Golpe do amor: Vítimas eram torturadas após marcar encontros em aplicativos
Polícia descobriu quadrilha que obrigava vítimas a fazer transferências e até empréstimos. Nove já foram presos
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A promessa em aplicativos de namoro era de encontros amorosos. Mas por trás da tela do celular estava uma quadrilha que sequestrava, roubava, extorquia e até escravizava e torturava as vítimas.
A Polícia Civil prendeu, no último dia 17, na Serra, Adrian dos Santos Ribeiro, de 23 anos, acusado de integrar o grupo. Outras oito pessoas que fazem parte da organização criminosa já foram presas desde o início do ano. Já Denilson Santos Alves, de 25 anos, continua foragido.
O titular da Delegacia Especializada Antissequestro (DAS), delegado Alysson Pereira Pequeno, explicou que as investigações tiveram início após uma onda de sequestros mediante extorsão, que teve início em novembro de 2023.
“O grupo, formado por 10 pessoas, agia atraindo as vítimas em aplicativos de namoro. Eles alugavam residências pelo Airbnb ou Booking para esses encontros”.
Segundo o delegado, ao chegar ao local, a vítima era surpreendida por outros criminosos. “As vítimas eram torturadas, com requinte de crueldade. Elas eram lesionadas com arma branca, coronhadas, além de serem queimadas com álcool, com ferro de passar. Temos casos em que eram acorrentadas e obrigadas a fazer trabalhos, como capinar quintal e pintar paredes, enquanto os criminosos faziam churrasco e zombavam”.
Alysson Pequeno relatou que, em alguns casos, as vítimas passavam dois ou três dias com os sequestradores. Além de roubar pertences e carros, eles ainda forçavam os homens a fazer transferências via Pix e até empréstimos.
“No grupo, eles se revezavam na divisão de tarefas: alguns atuavam como executores do sequestro, enquanto outros ficavam de vigia, levavam alimentação ou como 'conteiros', que emprestavam as contas para transferências. O prejuízo das vítimas passa de R$ 300 mil”.
O delegado explicou, ainda, que há pelo menos 20 inquéritos relacionados, mas ele acredita que o número de casos seja pelo menos o dobro disso. “Há subnotificação, já que muitas vítimas não registram ocorrência por vergonha. Um dos presos revelou que eles faziam de três a quatro vítimas por semana”.
Ele salientou, ainda, que há tanto casos de homens atraídos em encontros homossexuais, quanto heterossexuais. As vítimas também tinham um perfil “preferido”, que eram homens após os 45 anos, com bom poder aquisitivo.
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Como agiam
O grupo criminoso marcava encontros por meio de aplicativos de relacionamento com as vítimas.
Os locais para se encontrarem eram residências alugadas por meio de aplicativos como Airbnb ou Booking.
No local, a vítima era surpreendida por outros criminosos, integrantes da organização.
Além de ter seus pertences levados, enquanto era mantida em cárcere privado, a vítima também era forçada a fazer transferências e até empréstimos.
Durante o tempo todo, os criminosos ainda eram violentos e torturavam as vítimas, queimando-as com ferro de passar e álcool. Em alguns casos, elas eram acorrentadas e forçadas a trabalhar.
Casos
Pelo menos 20 casos chegaram à polícia e já foram encaminhados à Justiça.
No entanto, a Polícia Civil acredita que pelo menos o dobro de vítimas tenha sido alvo da quadrilha, já que muitas pessoas não registram a ocorrência por vergonha ou medo.
Os prejuízos das vítimas passam de R$ 300 mil.
Prisões
Nove envolvidos estão presos e um continua foragido.
2 de janeiro: um homem de 26 anos e uma mulher trans foram presos em Parque Residencial Laranjeiras, na Serra
20 de fevereiro: um homem de 20 anos foi preso em flagrante em Brejetuba. Ele estava envolvido em um homicídio ocorrido em Vila Velha.
5 de março: um homem de 33 anos foi preso em Cariacica.
6 de março: duas mulheres – de 48 e 27 anos – e um homem de 27 anos foram presos na Serra.
18 de junho: uma mulher de 32 anos foi presa em Lagoa de Jacaraípe.
17 de julho: Adrian dos Santos Ribeiro, de 23 anos, foi preso no bairro das Laranjeiras, na Serra.
Foragido: Denilson Santos Alves, de 25 anos.
Fonte: Polícia Civil.
Outros crimes após encontro marcado por aplicativo
Em lixão
O instrumentador cirúrgico Luciano Martins, de 46 anos, foi encontrado morto no dia 23 de junho, em um lixão no bairro Civit II, na Serra. Ele havia desaparecido dois dias antes e, antes de sumir, esteve com um homem que conheceu em um aplicativo de relacionamento.
A dupla suspeita de cometer o latrocínio já era investigada por marcar encontros com homens e roubá-los. Os dois foram presos.
Encontrado morto em Vila Velha
Um homem foi assassinado em fevereiro deste ano dentro de uma casa alugada por meio do aplicativo Airbnb, no bairro Jockey de Itaparica,em Vila Velha. Segundo a polícia, Gilberto Ferraz de Sena Júnior, de 59 anos, foi torturado com choques, amarrado e morto durante um encontro sexual com um dos suspeitos.
Ao todo, cinco pessoas estavam sendo investigadas. Dois suspeitos foram presos na época do crime.
De acordo com a polícia, a quadrilha agia cobrando por um “programa” e, depois de analisar o perfil da vítima, passava a extorquir o homem, o torturando.
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