A tradicional Festa da Penha
Coluna publicada na edição desta sexta-feira, do jornal A Tribuna
Em 1630, Bula Papal de Urbano Vlll proclama Nossa Senhora da Penha padroeira do Espírito Santo. O povo dizia: “Vamos na igreja que fica na penha”, dando o nome à santa (penha significa pedra). Os freis são franciscanos, como era Frei Pedro Palácios, fundador do Convento. Na Igreja do Convento, ladeada de anjos e querubins está a imagem da santa. É por ela que milhares de fiéis vão ao Convento. É atração turística.
Em 2019 pelo Estado foi designada Data Magna e Feriado Estadual o Dia de Nossa Senhora da Penha. O maior evento religioso do Estado (neste ano a 453ª edição) em dezembro de 2022 foi declarado patrimônio cultural do Espírito Santo.
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A celebração da Festa da Penha começou no domingo de Páscoa (9 de abril). Amanhã, dia 15, Romaria dos Homens (a primeira foi em 1955). Domingo, dia 16, Romaria das Mulheres. Segunda-feira, dia 17 (feriado) Missa de Encerramento.
Título da música-tema desse ano: “Virgem da Penha nos ensina a Servir”, autor Frei Lucas Moreira (jovem capixaba devoto de Nossa Senhora das Alegrias); interpretada pelos Freis Paulo César Ferreira da Silva, Felipe Carretta e o próprio Lucas Moreira e a artista Roselene Gonçalves da Silva dos Santos (integra a comissão de gravações do Hinário Litúrgico da CNBB). Artistas capixabas fazem questão de também render louvores a Nossa Senhora.
Quando criança eu passava os fins de semana na casa de meus avós maternos, em Jucutuquara. Com 6 anos em 1946, o leite era vendido na carrocinha, minha tia todo dia, logo cedo, ia com o litro de vidro comprar. Um dia, eu ia com ela, pedi para levar o litro, deixou. O cachorro alto, muito forte, de minha avó pulou a cerca, caiu em cima de mim. O litro quebrou, cortou meu pulso, quase decepando minha mão direita.
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Fui levado às pressas ao hospital, o médico falou que deveria amputar meu braço. Vovó, católica devota, afirmou: “Opere. Nossa Senhora da Penha salvará meu netinho”. A cirurgia foi um sucesso, só deixou a cicatriz. Quando fiquei bem, fomos ao Convento e ela deixou cópia em gesso de meu braço na Sala dos Milagres.
Participei de várias romarias, principalmente no início da década de 1960, quanto residia em Santo Antônio, bairro muito católico, graças ao eficiente trabalho dos padres pavonianos, italianos que inclusive construíram o Santuário, agora Basílica.
Eu era adolescente, eu e meu melhor amigo, muito brincalhão, fomos à romaria, assistimos à missa, fizemos nossas orações. Na descida do Convento, dia já claro, ele falou: “Frei, tá gastando energia à toa. Desliga as lâmpadas”. Na hora, foram apagadas. Ele riu e falou comigo: “Viu como tenho prestígio com os freis? Fui atendido na hora”. Poucos meses depois, ele faleceu afogado.
No ano seguinte, fui com outro amigo. No início da ladeira, ele se ajoelhou e subiu de joelhos. Calça nova rasgada, joelhos sangrando, levantou-se, assistimos à missa, comungamos. Não disse por que agiu assim, também não perguntei.
Aldo José Barroca é escritor e professor aposentado
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