157 mil jovens no ES não estudam e nem trabalham
Relatório nacional aponta dificuldade de pessoas entre 15 e 29 anos de sair do grupo “nem-nem” devido às desigualdades no País
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O Espírito Santo tem 157 mil jovens e adolescentes que estão sem estudar e sem trabalhar. O cenário atinge 17,9% da população com idade entre 15 e 29 anos.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua – Educação de 2023, divulgada no domingo (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os resultados mostram que a proporção de jovens sem trabalho e sem estudo está diminuindo no Estado, mas segue em patamar preocupante. Em 2019, 18,7% da população dessa faixa etária no Estado se encontravam nessa situação. Em 2022, caiu para 17,1%.
O relatório nacional destaca que a quantidade de jovens no grupo, conhecido como “nem-nem”, é consequência da dificuldade de combater desigualdades no País.
A coordenadora de divulgação do IBGE no Espírito Santo, Renata Coutinho Nunes, apontou que as mulheres formam o maior grupo da população sem trabalhar e sem estudar. “Apesar de uma redução nos últimos anos, quase um quarto da população feminina (23,4%) nessa faixa etária está nessa situação. Entre os homens, essa proporção é de 12,5%”.
A condição nem-nem é tratada pelos pesquisadores como reflexo da persistência das estruturas de desigualdades, que incidem sobre as estruturas de oportunidades, envolvendo as expectativas de sucesso e as condições de inserção no mercado de trabalho, mesmo que de forma precária.
É o que explica a doutora em Sociologia Política e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Manuela Blanc.
A socióloga aponta que, de acordo com estudos, o caráter estrutural do fenômeno nem-nem no Brasil é um dos elementos centrais da resistência à queda dos indicadores de desigualdade econômica e social.
“É um problema geracional e que se comporta segundo uma lógica interseccional de classe, raça e gênero. Entre as mulheres, a condição nem-nem é agravada pela dificuldade de permanência ou de reinserção no mercado de trabalho após o nascimento dos filhos, o que vale, também, para a educação”.
Obstáculos para conseguir emprego
Natural de Brasília, Lara Beatriz Costa, de 24 anos, morou durante um ano em São Paulo. Na cidade paulista começou a graduação de Administração, porém precisou trancar a faculdade e vir para o Espírito Santo, a fim de ter novas oportunidades.
Chegando em Vitória, no entanto, ela encontrou dificuldades para continuar na faculdade e ser contratada em um emprego.
A ex-estudante de Administração começou então a procurar por freelancer na área de bartender.
Segundo a brasiliense, é difícil encontrar emprego, principalmente por causa das tatuagens e piercing. “Atualmente, estou desempregada, mas procurando novas oportunidades. Está realmente difícil”.
Pnad
O módulo de Educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua analisa anualmente o analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade.
Além disso, divulga informações sobre o nível de instrução e número médio de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade, a taxa de escolarização por faixas etárias e a condição de estudo e ocupação das pessoas de 15 a 29 anos de idade, entre outros temas.
Alguns resultados
Sem trabalhar e sem estudar
- 17,9% das pessoas entre 15 e 29 anos no Estado não estavam trabalhando e nem estudando em 2023.
Por sexo
Entre homens: taxa aumentou de 12% para 12,5%, entre 2019 e 2023.
Entre mulheres: taxa caiu de 25,1% para 23,4%.
No País
No Brasil, a taxa de pessoas sem trabalho e sem estudo era de 19,8% em 2023.
Diferença no Estado entre 2019 e 2023 (ano/pessoas/%)
2019: 170 mil /18,7%
2023: 157 mil / 17,9%
Jovens estudando
- 24,9% dos jovens e adolescentes não estavam ocupadas, porém estudavam.
Jovens trabalhando
- 41,3% estavam ocupadas e não estudando.
Nível de escolaridade
Ensino Médio completo
2016: 28,1%
2023: 29,6%
Superior completo
2016: 14,7%
2023: 19,9%
Tempo de estudo
10 anos é a média de tempo de estudo de pessoas com mais de 25 anos no Espírito Santo.
Por cor ou raça
Pessoas de cor branca têm em média 10,6 anos de estudo. 9,5 anos é o tempo médio para de cor preta ou parda.
Taxa de escolarização (idade: Brasil / ES / Grande Vitória / Vitória)
De 0 a 3 anos: 38,7% / 33,2% / 35,9% / 58,9%
De 4 a 5 anos: 92,9% / 94,7% / 97,8% / 100%
De 6 a 14 anos: 99,4% / 99,8% / 99,9% / 100%
De 15 a 17 anos: 91,9% / 92,4% / 94,5% / 97,5%
De 18 a 24 anos: 30,5% / 32,6% / 38% / 54,2%
25 ou mais anos: 5% / 4,5% / 5,7% / 7,8%
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