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Tribuna Livre

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Colunista

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Os Estados Unidos são aqui

Artigo publicado na edição deste domingo (23), do jornal A Tribuna

Pedro Valls Feu Rosa, do jornal A Tribuna | 24/04/2023, 14:53 14:53 h | Atualizado em 24/04/2023, 14:53

Imagem ilustrativa da imagem Os Estados Unidos são aqui
Pedro Valls Feu Rosa, colunista do jornal A Tribuna |  Foto: Divulgação

Você já parou para meditar sobre os frequentes tiroteios acontecidos nos Estados Unidos? O tema ocupa vasto – e adequado – espaço no noticiário. Afinal, as vítimas são semelhantes nossos.

Decidi fazer um retrospecto histórico sobre as piores chacinas lá verificadas. No dia 16 de outubro de 1991, 22 pessoas morreram em um restaurante de Killen, no Texas. Aos 20 de abril de 1999, 12 estudantes e um professor foram assassinados a tiros em uma escola de Columbine.

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Chegamos a 16 de abril de 2007, quando um estudante coreano matou 32 pessoas na Universidade de Virginia. Uns dois anos depois, aos 5 de novembro de 2009, um psiquiatra matou 13 pessoas em Fort Hood, no Texas.

Nos idos de 2012, aos 20 de julho, um jovem assassinou 12 pessoas em um cinema de Aurora, Colorado. Naquele mesmo ano, no dia 14 de dezembro, um outro matou 26 pessoas na Escola de Sandy Hook, em Newtown (Colorado).

Encerra esta macabra relação o massacre do dia 2 de dezembro de 2015, quando dois elementos dispararam a esmo em um almoço de Natal realizado em San Bernardino, na Califórnia, deixando 14 mortos.

Decidi somar todas estas mortes. Cheguei a 181. Tradução: entre 1991 e 2016 as oito mais sangrentas chacinas acontecidas em solo norte-americano ceifaram 181 vidas.

A cada uma dessas chacinas o povo brasileiro, justificadamente chocado, solidarizou-se com a dor das vítimas e de suas famílias.

Enquanto isso, apenas em 2014, 58.559 seres humanos foram vítimas de homicídio no Brasil. Voltei à calculadora – constatei que por dia quase repetimos o total de mortes daquelas chacinas. São 160 contra 181! A cada dia quase alcançamos o que oito massacres levaram 25 anos para produzir!

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Aliás, efetivamente alcançamos esta marca em 2017, ano no qual foram assassinadas 65.602 pessoas neste pacífico país – ou 179,7 por dia.

Naqueles tempos constatou-se que 800.386 pessoas morreram por armas de fogo no Brasil entre 1980 e 2012. Que 10% dos homicídios do mundo acontecem no Brasil. Que a cada dez minutos uma pessoa é assassinada neste pacífico país. Que o custo da violência consome 5,4% do PIB brasileiro.

Foram feitas algumas comparações incômodas: temos uma taxa de 271 homicídios para cada 100 mil brasileiros – um número 274 vezes maior do que em Hong Kong, 137 vezes maior do que na Inglaterra e 91 vezes maior do que na Sérvia. Disseram que na guerra da Síria morrem cerca de 60 mil pessoas por ano – e no Brasil 58 mil foram mortas em 2015.

O mais incrível é que aqui fuzis militares e equipamentos de guerra não são vendidos quase que livremente, como ocorre lá nos EUA.

Tente, agora, conversar com alguém sobre estes dados. Na esmagadora maioria das vezes o diálogo será interrompido e seu interlocutor tentará, polidamente, desviá-lo para temas menos desagradáveis – afinal, definir o nosso pacífico país como uma terra de chacinas diárias agride o falso patriotismo de alguns tantos que preferem, enrolados na bandeira nacional, com muito orgulho e com muito amor, sonhar com um progresso que jamais virá sem ordem.

Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo

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