Procura e disputa por vagas de estágio remunerado crescem
Estágios no Brasil crescem e se consolidam como porta de entrada essencial para a carreira dos jovens

O número de estagiários no Brasil cresceu em 54% no 1º bimestre deste ano em relação ao mesmo período em 2023, mostrando que a busca por oportunidades tem crescido em relação aos últimos anos.
Os dados são do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e coincidem com um levantamento da plataforma de empregos estudantis Handshake, que mostrou que o número médio de inscrições em vagas de estágio dobrou em relação a dois anos atrás, quando o interesse em estagiar havia sofrido uma retração, segundo especialistas do setor.
Um estágio não é mais sobre pegar um café para um chefão: ele é visto como uma maneira essencial de se destacar em um mercado já estressante. A maioria (72%) dos estudantes vê os estágios como uma forma de descobrir quais empregos desejam seguir e um “passo essencial” (59%) para entender seus objetivos de carreira — de acordo com a pesquisa da Handshake com mais de 6 mil estudantes e recém-formados.
Além disso, levantamento do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) mostra que 94% dos estudantes vêem o estágio como o caminho mais eficaz para conquistar espaço no mercado de trabalho.
O estudo expõe que jovens não apenas buscam experiência prática como diferencial competitivo, mas também dependem dessa oportunidade para seguir com os estudos.
Para muitos, o estágio remunerado representa uma política de permanência universitária.

“Muitos jovens precisam escolher entre estudar e trabalhar. Quando conseguem um estágio remunerado, conseguem seguir nos estudos, pagar parte da faculdade e ainda ajudar a família”, afirma Rodrigo Dib, superintendente institucional e de inovação do CIEE.
Os dados revelam ainda o perfil dessa nova geração que enxerga na prática profissional uma ponte real para o futuro: 56% dos universitários entrevistados são mulheres; 44% vivem na região Sudeste; 37% estudam em instituições privadas com apoio de bolsas de estudo. E boa parte desses estudantes tem no estágio a única forma viável de custear sua formação.
Para Dib, quanto antes o estágio entrar na trajetória do universitário, maiores são as chances de desenvolvimento profissional. Ele critica a exigência de experiência prévia para quem busca a primeira oportunidade.“Pedir experiência para quem busca o primeiro estágio é desvirtuar o próprio conceito do programa, que é dar experiência a quem não tem.”
Projeto de lei de estágio para formados
Tramita na Câmara Federal projeto de lei que autoriza a contratação de recém-formados, com até dois anos de conclusão de curso, como estagiários, alterando a Lei do Estágio, que hoje limita as vagas a estudantes. O autor, deputado Romero Rodrigues (Pode-PB), afirma que a proposta pode reduzir o desemprego entre jovens diplomados — grupo que, segundo o IBGE, teve 25% de desempregados entre 18 e 24 anos em 2023.
A medida permitiria aos recém-formados adquirir experiência prática e continuar estágios iniciados nos últimos semestres. O texto também retira a exigência de supervisão obrigatória por professor ou representante da empresa e prevê que o estágio possa ocorrer de forma presencial, remota ou híbrida. A proposta tramita em caráter conclusivo.
Trajetória

Atual Chief Support Officer (CSO) da Globalsys, Eduardo Glazar Júnior começou na empresa em janeiro de 2011, como estagiário, função que ocupou até 2013.
“Eu deixei a empresa ao final do período do estágio e retornei em 2018, inicialmente como assistente de infraestrutura, depois para analista de banco de dados, e a partir daí assumi funções de liderança até o cargo que ocupo atualmente”.
De estagiário a gerente

Tarley Rezende Secchin entrou na ArcelorMittal em 2000, para atuar como estagiário de Eletrotécnica. Acabou ficando, passou por inúmeras funções dentro da empresa, fez um curso superior de Engenharia Civil, um Mestrado em Engenharia Mecânica, e hoje é gerente-geral de Produção de Coque e Energia da Unidade Tubarão da empresa”.
Foi e voltou

Formado em administração, Caio Valença entrou na Invite Inc. como estagiário em 2015.
Passado o período do estágio, Valença passou por um intercâmbio na Austrália e por uma empresa de comércio exterior, antes de receber o convite para voltar à empresa onde começou a carreira, inicialmente como assistente de marketing e vendas e, atualmente, como gerente-geral de vendas.
Análise
“Experiência que agregue aprendizado”

“O estágio ainda é visto de forma bastante positiva pelos jovens, mas o cenário mudou. Hoje, não basta apenas cumprir horas obrigatórias: os estudantes querem experiências que realmente agreguem aprendizado, conexão com o mercado e desenvolvimento de competências.
Ao mesmo tempo, cresce o interesse pelo empreendedorismo e pela busca de projetos próprios. Muitos jovens conciliam o estágio com iniciativas digitais ou negócios paralelos. Esse movimento não significa que o estágio perdeu valor, mas que o jovem olha para ele de forma crítica.
Na minha visão, o estágio segue essencial como fase de experimentação e aprendizado prático, mas as empresas precisam repensar seus programas para serem atrativos: oferecer mentoria, cultura inclusiva, oportunidade de crescimento e conexão com os propósitos dessa nova geração. Só assim o estágio deixará de ser visto como uma obrigação e continuará sendo um instrumento de formação para carreiras sólidas.”
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