Promessa do surfe capixaba realiza sonho em Portugal
Kauai Côgo, de apenas 12 anos, embarcou na quinta para Europa, onde vai viver uma experiência que espera há mais de três anos
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Em uma matéria publicada em A Tribuna, em fevereiro de 2021, foi contada a história de Kauai Côgo — um jovem surfista capixaba, que começou uma campanha vendendo doces de banana para realizar o sonho de surfar nas ondas de Portugal. No entanto, esse sonho precisou ser adiado em função da pandemia da covid. E, agora, três anos depois, Kauai está mais próximo de tornar o sonho realidade.
A viagem aconteceu nesta quinta-feira (26) e o pequeno de 12 anos é pura emoção “Caraca, estou muito ansioso. Vai ser irado demais. Quero evoluir e aprender muito porque é uma oportunidade top demais”, contou emocionado.
Desde a matéria publicada em 2021, Kauai foi campeão estadual de surf e visitou países como Indonésia, Peru, El Salvador e Maldivas - sempre com o dinheiro arrecadado dos doces de banana.
Em mais uma entrevista exclusiva ao Jornal A Tribuna, ele revelou um pouco mais sobre os seus sonhos, expectativa para entrar no mar em Portugal e muito mais.
A Tribuna - Em 2021 você vendeu doces para ir a Portugal, mas não deu certo. Agora o sonho está próximo. Quais são as expectativas?
Kauai Côgo - Caraca, estou muito ansioso. Vai ser irado demais, tenho certeza! Quero conhecer a Europa, que nunca fui em nenhum país lá. Vou treinar no Centro de Treinamento de Peniche, com um monte de surfista fera e com o Pinga (técnico conhecido por ser um “caçador de talentos”) ensinando várias coisas.
Quero evoluir e aprender muito porque é uma oportunidade top demais. E ainda vamos para Nazaré em um dia do intercâmbio.
Nazaré é conhecida por ter ondas gigantes. Você pretende se desafiar lá também?
Eu quero muito! Gosto mais de onda grande do que onda pequena. Não tenho medo. A galera fica de cara, porque eu fico tranquilo quando o mar está grande. Mas em Nazaré só vou surfar se for seguro. É o que minha mãe disse. Vai ter uma galera muito experiente e com toda a segurança. Tomara que role. Se eu pegar um ondão lá, quero aparecer na televisão.
E Kauai, como você começou a surfar?
Acho que já nasci surfista. Porque desde bebê meu pai brinca de surfar comigo, então nem sei quando comecei. Com 2 anos e meio meu pai já me jogava nas ondinhas e eu comecei a surfar.
Mas ser surfista profissional mesmo, decidi na pandemia. Meu tio Krystian já é surfista profissional e ele parou de viajar e ficou mais comigo, me levando para surfar com ele. Até viajei. Aí decidi que gostaria de ser igual a ele.
Você segue vendendo os doces de banana?
Tenho de vender senão as viagens não acontecem. O dinheiro das bananinhas é todo para viajar. O dinheiro dos meu patrocinadores é para competir. Eu separo assim. Então tento vender muita bananinha para viajar muito. Também vendo óculos que meu patrocinador ONO Brasil me dá, vendo as roupas e os prêmios que ganho nos campeonatos. Junto tudo para viajar porque é muito caro.
Ano passado você foi campeão estadual, mas vai perder a final e o possível bicampeonato para viver o sonho em Portugal. Como se sente?
Fiquei triste que não vou para a última etapa. Vai ser em Regência, um pico que me amarro muito. Não tinha essa etapa quando apareceu a viagem para Portugal, por isso topei. Mas acho que mesmo se soubesse, também ia topar.
Porque eu queria ser campeão estadual de novo, mas viajar para Portugal eu quero mais. E todo mundo falou: “É muito melhor viajar, Kauai”. Outro ano eu sou campeão, está de boa. Meus pais sempre falam para eu me preocupar com títulos mais tarde, quando eles forem importantes de verdade.
Você vai para Portugal com o técnico Pinga. Acredita que isso vai ser importante para a sua carreira no futuro?
O Pinga é muito fera. Ele é o técnico do Filipe Toledo, bicampeão do mundo. Ano passado e esse ano. Ele já fez vários surfistas serem campeões. É o melhor do Brasil e um dos melhores do mundo inteiro. Ele vai me dar as dicas para evoluir. Vou fazer treinamentos com baterias e evoluir muito meu surf. Sem dúvida é uma super oportunidade para a minha carreira estar lá com ele.
Quem são suas maiores inspirações na modalidade?
Tio Krystian Kymerson, com certeza. Ele é bicampeão brasileiro e um dia vai entrar na elite do surf mundial. O Gabriel Pastori, o Pedro Scooby e o Lucas Chumbo também gosto bastante. Gosto de ficar vendo as viagens deles e as ondonas que eles surfam.
O que quer para o futuro?
Quero ser campeão! Do Brasil primeiro, depois do mundo e das Olimpíadas também. Quero viajar e competir. Aproveitar o processo, igual a minha mãe fala. Eu também quero ser empresário, porque a gente precisa aposentar cedo no surf. Mas ainda não decidi.
Você tem 12 anos e um caminho para percorrer. Podemos esperar ver o nome Kauai nas manchetes daqui uns anos?
Claro! Vou ser muito famoso ainda. Anota aí, Kauai Côgo. Os capixabas e o Brasil todo vão ter muito orgulho de mim. Então bora comprar bananinha, galera! Porque “comprou, ajudou”.
Apoio da família
Com o apoio da família, o surfista mirim Kauai Côgo está pouco a pouco realizando sonhos e, a ida para Portugal, é a concretização de um projeto que começou há cerca de três anos. De acordo com a mãe, Thiara Côgo, Kauai vem provando que está pronto para realizar todos os sonhos que tiver.
“Para ele, tudo o que sonha, vai se tornar realidade um dia. Eu achava graça e pensava que era algo super otimista e que passaria com o tempo. Mas não acho mais isso. Ele me provou que sonhar, planejar e realizar é o caminho”, começou Thiara.
“Com 9 anos ele sonhou que juntaria R$ 7 mil para viajar para Portugal. Começou a vender bananinhas na escola, na praia e pela rede social. Um ano e meio depois, ele havia juntado mais de R$ 20 mil e foi para as Maldivas só com o dinheiro das vendas. Hoje tenho certeza que ele realizará todos os seus sonhos”, afirmou ela.
Mesmo apoiando as escolhas de Kauai de se tornar um atleta profissional no futuro, Thiara ressaltou que a ideia principal é que ele viva experiências.
“Acredito que o foco de tudo que fazemos na vida tem que estar no processo e não no resultado. Ainda mais com 12 anos. Quero mais que o Kauai faça amigos, conheça lugares, experimente comidas diferentes, vivencie culturas diversas, construa memórias inesquecíveis e se divirta sempre”, contou ela.
Para que o surfista mirim possa curtir as experiências que Thiara sonha para o filho, ela precisa abrir mão de estar com ele nas viagens. Ainda assim, ela revelou que há preocupações mais importantes.
“Kauai viajou “sozinho” pela primeira vez com 9 anos. Foi com o primo Krystian, surfista profissional para o Ceará e depois para Fernando de Noronha. Vi que teria que ser assim para ele viajar pelo Brasil e mundo agora”, contou ela.
“Sem os pais, ele teve que aprender a se cuidar e cuidar das coisas dele. São vivências e estamos aprendendo juntos. Seria maravilhoso poder viajar junto, mas não temos condições financeiras. Então se tiver um “responsável” para levá-lo, que ele vá e se divirta. Morro de saudade e fico querendo saber cada detalhe. A única preocupação é que ele seja agradável com as pessoas e responsável”, finalizou Thiara.
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