Rali de ações pode criar a maior perda da história
Mercado americano se tornou dependente de ações e empresas do ramo de Inteligência Artificial. Caso a "bolha" estoure, estragos podem ser arrasadores
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As seguidas valorizações de ações da área tecnológica, impulsionadas pelo movimento da Inteligência Artificial (IA) neste ano, ligaram um alerta para especialistas do mercado de ações americano para o risco do surgimento da maior bolha econômica da história do mundo.
Analistas da Capital Economics afirmam que um estouro da “bolha” da IA poderia acabar com o desempenho do mercado acionário dos EUA.
A economia norte-americana vem apresentando uma recuperação superior ao restante do mundo no período pós-pandemia. Ao mesmo tempo, a elevada taxa de juros no país seria um fator limitante para o mercado financeiro.
Mas o surgimento de empresas de ponta no ramo de inteligência artificial conseguiu driblar — ainda que momentaneamente — o mau humor decorrente das taxas altas.
Contudo, o que era motivo de festa pode ter virado um calcanhar de Aquiles para as bolsas. Isso porque o mercado passou a ficar demasiadamente dependente de ações e empresas do ramo de IA. Caso a “bolha” estoure, ela pode levar os ganhos para o buraco.
Fundador e diretor da Universa Investments, Mark Spitznagel afirma que uma grande liquidação está se aproximando, na qual prevê que as ações tendem a perder mais da metade de seu valor atual.
“Acho que estamos a caminho de algo muito, muito ruim, a maior bolha da história humana” afirmou em uma entrevista ao The Wall Street Journal.
Segundo Spitznagel, o elevado endividamento público dos EUA e as seguidas valorizações das ações – o S&P 500 bateu mais de 30 recordes este ano - tornam mais difícil a ocorrência de um resgate liderado pelo governo americano, como aconteceu em 2008.
A despeito da desaceleração benigna da inflação, mantendo baixo o índice de desemprego e a atividade econômica em bom ritmo, Spitznagel despreza a crença no chamado “pouso suave” (redução da inflação com baixo custo para a sociedade) e diz que a economia dos EUA poderá entrar em recessão até o fim do ano.
Segundo ele, sinais da crise estão se aproximando. Ele observa que os cortes nas taxas de juros, esperados para terem início em setembro, são muitas vezes o ponto de partida para grandes reversões no mercado.
Outro indício, segundo ele, é a resistência na comunidade de investidores quanto a uma queda iminente.
Chips também entre os citados
As ações de semicondutores em todo o mundo estão “claramente em uma bolha” ou em um estado “semelhante ao de uma bolha”, de acordo com a maioria dos analistas de mercado ouvidos em uma pesquisa japonesa divulgada no início do mês.
A crescente demanda por IA generativa está elevando as expectativas para empresas de design de chips, fundições e outros players da indústria. No entanto, alguns estão preocupados com um superaquecimento do segmento.
Na pesquisa fesita pela Quick em julho, 9% dos entrevistados disseram que as ações de semicondutores estão “claramente em uma bolha”, enquanto 53% as descreveram como “semelhantes a uma bolha”, totalizando 62%. Já 32% disseram que as ações de semicondutores estão em um “nível razoável” e 6% as descreveram como “ainda subvalorizadas”.
Quando perguntados sobre o recente aumento no lançamento de fundos de investimento em semicondutores, 57% expressaram preocupação de que esses produtos estabelecidos em meio a um boom “possam comprar a preços altos”, e apenas 17% os saudaram como “oportunidades de investimento na revolução da IA”.
“As ações de chips têm subido rapidamente desde o início do ano, mas expectativas de crescimento apropriadas também estão sendo consideradas, então determinar se estão em uma bolha levará tempo”, disse o estrategista-chefe da Daiwa Securities, Hirokazu Kabeya.
“Alguns investidores estão vendendo ações recentemente para garantir lucros, mas a melhoria no equilíbrio entre oferta e demanda (de ações) e o aumento da demanda por IA generativa manterão a tendência de crescimento no segundo semestre”, previu Mutsumi Kagawa, estrategista-chefe global do Instituto de Pesquisa Econômica da Rakuten Securities.
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