Inflação de alimentos no RS chega a 1,1%, supera média nacional e acende alerta
Números tem 342% de diferença em relação à média nacional
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Ainda que de forma incompleta, dados divulgados nesta terça-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) já mostram os efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul sobre os preços na região. Segundo especialistas, esse resultado coloca em atenção as próximas divulgações da inflação do país.
O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) registrou aceleração em maio em todo o Brasil para 0,44%. Em Porto Alegre (a pesquisa faz levantamento por capital), o ritmo de alta dos preços foi maior, 0,86%.
Enquanto os gastos com alimentação e bebidas subiram 0,26% no Brasil, em Porto Alegre saltaram 1,15%, ou seja, 342% de diferença em relação à média nacional. Nos transportes, enquanto a alta por todo o país foi de 0,77%, em Porto Alegre houve elevação de 2,40%, uma variação de 211%.
Também aferido pelo IBGE, o IPCA-15 difere da inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA, devido ao período de coleta, que ocorre entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Por ser publicado antes, o índice sinaliza uma tendência para a contagem oficial de preços do país.
No IPCA-15 de abril, quando o IBGE ainda não havia captado os efeitos da tragédia no Sul, que começou no dia 27 de abril, o grupo alimentação e bebidas registrou alta de 0,61% em Porto Alegre. Já o item transportes teve recuo de 1,99% nos preços.
Esses dados são apenas iniciais, e um panorama melhor dos preços na região com a tragédia poderá ser visto no IPCA de maio, que captará dados de todo o mês.
Pelo período de coleta, o IPCA-15 de maio captou apenas 30% dos preços sob o período mais duro do desastre das chuvas. Segundo o IBGE, 70% dos preços para a pesquisa já tinham sido coletados presencialmente até o dia 6 de maio, quando o órgão começou a realizar o levantamento de forma remota.
Ainda assim, o IBGE informou que nem todos os produtos puderam ser coletados por telefone ou pela internet, como foi o caso de algumas hortaliças e verduras. Ocorreu então a imputação dos dados, procedimento já previsto pelo instituto.
Segundo analistas, esses dados iniciais colocam em atenção a inflação de todo o país, já que há riscos de espalhamento da alta de preços.
"Chamou especialmente atenção a baixa inflação da alimentação no domicílio, pois, como consequência das chuvas no Rio Grande do Sul, havia temores que eventuais impactos altistas de preços já aparecessem nesta divulgação. Esses temores, no entanto, continuam para as próximas divulgações", diz o analista Rafael Costa, da BGC Liquidez.
Analistas do Itaú BBA reforçaram essa visão em relatório divulgado nesta terça. "Para a leitura do IPCA fechado de maio, existe alguma incerteza em relação ao impacto das enchentes no RS sobre os preços".
O economista Alexandre Maluf, da XP, por sua vez, lembra que já existe um impacto dos preços de alimentos em Porto Alegre sobre o índice cheio do IPCA-15.
"Alimentação no domicílio subiu 0,22% em maio e no Rio Grande do Sul subiu 1,48%, então a contribuição do estado para a alta nacional é mais ou menos a metade do que a gente viu."
Nesta segunda-feira (27), o governo federal publicou medidas provisórias aumentando para R$ 7,2 bilhões os recursos para importar até 1 milhão de toneladas de arroz, para elevar a oferta e conter a alta de preço, cuja liderança de produção (74%) é do Rio Grande do Sul.
As enchentes provocaram uma queda de 851 mil toneladas na safra de grãos no estado. Elas estão concentradas em arroz, soja e trigo, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
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