A maioria da minoria
Equidade racial precisa deixar novembro e virar compromisso permanente
Ser negro no Brasil ainda é, muitas vezes, viver sob o peso de uma desigualdade que insiste em se repetir. Somos a maioria da população — mais de 56% dos brasileiros se autodeclaram pretos ou pardos — e, ainda assim, continuamos sendo minoria nos espaços de decisão, poder e liderança. É o retrato de um país que avança, mas avança devagar demais quando o tema é equidade racial.
Os números são claros e incômodos. Entre 100 profissionais de tecnologia da informação, apenas 24 são pessoas negras. E embora as mulheres representem 29% da população brasileira, somente 3% delas ocupam cargos de liderança.
São dados que evidenciam o abismo entre o potencial do povo brasileiro e as oportunidades que de fato lhe são oferecidas.
Essa desigualdade também se expressa no que chamamos de “loteria do CEP” - uma metáfora cruel, mas real. O lugar onde nascemos, o bairro em que crescemos e as oportunidades de acesso à educação e ao trabalho ainda determinam as chances que teremos ao longo da vida.
No Brasil, a cor da pele e o CEP de origem seguem definindo o futuro de milhões de pessoas, independentemente de seu talento ou dedicação.
É verdade que já existem avanços. Temos hoje mais pessoas negras escolarizadas, menores taxas de analfabetismo e uma presença crescente em universidades, empresas e espaços de inovação.
Mas os indicadores ainda revelam uma mobilidade social baixa para a população negra, que precisa enfrentar múltiplas barreiras para chegar aonde outros chegam com mais facilidade. O progresso existe, mas segue distante do que deveria ser em um país que se quer justo e democrático.
Um país mais justo, com mais pessoas escolarizadas e com oportunidades distribuídas de forma equitativa, melhora para todos. Ganha a economia, ganha a sociedade, ganha o futuro. Investir em educação, equidade e diversidade racial não é um favor – é uma estratégia de desenvolvimento.
Por isso, o debate sobre a população negra não deve ser lembrado apenas no mês de novembro. Ele precisa ser um compromisso permanente, que oriente políticas públicas, decisões empresariais e práticas sociais durante todo o ano.
Falar de igualdade racial não é apenas reparar o passado – é investir no futuro.
O desenvolvimento econômico e social do Brasil depende de reconhecer e valorizar a potência da população negra que o constrói todos os dias.
Que novembro nos inspire, mas que o ano inteiro nos transforme.
Só assim construiremos um país onde o protagonismo negro não seja exceção, mas parte essencial do que somos – e do que ainda podemos ser.
MATÉRIAS RELACIONADAS: