“Escola do futuro é mais humana”, diz especialista
Carolina Campos é uma das palestrantes desta quinta no 13º Congresso Educacional das Escolas Particulares do Espírito Santo
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Em meio a discussões sobre o impacto das novas tecnologias na educação, a professora e mestre em políticas públicas Carolina Campos defende que o futuro da escola passa, antes de tudo, por ser mais humana.
Especialista em inovação educacional na escola de extensão da Universidade de Harvard e fundadora e diretora-executiva do Vozes da Educação, Carolina é uma das palestrantes desta quinta-feira (21) no 13º Congresso Educacional das Escolas Particulares do Espírito Santo.
Em uma reflexão sobre como equilibrar avanços digitais e relações interpessoais no ambiente escolar, Carolina enfatiza que quanto mais tecnologia se tem na vida, mais espaço é liberado para o que ela não é capaz de resolver.
“A tecnologia não é capaz de resolver uma série de questões que são específicas do humano. Questões das relações, de vínculo e de construção de confiança, por exemplo, precisam do convívio entre pessoas”.
Ela frisou que, por mais que uma inteligência artificial possa fazer vídeos maravilhosos, relatórios e apresentações em power point, o ambiente escolar vai precisar, cada vez mais, ser espaço humanizado.
Entre os conceitos que apresentará para isso, está o de “escola safe”, que propõe quatro dimensões de segurança dentro do ambiente escolar. Cada uma com a letra inicial que forma a palavra Safe.
A letra S de segurança social; o A de segurança acadêmica; o F de segurança física; e, por fim, o E de segurança emocional.
“Isso significa que, para estar em uma escola, o estudante precisa se sentir pertencente, socialmente aceito, além de se sentir seguro para perguntar, para falhar. Não estamos falando apenas de uma segurança física, mas uma segurança para expressar emoções sem ser julgado, seja professor ou aluno”.
Carolina Campos ainda explicou que falar em uma escola humanizada não retira a possibilidade de ter tecnologias nas escolas.
“A gente vai ter que ter tecnologia nas escolas. Precisamos ensinar para os alunos que a tecnologia é importante, sim. Ela está reverberando em tudo o que fazemos”.
Ela ressaltou, ainda, que os alunos precisarão aprender a perguntar para a inteligência artificial.
“Não adianta mais o professor pedir para que o estudante faça a resenha de um livro. Hoje, isso é facilmente feito pela IA. No entanto, precisamos entender que o que sobra para além da tecnologia é humano. E aí não existe espaço melhor do que a escola para a construção de vínculos”.

“Temos de estar abertos à inovação”, diz Bruna Cassaro, psicopedagoga e escritora
O mundo avança em ritmo acelerado, mas a educação ainda caminha lentamente. Essa é a provocação da psicopedagoga e escritora Bruna Cassaro, em sua palestra com o tema “Criando uma cultura aberta à inovação”.
Em sua fala, a professora quer chamar atenção para o descompasso entre a velocidade das transformações sociais e tecnológicas e o modelo escolar atual, que ainda insiste, muitas vezes, em repetir e decorar.
“Precisamos mudar para preparar estudantes para um mundo que a gente nem sabe como vai ser”.
A Tribuna - Seguindo a proposta do tema da sua palestra, como criar uma cultura aberta à inovação nas escolas?
Bruna Cassaro - O que quero é levar aos educadores uma reflexão sobre a mudança que está acontecendo no mundo.
O que temos hoje é que preparar os nossos alunos para um mundo que a gente nem sabe ainda como vai ser. Costumo dizer que o mundo vem evoluindo como um furacão, enquanto a educação está meio que em uma brisa. Não acompanha essa velocidade.
Ainda temos uma educação tradicional?
Sim. A gente vem de uma educação ainda da Era Industrial, em que a gente tinha um processo de aprendizagem passiva, instrucionista, com foco na memorização e repetição. Na prática, ainda estamos vendo isso em muitas escolas.
Enquanto isso, o mundo e o mercado de trabalho buscam hoje habilidades e competências como criatividade, resolução de problemas, atitude, independência e autorresponsabilidade.
Mas as escolas não têm evoluído nesse sentido?
Têm, sim. A escola vem trazendo esse olhar de uma educação integral, não apenas para a questão de conteúdo, mas para a preparação e desenvolvimento do ser humano e de formação do cidadão, nessa nova educação. Temos modelos de aprendizagem ativa que são importantes nesse processo.
Quais metodologias ativas têm funcionado bem?
Temos várias usadas hoje, como a gameficação, o storytelling (baseada em contar histórias), pedagogia de projetos, trabalho com situações-problemas, sala de aula invertida, rotação por estação.
O mais interessante é que as metodologias ativas não são complexas. Por exemplo, gerar um debate é uma metodologia ativa, e é bem bacana.
No entanto, ainda precisamos avançar no uso delas, na prática.
Por que não são usadas?
O que acontece é que muitas escolas falam em nova educação, dizem que adotam metodologias ativas. Mas, quando o aluno entra em sala, aquilo não acontece. Temos ainda, na prática, uma educação tradicional, uma aula expositiva, onde o aluno está ali só para absorver, memorizar e repetir.
E sabemos que a construção do conhecimento se dá por meio da relação com o outro e com o meio, e não a partir de uma memorização apenas.
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