Martha Gabriel: “Salas de aula antigas não vão funcionar mais”
Escritora e consultora prendeu os olhares de cerca de 500 participantes do “Meeting Tribuna de Educação”
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Mostrando um caminho que avança a passos largos e que não há como voltar atrás, a escritora e consultora Martha Gabriel revelou que é preciso que professores, alunos e as tecnologias somem forças.
“As provas, as avaliações e as salas de aula antigas não funcionam mais. Não dá para dizer ao aluno que ele não pode usar uma ferramenta ou outra, porque elas estão aí, então temos de fazer o melhor com elas”.
Durante mais de uma hora, Martha Gabriel prendeu os olhares de cerca de 500 participantes do “Meeting Tribuna de Educação”, com exemplos do que a Inteligência Artificial (IA), ferramentas como o ChatGPT e outras tecnologias podem fazer a favor da educação.
Com o tema “Educação na Era Digital”, ela destacou que a tecnologia não só transforma os comportamentos, como traz inúmeras possibilidades para o aprendizado ser ampliado.
Ela ainda destacou que a necessidade de atualização na área é de todos, inclusive deve ser iniciativa própria. “Cada um deve ser o líder da sua transformação, porque ela é contínua. Os alunos experimentam ferramentas e tecnologias novas o tempo todo. O professor precisa buscar também”.
Martha ainda ressaltou que as tecnologias inteligentes trouxeram uma transformação mais profunda. “Quando olhamos hoje como são feitas as avaliações, basicamente o aluno precisa repetir aquilo que o professor ensinou. O educador pergunta ou pede que o estudante faça uma redação. Mas hoje as tecnologias inteligentes já fazem isso”.
Apesar de todos estarem preocupados com o plágio, ela salientou que hoje não é possível deixar de usar as novas tecnologias.
“Todas as vezes que a gente teve uma tecnologia nova, seja calculadora, buscadores, smartphone, mesmo com a preocupação, elas foram usadas”.
Para a especialista, o que se tem de buscar é instigar os alunos para que comparem resultados de buscas e aprendam a fazer perguntas, buscando os melhores resultados com essas ferramentas.
“Os professores podem pedir aos estudantes que façam, por exemplo, perguntas ao ChatGPT. O que ele trouxe? O que não está legal na resposta? Isso pode não ser verdade. Tem mil formas de usar as ferramentas para aumentar no estudante o pensamento crítico, o aprendizado gramatical, como contar história, além de mostrar aos pequenos como descobrir um animal por meio das características. É um trabalho colaborativo do professor com a ferramenta”.
O que ela disse sobre...
Transformação
“Cada tecnologia, se você parar para prestar atenção, transforma a realidade de todos ao nosso redor. Isso vale para a música que a gente tem no celular, para os sistemas de comunicação, e a gente não pode ser ingênuo com relação a isso.
A tecnologia traz coisas boas e ruins. Temos de parar e pensar: o que isso trouxe de bom? O que trouxe de ruim? A última coisa que temos de fazer é brigar com a tecnologia, pois ela está aí e está sendo utilizada, então cabe a nós fazer o melhor com ela”.
Perguntas e respostas
“Tem uma frase que gosto muito, que diz que 'Máquinas são para respostas, pessoas são para perguntas'. E qual o problema hoje? É que a gente aprendeu a dar respostas, mas agora precisamos aprender a perguntar.
Se a gente perguntar para o Google alguma coisa, ele dá muitas respostas. Se muda a pergunta, ele dá mais respostas, e melhores ainda. No ChatGPT, você pergunta e ele dá a resposta também. No Waze, você coloca o destino, que é a pergunta, e ele dá a resposta. Se você pergunta certo, vêm muitas respostas boas. Então, o desafio é aprender a perguntar”.
Uso na educação
“Na educação, podemos pedir aos alunos para fazer perguntas, comparar respostas. Ver como cada um perguntou para chegar a melhores respostas. Porque o problema é que perguntar é difícil e exige pensamento crítico”.
Avaliações
“Como é que são feitas as avaliações até hoje? É o aluno repetindo aquilo que o professor ensinou ou então é o professor perguntando algo ou pedindo ao aluno para fazer uma redação, por exemplo. Mas hoje as tecnologias inteligentes já fazem isso, respondem. E todos estão preocupados com plágio, se o aluno está pensando.
Não tem como voltar. Todas as vezes que a gente teve uma tecnologia nova, celular, calculadora, buscadores, smartphone, GPS, houve preocupação, mas elas foram usadas. Então é preciso buscar novas formas de instigar os alunos”.
Empoderamento da tecnologia
“Uma pessoa mediana empoderada pela tecnologia se torna melhor do que o maior expert humano trabalhando sem a tecnologia”.
Preparação
“Se os educadores não fizerem a transformação digital da escola no mesmo ritmo que acontece, não estão conseguindo fazer sua função, que é preparar as pessoas para serem relevantes no mundo que elas vão enfrentar. Então, é fundamental que a escola siga no mesmo ritmo que as mudanças”.
Enem
“A Inteligência Artificial pode auxiliar os alunos na preparação do Enem. Por exemplo, é possível pedir ao ChatGPT para fazer perguntas sobre assuntos que irão cair no Enem, como se ele fosse avaliar o quanto o aluno sabe ou não sobre algo. Ele pode pedir à ferramenta também que faça um resumo para cada um daqueles assuntos. Pode brincar, pedindo a mesma resposta com a visão de um entrevistador, com a visão de um professor, com a visão de um historiador.
São muitas as formas que o ChatGPT pode ajudar um aluno a estudar aqueles assuntos”.
Inteligência Artificial em sala
“As tendências indicam que, se a gente fizer tudo certo, não tem outro caminho a não ser a Inteligência Artificial estar totalmente integrada à realidade da sala de aula.
Hoje pensamos se a eletricidade está integrada na sala de aula? Não. Mas se a eletricidade estaria presente em todos os espaços no futuro era uma discussão séria em 1990. Hoje não se faz nada mais sem a eletricidade.
Então, a Inteligência Artificial também fará parte da vida da gente em todas as dimensões, como algo invisível, mas bastante necessária desde que a gente saiba usar”.
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