem de fazer algo assim, com alguém que as recebeu em casa. Só não quero que aconteça com mais ninguém. Imagina se é com uma pessoa que só tem aquela aposentadoria para sobreviver? É muita maldade!
Sem oferta em casa ou por telefone
Diante do caso do caso envolvendo a doação de cestas básicas, a secretária municipal de Assistência Social de Cariacica, Danyelle Lirio, ressaltou que os Cras não fazem ofertas de benefícios a pessoas por telefone ou na residência da pessoa.
“De forma geral, a pessoa vai até o Cras e passa por uma entrevista técnica, em que são identificadas as vulnerabilidades e necessidades delas. É feita uma análise social da vida da pessoa”.
Ela destacou que é preciso ficar atento a possíveis golpes. “O Cras só vai até as residências em casos pontuais de situação de vulnerabilidade, como enchente em que a pessoa não pode sair de casa, ou quando há denúncia de extrema pobreza”.
Investigação
O titular do 14º Distrito Policial de Cariacica, Líbero Carvalho, destacou que o caso da aposentada está em investigação, em busca de identificar as pessoas que estiveram na casa da aposentada e que participaram do golpe.
Ele ressaltou a necessidade das pessoas, especialmente idosos, redobrarem a atenção ao receber pessoas em casa e fornecer documentos e informações pessoais.
SAIBA MAIS
Números no Estado
41.229 crimes de estelionato e fraudes foram cometidos este ano, entre janeiro e novembro
38.780 crimes do tipo foram cometidos em 2023, no mesmo periodo.
Outros tipos de golpes
Falsa prova de vida
CRIMINOSOS têm se passado por servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), apresentando crachás falsos e solicitando dados pessoais, incluindo fotos, de beneficiários.
DE POSSE DAS informações, incluindo da biometria facial, os criminosos conseguem realizar outras fraudes e ainda contratar empréstimos consignados em nome das vítimas.
O INSS vem esclarecendo que não está realizando pesquisas externas para a prova de vida.
Compra não realizada
OUTRA SITUAÇÃO que têm sido registrada no País é a de falsos entregadores, que pedem a biometria facial de aposentados, alegando que é necessária para registrar a devolução de uma mercadoria que nunca foi solicitada.
COM A BIOMETRIA capturada, eles conseguem solicitar empréstimos consignados em nome da vítima.
Fonte: Especialistas consultados.
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