Veja o que pode mudar no Pix e no cartão de crédito
Mudanças em estudo incluem limite nos juros do rotativo e formalização de transação automática para pagar no futuro
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Para tentar resolver o problema da inadimplência da população, o governo federal e o Banco Central estudam a possibilidade de fazer mudanças no Pix e no cartão de crédito, incluindo e retirando funcionalidades.
No caso do Pix, uma das principais mudanças é a inclusão da modalidade de pagamento a crédito. O objetivo é transformar o sistema de pagamento em uma alternativa ao cartão e aos empréstimos.
Apesar de não ser uma modalidade oficialmente oferecida pelo Banco Central, bancos e fintechs já estão disponibilizando a modalidade no País. Além dessa modalidade, há ainda a previsão da possibilidade de pagar boletos e de débito automático via Pix.
“Essa possibilidade faz parte de um jogo de poder entre os bancos, as administradoras de cartão de crédito e o banco central. Há o risco de o Pix, que hoje é de graça, passar a ser taxado na modalidade parcelada”, avaliou o economista Marcelo Loyola Fraga.
O economista José Márcio de Barros alertou, porém, que o Pix Parcelado pode significar até mesmo “o fim do cartão de crédito”. “O dinheiro cairia na conta do lojista, sem desconto ou taxa dos cartões”.
Já no caso do cartão de crédito, uma série de mudanças é discutida, voltadas especialmente para redução de juros. A taxa de juros no rotativo dos cartões é a mais alta praticada no mercado e está atualmente em 437% ao ano.
Hoje, os clientes entram automaticamente no rotativo quando não conseguem pagar a totalidade da fatura, ou quitam apenas uma parte dela.
O fim do rotativo, com a migração automática da dívida para um parcelamento, tem sido discutido pelo governo com a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).
Caso não deixe de existir, o rotativo poderá receber um tabelamento, com juros limitados ao mesmo patamar do cheque especial. Também é discutida a possibilidade do fim ou limitação do parcelamento sem juros, como uma forma para reduzir o consumo desorganizado, que acaba incentivando a inadimplência.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) já afirma que não há chance desta hipótese de tornar real, enquanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fala em criar uma taxa extra para evitar o alto número de parcelas.
Empresários se dividem entre elogios e preocupação
Empresários do varejo analisam de forma positiva as possíveis novas funcionalidades do Pix, ao mesmo tempo em que mostram preocupação com os estudos envolvendo o cartão de crédito.
Glenda Amaral, presidente da Associação dos Comerciantes da Glória (Uniglória), considera as novas funcionalidades do Pix como importantes.
“O Pix já tornou as negociações mais dinâmicas. Toda mudança que o Pix puder ter para o parcelamento é ótima, muito bem-vinda, porque moderniza nossas formas de pagamento”.
Já o diretor da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio-ES), José Carlos Bergamin, crê que a ampliação das funcionalidades do Pix é bem-vinda, mas considera interferir nos demais meios de pagamento como algo inapropriado.
“Talvez deixar mais claro o custo final no parcelamento sem juros, uma obrigatoriedade nesse sentido, seria melhor. O comércio atua ajudando, parcelando a venda e pagando impostos à vista. Se o governo quiser dinamizar a economia, poderia aceitar receber impostos de forma parcelada”, afirmou Bergamin.
O que pode mudar
Pix automático
Esta ferramenta será uma versão aprimorada do débito automático, que atualmente opera na base do convênio entre os bancos e a prestadora de serviços. Através do PIX automático, o processo de pagamento será feito de forma direta.
A novidade poderá ser usada para pagamentos de serviços de streaming, de telefone, contas de consumo e até para compras parceladas.
BolePIX
Esta será uma versão da solução do Banco Central para o boleto bancário. Ele replica o boleto. O QR Code aparece como boleto e o consumidor pode usar o PIX para pagar. O pagamento será compensado de maneira instantânea.
PIX Garantido
O Banco Central também está desenvolvendo o Pix Garantido, que possibilitará o parcelamento de compras pelo Pix, com garantia de recebimento para o vendedor.
Assim, segundo o diretor do Banco Central, Renato Dias de Brito Gomes, o consumidor irá finalizar a compra e o vendedor irá se conectar às instituições financeiras que oferecerão a opção de crédito para a finalização da compra via Pix.
No entanto, de acordo com Gomes, embora a solução possa promover a competição para operações de crédito, ainda não se sabe exatamente como o modelo irá avançar e, dessa forma, a instituição deu “um passo atrás” para observar o progresso. Todavia, o projeto é visto com “bons olhos”.
Taxa extra e redução de juros no cartão de crédito
Além de buscar alternativas para reduzir os juros do rotativo, o grupo de trabalho criado este ano pelo governo federal também discute a possível cobrança de uma tarifa extra no cartão de crédito para desincentivar a compra desenfreada de crédito em uma quantidade muito grande de parcelas.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirma que não será a proibição do parcelamento sem juros, mas apenas uma forma disciplinar o consumo.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirma que não há intenção de acabar com o parcelamento sem juros no País.
Rotativo: fim ou tabelamento
O rotativo é um tipo de crédito acionado quando o cliente não paga o valor integral da fatura do cartão na data de vencimento. É uma linha pré-aprovada e recomendada por especialistas somente para casos emergenciais.
O cliente pode passar no máximo 30 dias no rotativo. Desde 2017, as instituições financeiras são obrigadas, após um mês, a migrar essa dívida para um crédito parcelado, que tem juros mais baixos.
O fim do rotativo do cartão de crédito foi cogitado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que afirmou, no último dia 10, que essa era a solução que estava “se encaminhando” no debate de medidas para reduzir os altos juros da modalidade.
Segundo ele, quem não pagasse a fatura integral do cartão seria direcionado automaticamente para o crédito parcelado com taxa ao redor de 9% ao mês.
Já no congresso, discute-se a possibilidade de tabelamento do juros, caso o setor não se autorregule. com um limite ao patamar do cheque especial, que tem taxa anual máxima de 151,8% (o equivalente a 8% ao mês).
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