Cobrança na BR-262 sem praça de pedágio
Tecnologia com pórticos vai identificar quantos quilômetros o veículo rodou, sem necessidade de parar. O sistema é chamado de free flow
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A BR-262, que será incluída pelo governo federal em leilão de concessão “inteligente” terá pedágio cobrado por quilômetro rodado.
O sistema de pedágio free flow, como é chamado, funciona sem praças físicas, por meio de pórticos instalados nas rodovias. Eles leem a placa ou um chip (tag) nos veículos, segundo o governo.
O modelo de concessão prevê esse tipo de pedágio, com tarifa menor, em razão de custos reduzidos em comparação com exigências normalmente presentes em outros leilões. O motorista utiliza as rodovias sem precisar passar pelas barreiras físicas de pedágio, o que pode agilizar o trânsito.
Para as concessionárias, há expectativa de redução de custos no futuro com estrutura e contratação de pessoal para fazer a cobrança.
“O investimento é muito menor do que em um projeto tradicional, já que as obras não são tão complexas. Vamos atrair operadores de médio porte, que terão a oportunidade de ganhar experiência, musculatura e, futuramente, entrar nas concessões tradicionais”, disse o ministro dos Transportes em exercício George Santoro ao portal do governo.
“A ideia é ser uma concessão com poucos serviços agregados, com foco na melhoria do piso, na sinalização, resolvendo questões de segurança e pontos críticos”, explicou.
No último dia 21 de outubro, ao falar sobre os R$ 2,3 bilhões para investimento na B2-262 vindo da indenização pela tragédia em Mariana (MG), o governador Renato Casagrande explicou que são duas possibilidades de utilizar o recurso: repassar ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), já que se trata de uma rodovia federal – posição defendida por Casagrande – ou colocar esse recurso numa concessão, para essa fazer as obras.
A previsão é de que em julho do ano que vem o projeto básico da duplicação da BR-262 até Venda Nova do Imigrante vai estar pronto. Casagrande também falou que a BR-259 pode receber investimentos de valor da indenização.
Franco Bereta, presidente da Associação Empresarial de Colatina e Região (Assedic) disse que a BR-259 necessita de investimentos para comportar o tráfego atual. “Hoje demora três horas para ir até Vitória e tem muitos acidentes. A duplicação é muito mais simples do que da BR-262, por exemplo”.
Gasto de combustível menor e mais agilidade
No caso de transportes de carga, um levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Pagamento Automático para Mobilidade (Abepam) indica que um caminhão pode reduzir os gastos de combustível em até R$ 5 (cerca de 800 mililitros de diesel) por praça de pedágio, apenas por não precisar desacelerar, parar e acelerar o veículo para retomar a viagem.
“Essa economia vai muito além dos custos financeiros diretos, pois os motoristas não enfrentam filas nas praças de cobrança, o transporte se torna mais rápido e bem menos nocivo ao meio ambiente”, disse Diego Ros Quinto, vice-presidente da Abepam.
O coordenador do Comitê Jurídico-Regulatório da Abepam e head de relações institucionais do Sem Parar, Humberto Filho, disse que um dos efeitos da implementação da tecnologia será a redução do preço do pedágio aos motoristas.
“Hoje, com uma praça isolada no meio da estrada, é arrecadado o pedágio de cerca de 10 a 12% da base que transita na rodovia, uma pequena parcela. Agora, essa base pedagiada vai aumentar bastante, algo em torno de 50 a 60% dos motoristas que transitam por ali. Quando você cobra de mais gente, consegue abaixar o preço médio do pedágio”.
A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) foi procurada, mas não respondeu até o fechamento da edição.
Entenda
Rodovia no plano de concessão
Concessão “inteligente”
O governo federal vai incluir a BR-262, no trecho do Espírito Santo, em leilão de concessão junto com outras rodovias, sendo BR-393 (RJ), BR-356 e a rodovia estadual 240 (RJ), BR-242 (BA), BR-101 (BA), BR-040 (GO) e rodovias de Santa Catarina (ainda em definição).
As concessões têm previsão de serem feitas no segundo semestre do ano que vem. Para atrair os investidores, o governo quer facilitar esses acordos com redução das obrigações contratuais, demandando menos investimentos, e prometendo um retorno mais rápido.
Os contratos vão variar entre 10 e 20 anos, conforme a necessidade de investimentos. O volume de capital a ser empregado em cada rodovia ficará concentrado nos três primeiros anos. O concessionário teria como objetivo a manutenção da estrada, sem obrigação de investimentos em duplicação.
Pedágio free flow
O sistema de pedágio free flow cobra os motoristas apenas pela quilometragem percorrida. O free flow é um sistema de cobrança de pedágio que funciona sem praças físicas, por meio de pórticos instalados nas rodovias.
Utilizando adesivos (tags) instalados nos para-brisas dos veículos, o sistema elimina a necessidade de paradas nas praças de pedágio, agilizando o tempo de viagem e reduzindo congestionamentos. A tarifa é cobrada automaticamente, sem necessidade de interação do motorista.
O prazo de pagamento do pedágio é de 30 dias após o motorista passar pelo free flow. E as imagens capturadas do veículo são armazenadas nos sistemas por 90 dias. A cobrança também poderá ser feita a partir da placa do veículo.
Análise
“Vale pagar pedágio se estrutura for boa”
“A BR-262 é extremamente importante para o setor logístico, de transportes, além do turismo. O transporte rodoviário necessita muito dessa ligação com Minas Gerais, e hoje, por ser uma via muito sinuosa e estreita, a velocidade é muito baixa, faltando fluidez.
Precisamos de um ambiente melhor de passagem para o transporte de cargas e logística. Para nosso setor, um grande sonho é ter uma boa ligação com a região Centro-Oeste. A concessão é fundamental para nos ajudar, e vale pagar pedágio se tiver uma boa estrutura. O problema não é pagar o pedágio, se estiver tendo melhorias na rodovia”
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