Empresas procuram e não encontram profissionais para ganhar até 30 mil
A lei geral que trata do tema criou procura por profissional em função que não exige nível superior, mas para qual falta gente qualificada
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A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) criou a necessidade de as empresas contratarem funcionários especializados para atuar na proteção das informações. Com vagas sobrando e poucos profissionais especializados, os salários chegam a R$ 30 mil.
Segundo o coordenador regional da Associação Nacional dos Profissionais de Privacidade de Dados (Apdados), Wendel Babilon, falta pessoal para funções como DPOs (Data Protection Officer, ou oficiais de proteção de dados), no mercado.
“Eles estão em falta. É um tipo de trabalho que não exige nível superior, mas o profissional precisa ter familiaridade com legislação da área e com tecnologia da informação”, enfatizou.
Babilon cita que o 2º Encontro Estadual dos Profissionais de Proteção de Dados e Privacidade do Estado, que será realizado hoje, na sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em Vitória, buscará conscientizar as empresas sobre a necessidade desse tipo de profissional e da qualificação de sua formação.
O especialista em tecnologia da informação José Luiz da Silva Júnior detalha que esse tipo de profissional pode atuar em sistema de home office, que o possibilita a oportunidades de nível nacional.
“Não precisa ser formado em alguma área específica, mas tem de ter conhecimentos jurídicos e em tecnologia da informação. A remuneração pode chegar a R$ 30 mil”, confirmou o especialista.
O vice-coordenador regional da Apdados e especialista em Direito Digital Thiago Portugal explica que há cursos de qualificação, mas eles são caros e não são obrigatórios.
Isso, segundo ele, acaba levando as empresas a preferirem opções caseiras dentro do próprio setor jurídico, o que pode não ser adequado.
“A maioria das grandes empresas do Estado ou não tem esse funcionário ou até tem, mas ele acaba fazendo uma outra função também, o que acaba sendo prejudicial. Há quem opte por contratar consultorias terceirizadas. Hoje, dá para dizer que tem mais consultores trabalhando como DPO de forma terceirizada do que contratados pelas empresas.”
O advogado especialista em Direito Empresarial Gabriel Pimentel conta que seu escritório atua também como consultor de LGPD.
“Analisamos todos os fluxos de dados da empresa. Se ela lida com dados de clientes, entende-se o porquê precisa deles, que tipo de documento é solicitado, como são armazenados, quais os procedimentos de manutenção ou eliminação. A mesma análise é feita em relação aos dados de empregados.”
Estudos desde antes de virar lei
A advogada Lorraine Lamieri Cruz atua na área de compliance (conformidade com leis, normas e regras em relação às leis federais ou às políticas corporativas), e conta que, desde que o projeto da Lei Geral de Proteção de Dados estava em discussão, já estava estudando o assunto.
Além de sua atuação na área de compliance, ela também atua hoje como consultora de LGPD.
“Estive envolvida com algumas empresas que estavam se adaptando a essa realidade, e fui estudando sobre para me aproximar do segmento desde aquela época”.
Lei fez reduzir preocupação em fornecer informações
A preocupação dos brasileiros em compartilhar dados financeiros diminuiu nos últimos quatro anos, enquanto o open finance (compartilhamento autorizado de dados entre instituições financeiras) cresceu no País.
Segundo a pesquisa Open Finance Brasil, em 2021, 45,8% se preocupavam como tais informações seriam utilizadas. Em 2023, esse percentual caiu para 34%.
Em um comparativo entre 2021 e 2023, as quatro principais preocupações dos pesquisados sobre o open banking diminuíram.
Insegurança sobre crime financeiro caiu de 48% para 36%, em 2023; a forma como os dados serão usados também teve queda, saindo de 45,8% para 34%; o medo da perda do anonimato sobre os dados diminuiu de 43% para 29%; e a preocupação sobre falta de proteção dos dados reduziu de 41% para 28%.
O estudo mostrou que 49% dos clientes que conhecem a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) se sentem mais confortáveis para compartilhar informações.
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A advogada e consultora em LGPD Adrianne Lima explica que com a difusão e conscientização da LGPD, já se esperava que os brasileiros estivessem mais informados sobre seus direitos enquanto titulares de dados, incentivando práticas mais transparentes e seguras por parte das empresas.
O gerente de Open Finance na TecBan Rogério Melfi atribui essa queda da desconfiança no compartilhamento de dados a mais educação financeira por parte das pessoas e a entrada em vigor da LGPD. “As pessoas começaram a entender o que elas têm de direitos e deveres com a Lei de Proteção de Dados”.
SAIBA MAIS
O que é a função DPO?
> DPO é um acrônimo para o termo em inglês Data Protection Officer. Em tradução livre, significa encarregado de proteção de dados ou diretor de proteção de dados, conforme disposto na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sob o código 1421-35.
> Segundo a LGPD, DPO é a “pessoa indicada pelo controlador (responsável pelas decisões referentes ao tratamento de dados pessoais) e operador (quem faz o efetivo tratamento dos dados) para atuar como canal de comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD)”.
Atribuições
> Assegurar que as organizações operem em conformidade com normas nacionais e globais de proteção de dados.
> Propor as melhores práticas no que tange à coleta, armazenamento e tratamento de dados.
> Sugerir novos padrões, técnicas ou métodos mais seguros, de modo a preservar informações pessoais, confidenciais ou sensíveis.
Reportar queixas ou problemas relacionados ao uso indevido ou ao vazamento de dados.
Salário e home office
> Profissionais que atuam como DPO podem chegar a ter salário de até R$ 30 mil e podem atuar no sistema de teletrabalho, não se limitando a empresas no Estado mas também em todo o País e até no exterior.
> Salário médio: R$ 8 a 10 mil, para iniciante. Com qualificação na área, pode chegar a R$ 30 mil. Para consultor, R$ 5 a 10 mil (médio e grande porte), dependendo da complexidade e volume de trabalho.
> Conforme detalha a psicóloga Gisélia Freitas, diretora de Cultura, Liderança e Diversidade do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES), a maioria das empresas acaba por optar pela contratação de consultorias terceirizadas para o serviço, por conta da dificuldade em encontrar funcionários aptos para a função.
> Há ainda empresas que optam por deslocar funcionários de TI e do setor jurídico para a área. Neste caso, a Apdados tem atuado para conscientizar a necessidade de que esses profissionais passem por cursos específicos para serem qualificados.
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