Jaraguá e um pouco da cultura capixaba nos Estados Unidos
Coluna publicada na edição dessa sexta-feira (28), do jornal A Tribuna
Após um período de intercâmbio como pesquisador nos Estados Unidos, durante o qual muitas vezes me peguei comparando os nossos costumes e os deles, tive a alegria de vivenciar, no último dia 19 de abril, a “Brazil Experience: Live Music and Traditional Brazilian Food”, uma festa de música e culinária brasileiras na cidade de Tallahasse, capital da Flórida.
O cenário foi o aprazível Goodwood Museum & Garden, uma antiga plantação que foi convertida em um memorial para recordar as pessoas escravizadas naquela propriedade. Um sítio memorial permanente ao ar livre, em uma área de meio hectare adornada com vários grandes carvalhos e flores.
A atração que se apresentava chamou minha atenção pelo nome: “Grupo Jaraguá”. Trata-se de um grupo da Faculdade de Música da Universidade Estadual da Flórida dirigido pelo Professor Panayotis “Paddy” League. Paddy é o apelido que encurta o nome grego para uma sonoridade mais irlandesa do professor aficionado pela cultura brasileira, que desenvolve, inclusive, pesquisa a respeito do nosso forró.
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O repertório do “Jaraguá” ia do samba à bossa-nova, passando por forró, maracatu e algumas cantigas folclóricas. Tudo perfeito para os saudosos brasileiros em terra norte-americana se sentirem em casa e, claro, uma oportunidade de ver os americanos vivenciando a nossa cultura.
No final do evento, não me contive e procurei o maestro. Perguntei qual era a razão da escolha da música popular brasileira e o que motivou o nome “Jaraguá”. Ele explicou que estudava a nossa cultura musical e que faz pesquisas in loco no Nordeste brasileiro. Quanto ao nome “Jaraguá”, disse que se trata de uma referência à música de Jackson do Pandeiro.
Eu, como bom capixaba, contei ao professor americano a respeito do “Jaraguá” na cidade de Anchieta, mostrando o vídeo no YouTube que trata da nossa cultura e no qual aparecem José Luiz, Seu Decinho e Dona Mulata, entre tantos baluartes da cultura local. Tentei descrever um pouco da história.
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“Lá vem, lá vem Jaraguá / Corpo de gente e cabeça de animá! Ô Lelê minha mãe tá me chamando / Diz a ela que agora eu tô brincando!”
Falei também do Congo de São Benedito, de Anchieta a Barra do Jucu, Serra e São Mateus, e dos nossos instrumentos, especialmente a “casaca”. Citei ainda o famoso “forró de Itaúnas”. O professor ficou encantado com a riqueza da nossa cultura. Como diz um versinho do nosso congo: “Você vai à Penha? Me leva, ô, me leva.”
Quem sabe a cultura capixaba não passe a constar do repertório de estudiosos de outros países? Seria um lindo intercâmbio. Cidades de Sul a Norte do Espírito Santo têm muita riqueza cultural para mostrar.
Pelo visto, Tallahasse, que, inclusive, significa Vila Velha, tem muito mais de conexão com o Espírito Santo do que só o nome da cidade. “Minha mãe tá me chamando, eu não sei pra que será, é pra ver o Boi Estrela lá no meio do araçá”.
Luiz Henrique Alochio é advogado, doutor em Direito e pesquisador visitante na Florida State University
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