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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

O escritor Raduan Nassar completa 90 anos

Aos 90 anos, Raduan Nassar segue eterno na literatura brasileira com sua obra singular

ANDRÉIA DELMASCHIO | 29/09/2025, 12:26 h | Atualizado em 29/09/2025, 12:26

Imagem ilustrativa da imagem O escritor Raduan Nassar completa 90 anos
Andréia Delmaschio é escritora, pesquisadora e professora titular de Literatura no Ifes. |  Foto: Divulgação

Toda vida é espetacular, à sua maneira. Toda vida, se bem escrita, daria uma bela biografia. Raduan Nassar, o escritor paulista, escreveu poucos (e magníficos) livros. Seu romance Lavoura arcaica, que virou filme, é considerado um dos melhores livros que a literatura brasileira já deu ao mundo.

A linguagem, feita de um lirismo despojado de adornos inúteis, se põe a serviço, ali, de um assunto espinhoso: o incesto. Ou, nas palavras do narrador, o mais puro e verdadeiro amor possível: o amor entre irmãos. Para saber que destino o autor dá aos irmãos André e Ana, é preciso ler o romance.

Digo apenas que ambos são fruto de uma família numerosa, em que cada membro exerce sua função numa rígida engrenagem moral que se apoia sobre o trabalho com a terra. O sistema familiar daquela lavoura arcaica tem de um lado a mão firme e a dura palavra disciplinadora do pai, e, do outro, o mel e o azeite com que a mãe, amorosa, alimenta e sua prole.

Hoje, Lavoura arcaica, cuja escrita se iniciou no distante ano de chumbo de 1968 e que foi publicado em 1975, é o livro que recomendo com mais entusiasmo, devido à atualidade (quem sabe à eternidade) da sua magia. E aconselho a que ele nunca seja lido depois de se ver o filme, mas sempre antes: é preciso dar uma chance ao cinema da nossa cabeça e não ler revendo sempre, contracenando, Selton Mello e Simone Spoladore, embora estejam esplêndidos no filme de Luiz Fernando Carvalho.

Filho de libaneses desembarcados no porto de Santos em 1920, Nassar nasceu em Pindorama, em 27 de novembro de 1935, sendo o sétimo dos dez filhos do casal, portanto completará, em breve, noventa anos. Desde cedo o menino Raduan mostrou grande apreço pelos animais, tendo criado, alternadamente, peixes, pombos, galinhas, coelhos e cabras. Em 1966, era presidente da Associação Brasileira de Criadores de Coelho. Abandonou os cursos de Letras e de Direito, formando-se em Filosofia, na USP, em 1963.

Em 1978 publica a novela Um copo de cólera, que também virou filme, e, em 1994, o conto “Menina a caminho”, todos eles grande sucesso de crítica, razão para a euforia com que sempre se aguardou a sua próxima obra. Desde a década de 1980, porém, Nassar já vinha afirmando o seu (surpreendente, para muitos) desinteresse pela produção literária. Ao mesmo tempo, voltava-se cada vez mais para o cultivo da terra. Numa entrevista, comparou: “Não há criação artística ou literária que valha uma criação de galinhas”.

Em 1984, Nassar declara publicamente a sua desistência do universo literário e muda-se para o campo. Em 2010, doa a sua fazenda Lagoa do Sino, em plena produtividade, para a Universidade Federal de São Carlos, indo morar na casinha do caseiro. A única condição posta por ele foi que o campus oferecesse aos moradores locais cursos gratuitos de Agronomia e o Meio Ambiente, desejo que segue sendo realizado.

Em 2016, Raduan Nassar foi laureado com o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa.

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