Como fugir das ciladas do call center do crime
Em um sofisticado esquema, bandidos se passam pela central de atendimento das instituições e entram em contato por telefone
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A sofisticação para aplicar golpes atingiu o ponto em que criminosos e até facções estão investindo em “call centers do crime” para aplicar o chamado golpe da falsa central telefônica.
Na fraude, uma pessoa entra em contato com a vítima fingindo ser funcionário do banco ou da empresa da qual ela é cliente. Em seguida, informa que sua conta foi invadida, clonada ou outro problema e, a partir daí, solicita os dados pessoais e financeiros da vítima.
Um detalhe que impressiona é a voz usada nas ligações: é gravada e idêntica à usada na verdadeira central de atendimento das instituições. E com a orientação para digitar um número e falar com um atendente, por exemplo, para questionar pagamentos.
Cliente de um banco que pediu para não ser identificado recebeu, em um único dia, mais de 10 ligações. Os números, aliás, eram todos semelhantes ao do consumidor.
As chamadas informavam sobre uma compra suspeita em uma loja virtual. Em uma delas, o cliente resolveu digitar a opção para falar com a atendente, mas não revelou sua identidade verdadeira, dando um nome falso. A falsa atendente desligou imediatamente.
Há casos em que o falso funcionário pede que a vítima ligue para central do banco, no número que aparece atrás do cartão, mas o fraudador fica na linha para simular o atendimento da central e pedir dados e a digitação da senha.
“Essas centrais conseguem se passar por qualquer número e se passar por bancos, familiares da vítima ou até o próprio número da vítima”, disse o professor da UCL e especialista em Segurança da Informação, João Paulo Chamon.
Para especialistas em segurança pública, a pandemia colaborou com o surgimento do “home office criminal”. E essa atuação está na mira da Polícia Civil, do Ministério Público e da Polícia Federal. Em São Paulo, 24 pessoas foram ser presas no início do mês por envolvimento neste tipo de golpe.
Os casos de estelionato ou fraude registrados pela Polícia Civil do Espírito Santo subiram: em 2019 eram 12.855, e em 2023 passaram para 37.536, superando a categoria “roubo a pessoa em via pública”.
A Febraban frisou que o banco nunca liga para o cliente pedindo senha nem dados do cartão.
Campeão em ligações indesejadas
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) busca medidas para evitar as ligações indesejadas, chamadas de spam. Segundo um estudo da associação, o Brasil é o campeão de chamadas do tipo.
Uma das propostas da Agência Nacional de Telecomunicações é a criação de um número único, de código 304, para a identificação dessas ligações.
Conforme o relatório da Anatel, o “Brasil se manteve na liderança de país com maior número de spams no mundo (por 4 anos seguidos), com 32,9 ligações de spam por usuário, por mês”.
A agência acrescenta que “existe uma significativa distância entre média de chamadas de spam recebidas no Brasil (32,9 chamadas por usuário, por mês) versus Peru (18,02 chamadas por usuário por mês), que se encontra na segunda posição”.
O levantamento também apurou que as ligações vinculadas aos sistemas financeiros são responsáveis por 44% de todo o spam, seguidas pelas vendas, com 39%.
As ligações de “golpes” somam 16,9%. No caso dos sistemas financeiros, além de bancos e empresas de cartões de crédito e seguros, também estão inclusas as agências de cobrança.
Golpe da falsa central de atendimento
Como é
O fraudador entra em contato com a vítima se passando por um falso funcionário do banco ou empresa com a qual ela tem um relacionamento ativo. Informa que sua conta foi invadida, clonada ou outro problema e, a partir daí, solicita os dados pessoais e financeiros da vítima.
E até mesmo pede para que ela ligue na central do banco, no número que aparece atrás do seu cartão, mas o fraudador continua na linha para simular o atendimento da central e pedir os dados da sua conta, dos seus cartões e, principalmente, a sua senha quando você a digitar.
Como evitar
Se receber esse tipo de contato, desconfie na hora. Desligue e entre em contato com a instituição através dos canais oficiais, de preferência usando o celular ou aplicativos móveis, para saber se algo aconteceu mesmo com sua conta.
O banco nunca liga para o cliente pedindo senha nem o número do cartão e também nunca liga para pedir para realizar uma transferência ou qualquer tipo de pagamento.
Fontes: Febraban e especialistas citados na reportagem.
INSS alerta aposentados sobre golpe da prova de vida
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) fez um alerta sobre a atuação de criminosos aplicando golpes envolvendo a prova de vida dos aposentados e pensionistas. A falsa abordagem se dá tanto por telefone quanto via mensagem. por SMS ou WhatsApp.
De acordo com o órgão, os golpistas têm se passado por atendentes da Previdência Social, falando sobre uma suposta necessidade de realizar o procedimento de forma digital, alegando que é uma nova modalidade adotada pelo INSS.
Eles pedem que o segurado confirme dados pessoais e bancários e solicitam o envio de uma foto atualizada e dos documentos digitalizados. Com as informações pessoais das vítimas, a execução da fraude financeira é facilitada.
Em comunicado, o INSS alertou que nunca entra em contato direto com a pessoa para solicitar dados nem pede o envio de fotos e documentos.
"A atitude preventiva e o monitoramento do CPF são sempre as melhores medidas para cuidar dos seus dados pessoais e manter um bom score de crédito na aposentadoria", diz o texto.
Análise
"Mais frequentes no fim do ano"
“Principalmente no fim do ano, esses golpes acabam por se intensificar. Há um volume maior de dinheiro circulando devido ao 13º estar disponível e muitos golpistas resolvem agir nessa época. A sofisticação é cada vez maior por parte dos estelionatários. A Anatel e os bancos, em especial a entidade representativa deles, a Febraban, precisam tomar medidas mais duras.
Os bancos precisam ter capacidade tecnológica para coibir esses ataques, além de desenvolverem campanhas mais fortes para alertar os clientes. Em casos de perdas de clientes por uma falha bancária, o banco terá de garantir a restituição. Há, ainda, a necessidade de uma ação ainda mais forte da segurança pública, que precisa seguir agindo para desarticular essas quadrilhas também precisa ocorrer”.
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