Ter negócio próprio é saída para reduzir violência
Mulheres conseguem independência financeira e assim escapam das várias formas de agressões, entre elas, a doméstica
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Superar situações de violência montando o próprio negócio é a história de muitas mulheres empreendedoras. De acordo com dados da Pesquisa Anual sobre Empreendedorismo Feminino no Brasil, produzida pelo Instituto RME em parceria com o Instituto Locomotiva, divulgados pelo Sebrae, 48% das entrevistadas conseguiram terminar relacionamentos abusivos e até violentos ao abrirem sua empresa.
Elas conseguiram se libertar de cenários extremamente violentos, muitas vezes tiveram que deixar as próprias casas, resgataram a autoestima e estão hoje sustentando as famílias.
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Essa é a realidade de muitas empreendedoras que não revelam os nomes porque já tiveram as vidas marcadas pela violência.
O enfrentamento a todas as formas de violência contra a mulher é um dos eixos do Prêmio Elas, criado pela Secretaria Estadual das Mulheres, e que terá edital publicado no próximo dia 20.
Vítimas de violência, muitas tinham tudo para desistir. Mas elas deram a volta por cima com a ajuda de grupos de mulheres, projetos sociais e organizações não governamentais, onde aprenderam uma profissão, criaram cooperativas e até montaram pequenas empresas a partir dos conhecimentos adquiridos. A partir das reuniões e palestras dessas instituições, elas aprenderam a desenvolver as potencialidades, encontrando um meio de ganhar dinheiro.
O Projeto Mulher é uma dessas instituições que ajudam mulheres a se colocar no mercado de trabalho, valorizando seus conhecimentos e empoderando mulheres. “Elas conseguem entender que têm uma rede de apoio, que estamos aqui para somar na vida delas. Temos relatos de meninas que depois de participarem dos projetos, mudaram os comportamentos dentro de casa e assim modificaram as relações com os companheiros”, conta Glaucia Motta.
A gerente de Enfrentamento à Violência da Secretaria das Mulheres, Fabiana Malheiros, destaca a importância de conscientizar os empreendedores para que eles estejam cientes do impacto social de seus negócios e trabalhem ativamente para promover a igualdade de gênero e a segurança das mulheres nas comunidades e na sociedade como um todo.
O Prêmio Elas, segundo Fabiana, tem essa importância porque dá valor às instituições que são parceiras do Estado.
Depoimentos
"Difícil mapear a violência"
“A sociedade civil é parte crucial nesse processo de enfrentamento à violência, com participação ativa dos grupos sociais, para ajudar na política de prevenção à violência. O Prêmio Elas tem essa importância porque dá valor a essas instituições. Se a gente não tiver o apoio da sociedade civil, a gente não dá conta de diminuir os índices de violência, que acontece geralmente dentro de casa e por isso é difícil mapeá-la" - Fabiana Malheiros, gerente de Enfrentamento à Violência da Secretaria das Mulheres
"Amor-próprio"
'O Projeto Mulher busca incentivar a mulher a ter independência financeira através de cursos e oficinas. Direcionamos as mulheres para feiras e outros locais de venda de seus produtos. Buscamos mostrar a essas mulheres que elas precisam ter amor-próprio. Temos muitos casos em que elas viviam uma dependência emocional e muitas vezes situações de violência. Ao começarem a fazer parte do Projeto Mulher, mudaram a situação dentro de casa" - Glaucia Motta, Projeto Mulher
Saiba mais
Empreendedorismo e seu papel contra a violência feminina
Empoderamento econômico
Empreendedorismo oferece às mulheres a oportunidade de se tornarem financeiramente independentes. Isso pode ajudar as mulheres a escaparem de relacionamentos abusivos ou a tomar decisões que melhorem sua segurança pessoal.
Conscientização
Empreendedores podem usar seus negócios como plataformas para aumentar a conscientização sobre a violência contra a mulher. Isso pode incluir campanhas de conscientização, doações para organizações que combatem a violência doméstica e educação pública sobre o assunto.
Apoio a vítimas
Empreendedores podem criar negócios que ofereçam suporte direto às vítimas de violência, como abrigos seguros, serviços de aconselhamento, linhas diretas de ajuda e recursos jurídicos.
Capacitação
Programas de treinamento e capacitação empreendedora podem ser desenvolvidos especificamente para mulheres que foram vítimas de violência, ajudando-as a adquirir habilidades e confiança para reconstruir suas vidas.
Trabalho para empoderar a mulher
O empreendedorismo pode representar a porta de saída da violência doméstica enfrentada por muitas mulheres e uma força poderosa no enfrentamento à violência contra elas, proporcionando oportunidades econômicas, conscientização, apoio direto e soluções inovadoras.
Para Andrea Gama, gestora do Sebrae Delas, quando a mulher consegue sair de casa para empreender, se torna mais forte financeiramente e emocionalmente, porque cria outros laços de relacionamento e percebe que é capaz de viver sem a tutela do marido.
“Quando a mulher tem uma dependência financeira, está sempre isolada da família, do trabalho, dos amigos e quando alcança uma autonomia financeira, ela fica mais empoderada, mais informada, conhece novas pessoas e se sente mais forte para sair do relacionamento abusivo.
Recente pesquisa da Rede Mulher Empreendedora (RME) divulgada pelo Sebrae aponta que 72% das mulheres empreendedoras avaliam que são totalmente ou parcialmente independentes financeiramente, e 81% das consultadas concordam que empreendedoras têm mais autonomia na vida e, por isso, são mais independentes em suas relações conjugais.
Andrea Gama ressalta que o Sebrae/ES tem valorizado o empreendedorismo desde bem cedo, quando esse público feminino é ainda adolescente, nos cursos dados nas escolas.
“O programa Jovem Empreendedor começa desde a infância a valorizar e dar uma formação de base, criando uma geração de adultos com outra visão de mundo”, ressalta Andrea.
Apoios da sociedade organizada, assim como o realizado pelo Sebrae, ONGs e instituições ainda informais que atuam nas comunidades, são aliadas do poder público no enfrentamento à violência contra a mulher.
“O estado precisa do apoio da sociedade para reduzir os índices de violência e aumentar as oportunidades de trabalho”, defende a gerente de Enfrentamento à Violência da Secretaria das Mulheres, Fabiana Malheiros.
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