A influência da coordenação motora no aprendizado escolar
Corpo e mente devem ser trabalhados de forma conjunta desde os primeiros anos de vida
O uso de desenhos e objetos coloridos para brincar, se movimentar e interagir é muito comum, principalmente nos primeiros anos de vida, quando a criança está aprendendo a andar e falando as primeiras palavras. Mas a prática aparentemente simplória pode proporcionar vários benefícios para o aprendizado escolar ao longo dos anos.
Uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Inovações Educacionais e Estudos Neuropsicopedagógicos Censupeg, do Rio de Janeiro, comprovou que a associação das diferentes partes do corpo com imagens e cores em atividades lúdicas estimula a coordenação motora e pode ser uma proposta de Intervenção Ludomotora Neuropsicopedagógica (ILN).
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O estudo, publicado no International Journal of Health Sciences, periódico da área de saúde reconhecido internacionalmente, realizou testes em 102 crianças entre 7 e 8 anos, de ambos os sexos, com e sem dificuldades comprovadas de aprendizagem. Cada uma delas passou por 36 sessões de atividades com duração de dez minutos, três vezes por semana.
Os resultados mostraram que a prática de exercícios divertidos que implicam em movimento e deslocamento melhoram a fala, a leitura, a interpretação de textos e até a realização de operações matemáticas, sobretudo em crianças com dificuldades de aprendizagem. É necessário, no entanto, respeitar a maturidade biológica de cada indivíduo e evitar a sobrecarga nos exercícios.
Pesquisas como essa reforçam a tese de que corpo e mente têm relação direta. Um corpo ágil, trabalhado e bem coordenado possibilita uma mente mais saudável, o que vai impactar positivamente o aprendizado da criança. Sem ter uma noção do próprio corpo, ela pode apresentar dificuldades até para segurar um lápis e escrever as primeiras palavras.
A escola é o primeiro espaço de socialização da criança. Quem é bem coordenado é mais acolhido e aceito naquele e, consequentemente, em outros ambientes sociais. Por outro lado, os que possuem poucas habilidades motoras tropeçam, se envolvem em acidentes e esbarram constantemente nos amigos, o que acaba gerando atos de rejeição, como ser escolhido por último para jogar em um time. Isso tudo pode destruir a autoconfiança e autoestima.
Diante desse contexto, é fundamental incentivar atividades que explorem cores, imagens e diferentes partes do corpo para estimular e trabalhar as funções cognitivas (atenção, memória, percepção e linguagem) e a motorização.
Jogos e brincadeiras podem cumprir essa missão, até mesmo os mais simples, como a “estátua”. Nesse exercício, a criança precisa ficar parada até segunda ordem, o que trabalha seu controle inibitório, ou seja, a habilidade de frear a impulsividade a partir do raciocínio.
Uma criança descoordenada, com motricidade comprometida, pode se transformar em um adulto com autoestima baixa, o que pode causar impactos negativos na sua vida profissional e afetiva. Por isso, corpo e mente devem ser trabalhados de forma conjunta e não independente desde os primeiros anos de vida.
Lu Braga é neuropsicopedagoga, psicomotricista e educadora física
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