Brasil está na corrida pelo 6G
Novo modelo vai permitir controle instantâneo de trânsito, reduzindo risco de acidentes, e realização de cirurgias a distância com maior precisão
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A evolução da internet como nós conhecemos está mais próxima do que se imagina. Embora a implantação da rede 5G ainda engatinhe no Brasil, estudiosos já iniciaram as pesquisas para possibilitar a próxima geração da tecnologia de rede móvel: o 6G.
O Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), junto com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), mantida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), está prestes a inaugurar a terceira fase do projeto Brasil 6G, programa que reúne as pesquisas acadêmicas no tema.
Em conversa com a reportagem de A Tribuna, o coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da RNP e um dos responsáveis pelo projeto, Fernando Farias, explica que nessa próxima etapa será implementado o primeiro protótipo.
“Hoje a RNP tem um serviço de teste, onde a gente aloca certos recursos de computação, de rede, e nós estaremos alocando a parte de 6G nesses locais”, comenta.
Uma das principais aplicações dessa tecnologia, sendo inclusive foco das experimentações, é a construção de uma fazenda inteligente. A ideia é que, no lugar de utilizarem instrumentos analógicos e controlados por pessoas, elas sejam autogerenciáveis e autoprogramáveis por inteligência artificial.
“Será possível usar, por exemplo, drones que irão captar imagens, identificar características, monitorar animais, colher frutos, pulverizar agrotóxicos, funcionando de forma inteligente”, detalha.
O ponto-chave, no entanto, não está no equipamento, mas sim na possibilidade de eles conversarem entre si e com a internet praticamente em tempo real. Portanto, o grande avanço do 6G é o incremento na capacidade de transmissão de frequência eletromagnética e do tráfego de dados, que irá permitir os mais variados tipos de aplicações que prometem quebrar a barreira entre real e virtual.
Nessa esteira estão os conceitos de cidade inteligente, internet das coisas e internet dos sentidos.
“O 6G vai viabilizar a telepresença com sensores de tato e odor, permitindo a pessoa estar em qualquer ambiente, sentir um toque ou o cheiro de algo. Experiências sensoriais digitais semelhantes às que vivenciamos no mundo físico”, cita Farias.
Os pesquisadores preveem que o 6G comece a ser implementado socialmente em 2030, período previsto para a consolidação da tecnologia 5G, mas há a necessidade de outros avanços no período.
Preocupação com dilemas éticos
Realidade mais próxima do metaverso
Para o professor da unidade de Computação e Sistemas da Faesa, Otávio Lube, a previsão é que a realidade se aproxime cada vez mais do metaverso.
Segundo Lube, já é possível ver indícios dessa fase com a criação de equipamentos como os óculos inteligentes, por exemplo, protótipos do que podem ser os novos celulares.
Porém, o professor avalia que ainda estamos bem longe de algo essencial: a latência zero, ou seja, a transmissão de dados em tempo real. “Isso já era prometido no 5G. Mas a grande maioria das cidades não tem infraestrutura suficiente para comportar essas tecnologias”, afirma.
Lube ainda destaca os dilemas éticos sobre privacidade e segurança, que precisam ser mais discutidos.
Entenda
Pesquisa no Brasil
- O Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) anunciou em 2021 o início de pesquisas para o desenvolvimento da próxima geração da tecnologia de rede móvel: o 6G.
- O projeto é dividido em várias frentes de pesquisa, com colaboração de diferentes instituições de ensino, como universidades federais do Pará, Ceará, Goiás, Rio de Janeiro, Santa Catarina, além da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD).
- Na primeira fase, foram realizados estudos e levantamento bibliográfico do que já havia de conhecimento a respeito do 6G no mundo. Também foram elencadas arquiteturas e tecnologias que podem ser usadas.
- Na segunda fase, os pesquisadores fizeram a construção da ideia, dos ambientes que essa tecnologia pode ser utilizada e ações relacionadas ao 6G. Segundo o coordenador Fernando Farias, foi adotado como ambiente a chamada “fazenda inteligente”.
- Na terceira fase, a próxima que será implementada, será criado um ambiente de experimentação (um primeiro protótipo), expandido para regiões do Brasil. Farias diz que esses ambientes já existem e são montados e definidos a partir dos professores inseridos no projeto.
Fazenda inteligente 6G
- Nessa ideia, as plantações e o manejo de animais deixa de ter a interferência humana e passa a ser controlado inteiramente por inteligência artificial, com a utilização de aprendizado de máquina (ou “machine learning).
- Logística, comida, drones para capturas de imagem, realidade aumentada, colheita de frutas, medição de temperatura, regação automática, tudo escoando os dados sem fio, são algumas das aplicações elencadas pela pesquisa.
- Nesse projeto está aplicado o conceito de internet das coisas (IOT, na sigla em inglês). Ou seja, os objetos passam a estarem todos conectados à internet, recebendo e enviando dados a todo momento, instantaneamente, se comunicando com uma inteligência artificial em nuvem.
Presença à distância
- Outra aplicação do 6G é a implantação definitiva da telepresença, com a utilização sensorial da internet. Ou seja, além de texto, voz e imagem, os equipamentos seriam capazes de transmitir também sensações de forma fidedigna, com instantaneidade e muito semelhante à realidade.
- Segundo Fernando Farias, esse tipo de tecnologia precisa na ordem de 10 gigabits por segundo para trabalhar, o que não se consegue hoje com naturalidade no 5G. Esse, portanto, seria o grande diferencial.
Internet dos sentidos
- É a reunião das tecnologias visuais, auditivas, hápticas e outras que vão permitir que os seres humanos tenham experiências sensoriais digitais semelhantes às que vivenciamos no mundo físico.
- O conceito aprimora os sentidos além dos limites do corpos, proporcionando visão, audição, tato e olfato atraves de realidade aumentada.
- Com isso, a internet mescla experiências digitais multissensoriais com o ambiente local e interage com pessoas, dispositivos e robôs remotos como se estivessem ao lado.
- A inteligência artificial eleva essa experiência, criando “pessoas virtuais” muito parecidas com as reais, proporcionando a possibilidade de interagir sensorialmente com personagens criados — manualmente ou pela máquina.
Dificuldade na identificação
- Uma das barreiras para a implantação dos conceitos de cidade inteligente, internet das coisas e do próprio 6G é a resolução do problema do protocolo de identificação.
- Hoje, o protocolo utilizado permite uma geração de IPs (internet protocol) menor do que a imensa quantidade de dispositivos móveis existentes no mundo.
- Com isso, é mais difícil aumentar o número de equipamentos no mercado capazes de mandar ou receber comandos pela internet de forma individual, por exemplo.
- Atualmente, uma espécie de “gambiarra” é utilizada para possibilitar a identificação de equipamentos na rede mundial, mas com problemas.
- No inatel, uma outra pesquisa chamada “Nova Genesis” foi iniciada para buscar uma solução que não dependa apenas de IPs.
Fontes: Inatel, RNP e pesquisa AT.
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