China ameaça indústria de veículos brasileira, dizem montadoras
Competitividade foi apontada por executivos da Ford e da Volkswagen durante o evento Alacero Summit
Direto de Cartagena das Índias, Colômbia
A China se consolida como uma ameaça concreta à competitividade das montadoras latino-americanas, segundo declararam executivos da Ford e da Volkswagen durante o Alacero Summit, realizado em Cartagena das Índias, na Colômbia. As falas foram dadas em respostas a perguntas de Jorge Oliveira, presidente da ArcelorMittal Brasil e da Alacero, no evento para o qual a reportagem foi convidada.
Martín Galdeano, presidente da Ford Argentina, afirmou que a concorrência deve ocorrer com regras claras e ordenamento adequado. “O que incomoda é quando não se prepara o terreno para garantir competitividade. É preciso uma base sólida, e o primeiro pilar é justamente esse ordenamento”, disse. Ele destacou que investimentos precisam trazer tecnologia e modernização de processos, e que os acordos sindicais e a cadeia produtiva devem permitir que o produto automotivo latino-americano compita em grandes mercados globais.
Galadeano acrescentou que os governos têm papel central ao criar condições para exportação e competição global. “Cada país precisa permitir que as empresas latino-americanas saiam ao mundo com produtos e serviços competitivos, sem depender de um único polo produtor e evitando que outro país se torne hegemônico”, afirmou.
Para Alexander Seitz, presidente da Volkswagen na América do Sul, é essencial competir com regras equivalentes e aumentar investimentos em tecnologia, automação e eficiência. “Os chineses já alcançam cerca de 25% de participação em certos segmentos. Se investirmos em tecnologia, eficiência e conectividade, podemos equilibrar o jogo. É uma tarefa conjunta para continuarmos competitivos”, disse.
Seitz também ressaltou o impacto econômico e social do setor automotivo na região, citando que emprega cerca de 18 mil pessoas diretamente, mais de 30 mil fornecedores, e gera um volume anual de 5 a 6 bilhões de dólares, com mais de 100 mil empregos indiretos. “Além disso, traz novas tecnologias, eletrônica embarcada, automação e capacitação profissional. O setor automotivo é historicamente o coração da indústria em nossos países”, afirmou.
O alerta das montadoras evidencia que a presença chinesa no mercado global estimula investimentos estratégicos e pressiona governos a criar condições para garantir competitividade internacional.
Condições de trabalho e competitividade na China
Além da participação crescente no mercado global, a China se destaca por condições que aumentam a produtividade e reduzem custos unitários, segundo executivos do setor automotivo. Alexander Seitz, presidente da Volkswagen na América do Sul, detalhou os fatores que conferem vantagem competitiva às fábricas chinesas.
Ele citou que o governo chinês simplifica o sistema tributário e oferece apoio financeiro a investimentos, com juros de cerca de 4% ao ano. “O governo reduz custos fixos e incentiva o investimento, o que barateia o custo unitário dos produtos”, afirmou. Além disso, destacou que o custo logístico na China é menor e que políticas de incentivo estruturadas tornam o setor mais eficiente.
Seitz explicou que essas condições são determinantes para a competitividade internacional das empresas chinesas e que a indústria latino-americana precisa investir em automação, tecnologia e conectividade para se equilibrar frente ao avanço da China.
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