Ex-ministro defende fortalecimento da indústria de aço brasileira
As declarações foram dadas durante o Alacero Summit, maior evento da indústria siderúrgica da América Latina
O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy defendeu o fortalecimento da indústria siderúrgica como condição estratégica para o desenvolvimento do Brasil. Ele argumentou que, para um país que é um dos maiores produtores de minério de ferro do mundo, é essencial manter uma base industrial capaz de transformar essa riqueza natural em produtos de maior valor agregado.
Levy, que comandou o Ministério da Fazenda em 2015 e hoje é diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados, observou que a economia brasileira vem crescendo nos últimos anos, mas tem mostrado sinais de desaceleração nos meses recentes. Segundo ele, o país ainda enfrenta os efeitos do período inflacionário pós-pandemia e de uma política monetária restritiva, embora a atividade econômica continue avançando.
As declarações foram dadas durante o Alacero Summit, maior evento da indústria siderúrgica da América Latina, realizada em Cartagena das Índias, na Colômbia, para o qual a reportagem da Rede Tribuna foi convidada.
O ex-ministro destacou que o desempenho da siderurgia está diretamente ligado à vitalidade de setores como o automotivo e o de bens de capital. Quando esses segmentos crescem, a produção de aço acompanha o movimento; quando recuam, a atividade do setor também se retrai.
Levy alertou ainda para o avanço das importações indiretas de aço — quando o produto chega ao país incorporado a bens industrializados — e defendeu o equilíbrio entre a busca por menores custos ao consumidor e a necessidade de preservar a saúde do parque produtivo nacional.
Ele acrescentou que o governo precisa buscar estabilidade interna com diálogo e previsibilidade, enquanto o setor produtivo deve mostrar sua capilaridade social e econômica — como na cadeia da sucata, que envolve coleta, transporte e reaproveitamento em várias cidades.
Levy também defendeu maior coordenação internacional, especialmente por meio da OCDE, e afirmou que a integração latino-americana deve ser vista sob a ótica da segurança nacional, como instrumento para assegurar espaço à produção local e maior autonomia econômica regional.
INVASÃO
A América Latina vive um processo de desindustrialização agravado pelo aumento das importações de aço, especialmente da China, o que ameaça investimentos e empregos no setor siderúrgico. No Brasil, o presidente da Alacero e da ArcelorMittal Brasil, Jorge Oliveira, alertou que a concorrência desleal pode comprometer projetos como o de R$ 4 bilhões da unidade Tubarão, na Serra, que prevê a criação de 3 mil vagas.
De 2020 a 2025, as importações de aço cresceram 300%, três vezes acima da média histórica. Mesmo com uma leve redução recente, o nível ainda é considerado alto. O setor busca medidas de defesa comercial e antidumping para conter práticas predatórias e manter a competitividade regional.
Outros participantes do Alacero Summit 2025, como o colombiano Bruce Mac Master e o brasileiro Oliver Stuenkel, destacaram que a desindustrialização é um problema comum a toda a América Latina, que precisa fortalecer sua política industrial e ampliar a integração regional para evitar perda de relevância econômica e dependência externa.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Comentários