Ambiente hostil é um dos desafios das mulheres no mercado de trabalho
Resultado de pesquisa apontou também diferença salarial entre homens e mulheres como desafio
Escute essa reportagem
Os ambientes considerados “hostis”, ou não cordiais, a ideias diferentes afetam mais a relação da mulher com o trabalho e a função que desempenha do que os homens nas mesmas condições.
É o que aponta o resultado de uma pesquisa publicado em janeiro na revista científica Harvard Business Review.
De acordo com o estudo, as mulheres se sentem mais pressionadas a ficarem em silêncio e não manifestarem opiniões quando acreditam que podem ser reprimidas por “comportamentos inapropriados ao gênero”, ou reação de gênero.
A pesquisa ouviu 3 mil homens e mulheres, divididos em grupos de trabalho “civilizados” — onde há um nível de respeito entre os gêneros — e os “não-civilizados”. Ambos realizaram uma tarefa de exposição de ideias.
O estudo sugere que as mulheres procuram pistas sobre se um determinado grupo é seguro para compartilhar os pensamentos.
“A incivilidade pode sinalizar um risco maior, suprimindo as contribuições das mulheres”, diz.
Para a psicóloga Maria Rita Sales Régis, especialista em Psicologia do Trabalho, essa falta de cordialidade no ambiente profissional não só pode ser vista no comportamento, mas também no próprio espaço físico.
“Muitas vezes, as instalações não são projetadas levando em conta a diversidade de corpos e necessidades, o que pode resultar em dificuldades de acesso e segurança”, comenta.
Em setores tradicionalmente masculinos, muitas mulheres também enfrentam preconceito e resistência, o que leva a um clima de isolamento, aponta Maria.
“Essa cultura pode desencorajar a participação feminina e criar um ambiente de trabalho que não valoriza ou respeita suas contribuições”, diz.
A presença de mulheres em cargos de alto risco, segundo a especialista, é uma conquista significativa, refletindo a luta por igualdade e a quebra de estereótipos de gênero.
No entanto, ela afirma que as empresas precisam investir na presentação feminina em cargos de liderança, em um esforço para não perpetuar a ideia de que esses espaços não são adequados para mulheres, o que cria um ciclo de exclusão.
Espírito Santo tem maior diferença salarial do País
A diferença salarial entre homens e mulheres no mercado de trabalho permanece sendo um desafio no Espírito Santo, mesmo quando se tratam de cargos de liderança e gestão.
O 2º Relatório de Transparência Salarial, elaborado pelos ministérios do Trabalho e Emprego (MTE) e das Mulheres e divulgado em 2024, aponta o Estado como o que tem a maior desigualdade salarial entre gêneros do País.
Analisando 988 empresas capixabas com 100 ou mais funcionários presentes no levantamento, a diferença de remuneração entre homens e mulheres em cargos de dirigentes e gerentes chegou a 30,8%, diz a pesquisa.
No Brasil, conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), diretoras e gerentes ganharam em média por mês R$ 6.798 em 2024, enquanto homens, nos mesmos cargos, R$ 10.126, uma diferença de R$ 3.328 mensais.
Por ano, esse valor equivale a R$ 40 mil a menos para elas.
O resultado reflete uma noção de superioridade masculina persistente nas relações de trabalho, segundo o professor de Economia Arlindo Villaschi.
“É o machismo estrutural. Precisamos conversar sobre isso, expor, discutir e as empresas terem uma conversa aberta com as funcionárias. São coisas da estrutura de poder econômica e social”.
No recorte por raça, o relatório também aponta diferenças alarmantes. As mulheres negras recebem, em média, 30,6% a menos que as não negras.
SAIBA MAIS
Desigualdade no Estado
> A maior desigualdade salarial no Brasil ocorre no Espírito Santo
29,25% das mulheres recebem menos do que os homens, segundo levantamento realizado pelos Ministérios do Trabalho (MTE) e da Mulher.
R$ 3.948,15 é a remuneração média dos homens no Estado.
R$ 2.793,41 é quanto recebem, em média, as mulheres no Estado.
42,2% das empresas possuem planos de cargos e salários, no Estado, segundo o levantamento.
36,6% têm políticas de incentivo à contratação de mulheres.
35,6% adotam políticas para promoção de mulheres a cargos de direção e gerência.
29,4% adotam incentivos para contratação de mulheres negras.
24% contam com a política de incentivo para a contratação de mulheres LGBTQIAP+.
Recorte racial
> No recorte por raça, o relatório aponta que o número de mulheres negras é superior ao de mulheres não negras nas empresas.
71.300 mulheres negras.
41.200 não negras.
> Contudo, mulheres negras recebem, em média, 30,6% a menos que as não negras.
> Entre os homens negros e não negros, a diferença de remuneração média é de 30,7%.
O que diz a lei
> Por força da lei, empresas com 100 ou mais empregados devem adotar medidas para garantir essa igualdade, incluindo transparência salarial, fiscalização contra discriminação, canais de denúncia, programas de diversidade e inclusão, e apoio à capacitação de mulheres.
> A lei foi a primeira iniciativa do Executivo no primeiro ano do governo Lula, encaminhada ao Congresso Nacional em março de 2023 e aprovada em junho daquele ano.
> Desde a aprovação da lei, essas empresas precisam informar, por meio de uma declaração, seus critérios remuneratórios e ações para promover diversidade e parentalidade compartilhada, por meio do Portal Emprega Brasil.
Fonte: Governo Federal
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários