Importados diminuem preços, mas são ameaça a empregos no Brasil
Chegada de produtos importados aumenta a concorrência e deixa mercadorias em conta, mas coloca em risco a economia brasileira
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A “invasão” de produtos importados, vindos de países com custo de produção mais baixo e ajuda governamental aos produtores, como a China, tem trazido opções com preços mais baixos ao mercado. Mas empresários alertam que, ao mesmo tempo em que acirra a concorrência, essa situação ameaça empregos.
As indústrias de vestuário e siderúrgica sempre enfrentaram a concorrência da indústria chinesa, mas neste ano houve um aumento significativo na participação dos importados nos dois setores, que reivindicam medidas de proteção às fábricas do País e do Estado.
Isso inclui eletrônicos e automóveis, como híbridos e elétricos que chegam ao País pelo Terminal Portuário de Vila Velha. Com a economia chinesa crescendo menos, a indústria de lá aumenta as exportações, principalmente para países onde não há restrição e onde seus produtos são mais competitivos.
O economista Ricardo Paixão disse que, em alguns setores, o comércio digital vem se expandindo pela maior oferta de produtos e facilidade: “Um produto comprado da China, em poucos dias, chega à casa do consumidor, e sai mais em conta.”
O presidente do Conselho Regional de Economia no Estado (Corecon-ES), Claudeci Pereira Neto, disse que um dos motivos é que o País e o Estado exportam muitas commodities (matérias-primas) como minério, soja e milho, e importa os produtos industrializados, de maior valor agregado.
“Tem de haver uma política de governo de maior industrialização do País, para se ter condições de transformar a commodities. E tem de ter indústrias competitivas para não precisar importar.”
Ele disse que algumas empresas estrangeiras ainda não veem muitas vantagens de se instalar no Brasil e no Estado, pois os custos de produção são altos.
Com essa explosão de importações, com compras diretas no exterior, cabe um monitoramento do País, para não estar expondo setores da indústria a uma concorrência desleal, segundo Paixão. “É preciso saber a origem da produção desses produtos, se são países democráticos, que tenham um padrão de produção próximo do nosso, e respeite as leis de direitos humanos”.
Governo federal cita imposto entre medidas de proteção
Diante de pedidos de empresários e economistas, o governo federal disse que trabalha o tempo todo pelo aumento da competitividade da indústria do País.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), usam para isso os instrumentos cabíveis.
“Entre eles a calibragem do imposto de importação, os programas de compras públicas e os mecanismos de incentivos fiscais, que buscam estimular e fortalecer a produção nacional, respeitando acordos, regras e convenções internacionais de comércio”, disse em nota.
A pasta informou também que é um trabalho permanente que tem resultado em várias ações e decisões favoráveis à indústria brasileira. Citou como um dos exemplos a retomada, a partir do mês que vem, do imposto de importação para veículos eletrificados.
Nesse caso, foi estabelecida uma retomada gradual das alíquotas e cria cotas iniciais para importações com isenção até 2026.
Competitividade
O deputado federal e líder da bancada capixaba, Josias da Vitória, destacou que é preciso diálogo para construir medidas para preservar a indústria do aço, postos de trabalho e competitividade.
“Alguns produtos já tiveram antecipada a redução da tarifa de importação em setembro. Como nosso Estado tem nesse setor um grande gerador de empregos, a bancada está a disposição para participar desta construção”.
Efeitos da "invasão" de importados
Benefícios
Muito barato
É um dos principais motivos que têm levado brasileiros a preferir a compra de produtos importados, principalmente de origem asiática, com destaque para as compras on-line.
No setor de siderurgia, o aço que está entrando no País está barateando o preço do produto para o consumidor.
Entrega rápida
No caso de compras on-line, os prazos de entrega, que até pouco tempo atrás eram o principal empecilho para a compra de produtos de fora, vêm caindo drasticamente, com itens de Shein e AliExpress chegando em prazos de até 10 ou 15 dias — houve um tempo em que as entregas levavam literalmente meses para chegar.
Isso acontece porque as asiáticas já entendem o Brasil como um de seus principais mercados internacionais e passaram a investir pesado em vendedores locais, centros de distribuição e parceiros de entrega.
Quando se fala em importados chineses, antes as empresas enviavam as mercadorias por navios, o que há alguns anos é feito por aviões.
Desvantagens
Concorrência desleal e venda de produtos falsos
As companhias de varejo digital brasileiras, por exemplo, têm um discurso afinado – e afiado – para revidar a invasão das empresas asiáticas ao País. Elas dizem que as asiáticas estariam se aproveitando de brechas que lhes permitem vender aqui sem pagar impostos e mesmo comercializar produtos ilegais.
Queda no faturamento
No setor de vestuário, a importação de produtos de origem asiática, vindos principalmente da China, para o Estado, trouxe problemas não só para quem trabalhava na fabricação, mas mexeu também com outro lado desse setor, ou seja, com a venda de roupas e tecidos no varejo, com queda no faturamento dos lojistas nos últimos anos.
Ameaça aos empregos
No setor de vestuário, muitas empresas acabaram encolhendo e com isso demitindo trabalhadores.
No setor de siderurgia, empregos podem deixar de ser criados no Estado, caso o investimento no Laminador de Tiras a Frio (LTF) que está em análise para a unidade, seja adiado no ano que vem.
Em outros estados, algumas empresas já têm demitido ou falado em férias coletivas e paradas técnicas.
Dificuldades
Para a economia brasileira, não é tão bom, porque o País não consegue concorrer em alguns produtos, principalmente os de alta tecnologia que são importados: celulares, computadores, e automóveis em alguns casos, por exemplo.
Então, o Brasil tem dificuldades de concorrência com alguns países que tem um diferencial de competitividade melhor que aqui, pois o custo para se produzir lá é menor, mesmo com frete internacional.
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